Vem Comigo

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Embaladas pela linda noite, Bianca e Rafaella estavam ficando próximas e cada vez mais conectadas. Elas faziam parte de algo único, que parecia estar apenas começando. Um sentimento que crescia, como uma semente imersa sobre a terra molhada, transformando-se aos poucos para criar raízes e fazer frutos.
Bianca colocava a mesa com todo cuidado, querendo que cada coisa estivesse em seu lugar. Enquanto Rafaella estava no convés vendo a imensidão do mar, talvez imersa em pensamentos, ela tentava não pensar. Tentava pela primeira vez se permitir ir além da racionalidade. Estava disposta a isso. Disposta a ir contra seus conceitos, sua personalidade. Disposta ir contra tudo que sempre acreditou, mas sem perder a si mesma no processo.

Subiu ao convés e viu Rafaella em silêncio, olhando as estrelas imóvel e calada. Era nítido, como a matemática, que ela estava longe, com o pensamento em algum lugar perdido, talvez tentando se encontrar de alguma forma.

- Um beijo pelos seus pensamentos... Bianca aproximou-se. Rafaella a encarou, sem sorrir, sem nada dizer.

- Desculpe.

- Pelo que?

- Por estar aqui pensando e não lá embaixo te ajudando a pôr o jantar...

- Sou capaz de colocar a mesa sozinha senhorita! Bia deu um meio sorriso, com a expressão 'cheia de si' e arrancou um largo sorriso da mulher a sua frente.

- Tenho certeza que é...

- O que te preocupa?

- Nada... Rafaella baixou os olhos,
envergonhada.

- Fala... Bia disse com a voz doce, elevando o rosto de Rafaella, para olhá-la.

- Eu quero muito mergulhar de cabeça nisso tudo, mas tem uma parte de mim que resiste a isso. Tenho uma grande cicatriz Bia, que ainda sangra... entende?

- Claro. Eu sei muito bem o que é ter cicatrizes que sangram o tempo todo.

- A vida é tão difícil as vezes, com tantas sombras, que é difícil aceitar o sol quando ele vem... Porque quando temos cicatrizes profundas, tem uma voz na nossa cabeça dizendo "E se não for o sol, e se for apenas um raio de luz?"
Bia aproximou-se de Rafa e segurou seu rosto com as mãos delicadamente. Seus olhares se fundiram e havia um intenso brilho neles, como se lessem a alma uma da outra. O coração de Rafaella pulou no peito e o de Bianca respondeu avidamente.

- Não sou a melhor pessoa do mundo, Rafaella. E talvez, não seja mesmo a pessoa certa. Estou tão perdida quanto você.

- E o que acha que devemos fazer?

- Talvez viver seja mais do que sempre esperar feixes de luz, ao invés de buscar o sol. Talvez nós mereçamos mais que isso... Mais do que viver nas sombras...

- Talvez sim... Rafaella olhou no fundo dos olhos de Bianca e havia verdadeira esperança em suas palavras.
Bianca aproximou seu corpo do dela e ainda lhe segurando o rosto, colocou uma mecha que saia de seu coque para trás de sua orelha. Viu quando Rafaela fechou os olhos e achou que ela parecia um anjo sereno.

- Sou extremamente racional Rafa, e não sei lidar com emoções. Mas estou disposta a ver que sensações são essas que você me faz sentir.

Foi quando seus lábios se uniram novamente, sob os feixes de luz que saiam das estrelas do céu. Os lábios unidos em um só, as línguas tocando-se com delicadeza, como se acarinhassem uma a outra. Rafaella segurou a cintura de Bianca que ainda mantinha seu rosto entre as mãos, enquanto o beijo se estendia em sentimentos ainda novos, mais que pareciam estar apenas começando a desabrochar.

Bianca teve enorme desejo de segurar Rafaella no colo e leva-la até a suíte do barco, mas sabia que se fosse apenas desejo o que ela sentia, podia magoar aquela mulher tão especial. Pela primeira vez, enquanto a beijava, teve certeza que se importava com ela. Que não podia magoá-la.

- Rafa, vamos dar um passo de cada vez. De feixe em feixe, quem sabe não fazemos
nosso próprio sol?

- Acha mesmo isso?

- Apesar da minha exatidão matemática, eu sei que o infinito existe. Sorriu.
Rafaella sorriu de volta enquanto se olhavam.

- Está bem. Eu aceito Bia.

- Há qualquer momento, se não for bom para nós, paramos. Ok?

- Ok.

- Está com fome?

- Morrendo...

Bianca pegou Rafaella pela mão, e desceram a escada em direção a sala de jantar. Mas antes que Rafa entrasse, Bia cobriu seus olhos com mãos, arrancando risadas dela. Foi guiando a loira pelo corredor, até que chegaram a mesa de jantar.

- Pode abrir os seus lindos olhos verdes... Bia disse enquanto tirava a mão dos
olhos de Rafa.

Quando Rafaella finalmente olhou a sala de jantar, abriu a boca em espanto, com uma expressão de quem estava admirada. Haviam velas por toda sala, que estava a meia luz e a mesa tinha algumas pétalas vermelhas. O aroma do incenso suave que estava acesso e um cheiro delicioso de comida invadiu suas narinas.

- Você é mais do que capaz de pôr a
mesa!

Bia sorriu vitoriosa e puxou a cadeira para que Rafaella sentasse. Ela sorriu e sentou em seguida. Bianca deu a volta e após sentar- se de frente para ela, puxou as tampas de prata que cobriam os pratos.

- Ravióli de frutos do mar... Gosta?

- Adoro!

Bianca estendeu a mão sobre a mesa para que Rafaella a segurasse. Quando ela o fez, Bianca acariciou seus dedos com a ponta dos seus, e elas se olharam sem precisar dizer nada.

- Está tudo perfeito Bia, obrigada.

- Não por isso. Mas aceito um beijo de recompensa após o jantar.

Bia inclinou o corpo e beijou o dorso da mão de Rafaella delicadamente. Quando subiu os olhos viu seu perfeito sorriso iluminando a mesa, mais do que todas as velas que estavam acesas. As bochechas coradas e os lábios rosados. A perfeita visão do paraíso.

Elas comeram e conversaram distraídas, entre sorrisos e histórias cotidianas. Mas nenhuma das duas tocou no passado, nem falaram das cicatrizes que sangravam. Preferiram pensar que elas estavam curadas, pelo menos naquele momento. Deixar aquela afinidade crescer, deixar que a semente desse sentimento que chamam de amor, tentasse criar raízes em corações maltratados, mas ao mesmo tempo repletos de esperanças.

CAMINHOS DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora