Capítulo 1- Josh

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Mais uma vez caminhando pelas ruas movimentadas de St. Abert. Sem caminho ou direção certa para seguir. Minhas mãos enfiadas nos bolsos do casaco não paracem se aquecer.

Final do inverno, poderia ser um pouco mais quente para podermos ter uma expectativa da primavera. Época das flores que me causam náuseas, pela quantidade absurda de cores em todas as partes.

Já entreguei todos os currículos que estavam em minhas mãos, ainda tenho esperança que em algum dia, alguém vai notar que mereço ter a chance de mostrar que sou capaz de um trabalho fixo.

Não gosto da fama que a cidade me deu, tenho meus vícios e gosto de sustentá-los algumas vezes. Mas não é certo eles me julgarem pelas vezes que extravaguei na quantidade das drogas ou das bebidas. Foram só momentos difíceis em uma época onde tudo deu errado.

Chuto a neve ainda não descongelada quando me apoio em uma parede, procurando deixar uma boa quantidade de ar entrar nos meus pulmões, para poder caminhar de volta para minha casa.

Minha mãe vai estar me esperando com alguma comida no forno, meu pai provavelmente vai estar sentado na sala lendo seu imenso jornal do dia. Meu irmão vai estar estudando para faculdade que felizmente passou, e a bebê, bom ela vai fazer a única coisa que pode: dormir até sentir fome.

Faculdade é uma palavra que faz meu corpo tremer. Tantos sonhos para um dia entrar nela jogados no lixo. Mas como todos me diziam, não sou capaz de entrar em uma quando não posso nem ao menos parar meu vício.

Fui covarde por não tentando, sei mais coisas para fazer uma faculdade do que muitas pessoas que realmente estão nelas. Mas teria a probabilidades de não passar, e só comprovaria que literalmente não posso estar em algo tão importante.

Compreendo quando me insultam na rua dizendo que jamais serei amado de verdade, ainda não entendo como minha família é capaz de dizer aquelas três palavras a mim, quando a única coisa que faço é manchar a imagem deles. Não sou digno do amor que eles me dão, e pareço ser ingrato a quantidade de coisas que fazem por mim.

Noah diz que amar alguém é algo incrível, poder demostrar carinho é uma coisa maravilhosa, mas ele está mentindo.

As pessoas que diziam serem meus melhores amigos, enfiavam facas na minha costa quando me virava. Eu os amava como se fossem meus irmãos.

A garota com quem eu namorei por quatro anos entregando flores em todos os encontros, dando abraços apertados em momentos desesperadores e sorrindo para ela como um idiota apaixonado. Me traiu na minha frente, dizendo que eu precisava ver que nunca seria amado de verdade. Eu a amava como se fosse minha vida.

Meus pais me dão tudo que necessito, ainda me deixam morar sobre o teto deles mesmo tendo vinte e um anos, não me julgam quando chego a noite tropeçando nos meus próprios pés. Mas é tão errado dizer que amo eles quando na verdade, pego coisas escondidas da casa para conseguir dinheiro. Eu sou um mostro em forma de humano.

- Desculpa incomodar você.- uma moça falou receosa bem longe do meu corpo- Não quero parecer grossa, mas você poderia sair da frente da minha loja? Tem alguns clientes querendo sair, mas estão com medo.

Olhei para cima vendo a placa piscando "Perfumaria da Judy". Nunca machuquei ninguém, nem ao menos encostei em alguém para que tenham medo.

- Perdão, não queria incomodar você nem seus clientes. Só parei para respirar um pouco, já estou saindo.- murmuro desencostando da parede.

- Você não vai gritar comigo?- pergunta aliviada.

- Nunca gritei com ninguém, Judy.- seus olhos se abriram em espanto.

De repente... Você!Onde histórias criam vida. Descubra agora