Hora da Verdade

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POV BIANCA

Minha vida havia mudado tanto em dois meses que era praticamente inacreditável que todos esses acontecimentos estavam me levando a desfazer a única coisa da qual eu tinha certeza nos dois últimos anos de minha vida, amorosamente falando. Eu estava indo terminar meu noivado, que até dois meses atrás, era algo que certamente não passaria pela minha cabeça.

Dirigir sempre me fez pensar e nunca foi um problema porque eu conseguia viajar em minha própria mente e prestar atenção no transito ao mesmo tempo. Costumava até falar sozinha as vezes. Meio insano, talvez, mas me permitia clarear as ideias sempre que as falava em voz alta. E aqui estava eu, pensando em como um par de olhos verdes literalmente havia virado meu mundo do avesso.

Isso era insano não era? Quer dizer, terminar um relacionamento de dois anos por algo que aconteceu em dois meses? Deus! Quem sou eu agora? Onde está minha extrema racionalidade que nunca me deixaria cometer uma "loucura" como essa? E o mais engraçado disso tudo é que a coisa mais interessante que já fiz na vida foi justamente fazer o que eu jamais consideraria fazer. Pular do abismo e me apaixonar. E, por uma mulher. Sorri balançando a cabeça em negativa quando o sinal vermelho piscou. A rua estava relativamente deserta para uma segunda-feira à noite. Alguns pedestres atravessavam a faixa descontraídos enquanto eu continuava fitando o sinal perdida nos meus conflitos sentimentais.

Era inacreditável pensar que eu estava voltando de um motel e que havia gozado incontáveis vezes com uma mulher perfeita de uma forma que eu nunca tinha feito antes. Pensar que eu queria dar uma pirueta com o carro e voltar na contramão se fosse preciso até o apartamento dela, invadir aquela sala e jogá-la na cama outra vez. Rafa era como um vício. Como água no meio do deserto. Ela era uma perdição, um demônio, um anjo. Ela era tudo que eu queria. E por causa dela eu estava indo encontrar meu futuro ex-noivo para jogar na cara dele que eu não queria mais casar.

Provavelmente eu era louca porque enquanto me dava conta disso, minha mente me questionava com uma pergunta simples "E você quis se casar algum dia?".

Eu quis?

Uma pergunta simples, com uma resposta difícil. Talvez eu tivesse realmente desejado casar com Tomas, mais então porque nunca senti por ele toda essa avalanche de sentimentos que eu sentia por ela? Porque nunca tive um orgasmo como os que tive hoje e porque nunca me importei com isso? Ele era meu amigo afinal e eu nunca me dei conta? O amor que eu sentia por ele era fraternal? Ou simplesmente era algo brando ao qual eu estava acostumada? Eu poderia ser feliz se Rafaella não cruzasse meu caminho ou simplesmente passaria a vida inteira imaginando que casamento é algo que você deveria fazer, mas que não podia melhorar sua vida integralmente?

Minha mente era uma confusão porque tudo que eu tinha como conceito não me atendia mais. Rafaella mudou até a forma como eu via o mundo e a mim mesma. Estacionei o carro na garagem do prédio e segurando o volante com ambas as mãos respirei fundo. Passei o caminho todo tentando entender meus sentimentos e agora que estava em casa nem sabia que desculpa daria a Thomas para justificar nosso término inesperado.

"Droga, Bianca! Pense! Pense!"

"Merda, pense!"

Bati as mãos irritadas contra o volante, frustrada contra minha nada reconfortante ausência de raciocínio. O que eu ia dizer para ele afinal? Seria muito mais fácil contar a verdade, mas eu sabia que Thomas ia acabar dizendo tudo a Sônia, porque ela iria arrancar a verdade dele facilmente, como ela sempre fazia. Por mim, estava pouco me lixando sobre o que aquela mulher pensaria, mas Rafaella sofreria em suas mãos. Isso não podia acontecer. Não ia acontecer. Não deixaria ninguém arruinar a carreira de Isabel. Muito menos sendo esse alguém a bruxa da minha quase-ex-sogra. Sorri com o pensamento de que daqui um tempo – sim porque ele ainda iria me infernizar assim que soubesse do término – não precisaria aturar mais ela.

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