Uma Nova Família

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Hey,
Estavam com saudades?
Boa leitura :)

POV NARRADOR

O Natal sempre fora um momento diferente para elas. Para Bianca ainda era um dia triste porque a lembrava que na maior parte de sua vida não teve uma família para trocar presentes na árvore. Era mais triste ainda, pelo fato de que ela teve algumas boas lembranças de Natal, mas Ana não. Sua irmã caçula nunca pode arrumar a árvore com sua mãe, colocar os enfeites as tradicionais luzes e por último ser erguida até o topo do pinheiro para colocar a estrela. Nunca pode acompanhar o pai na loja de pinheiros – tradição comum nos Estados Unidos – para escolher o mais verde e alto. A caçula sequer teve meias penduradas com seu nome, que ficariam "magicamente" preenchidas na manhã de Natal com algum presente. Não havia a expectativa da espera do Papai Noel. Ana sempre soube que ele não existia porque Bia não podia alimentar mais uma fantasia a sua irmã. Desde que sua mãe partiu, seu pai passou a detestar o Natal e as proibia de comemorar. Tudo que Bianca podia fazer era economizar ao máximo o dinheiro de seu lanche por três meses antes do Natal para comprar uma boneca da moda que Ana queria muito. Ela dava a boneca a menina a meia noite do dia 24, todos os anos.
Bia abria um pote com tradicionais doces de Natal e sentava no chão do quarto de Ana. Por sorte, o pai sempre estava bêbado demais para atrapalhar o momento. A mais velha colocava a menina inocente em seu colo e cantava uma cantiga de Natal para em seguida dar a boneca. Os olhos de Ana brilhavam e ela quase sempre quicava de alegria no colo de sua irmã, batendo palmas com as pequenas mãozinhas enquanto o coração de Bianca sorria e batia forte de alegria. Naqueles poucos momentos, ela era feliz. E Ana sempre era a responsável por isso.

Agora, depois de tanto tempo ocultando de si a vontade de comemorar o Natal, lá estava Bianca, inerte em seus pensamentos, enquanto rodeava uma bola dourada de enfeite natalino entre as mãos, pensando em qual dos ramos da enorme árvore na sala de Mari ela deveria ser pendurada. Todas as amigas celebrariam o Natal juntas, na casa do casal Rinu, já que esse seria o primeiro natal de Lucca, que agora tinha dois meses. Bianca sorriu com o pensamento. Seu pequeno afilhado não teria que celebrar o natal sentado num carpete velho de um quarto escuro. Ele teria todas as luzes, toda magia e a troca de presentes como deveria ser com qualquer criança. Teria uma meia azul com nome dele pendurada no assoalho recheada com um presentinho que ele nem se lembraria quando crescesse.
Uma mão delicada rondou a cintura da morena, tirando-a de seus devaneios, e o sorriso cresceu no rosto de Bia instantaneamente. O velho reconhecimento do perfume e do toque. O beijo cálido na parte de trás de seus ombros e o queixo que delicadamente repousou por cima deles, fazendo cada pelo do seu corpo arrepiar-se. Só uma pessoa tinha esse efeito sobre Bianca. Apenas a sua Rafa.

- No que a minha linda mulher está pensando aqui sozinha, hun? Rafaella depositou um beijo carinhoso na curva do pescoço de Bianca e aspirou seu cheiro cítrico. Ela amava o cheiro dela e a maciez de sua pele. Poderia beija-la vida inteira sem reclamar.

- Estava pensando que é o primeiro Natal de Lucca e que ele vai poder ter toda magia que as crianças devem ter. E pensando onde esse enfeite ficaria melhor....
Rafaella reconheceu uma certa melancolia na voz da namorada e não demorou muito para entender do que se tratava. Agora que sabia da difícil infância de sua mulher e da cunhada, seu coração se apertou com a constatação que talvez fosse o primeiro Natal de Bianca também. E ela estava certa.

- Você nunca pode ter isso, não é? Rafa virou delicadamente sua namorada, repousando as mãos por sobre os ombros dela, enquanto Bia, ainda segurando a bola dourada nas mãos, enlaçou sua cintura.

- Tive, embora sejam apenas vagas lembranças que não parecem reais.... Mas Ana, bem, ela nunca pode conhecer o Natal. Bianca abaixou os olhos, envergonhada. Ela se sentia responsável pela infância roubada da irmã, embora no fundo soubesse que não podia fazer nada além do que fez.

CAMINHOS DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora