A Verdade

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Juliana deixou seu pai instalado na casa de hóspedes e foi bater na porta do quarto de Valentina.

—Você ainda está acordada? _ela perguntou, e então abriu a porta e colocou a cabeça.

Valentina tirou os óculos de leitura e colocou-os na cama ao lado dela.

—Um carro estará aqui às nove para levar seu pai.

—Obrigada por cuidar disso. _Juliana sentou-se na beirada da cama e cruzou as pernas.
—Você estava inquieta no jantar.

—Nada passa despercebido por você. _Valentina encostou-se na cabeceira da cama.
–Minha pele estava coçando sob o gesso e eu não queria pegar a agulha de tricô para me coçar na mesa.

—Ah não, isso teria sido terrível. _disse Juliana sarcasticamente.

—Minha mãe diria que sim, que seria horrível. _Valentina sorriu.
—Seu pai é uma pessoa adorável.

—Sim. _Juliana sorriu de volta para ela.
—Ele é um dos mocinhos.

—Não é como meu pai. _Valentina desviou o olhar. Ela nunca tinha contado a história a Juliana e não tinha certeza se queria contar, mas Juliana estava apenas sentada lá esperando.
—Ele esperou até que eu fosse para a faculdade para contar à minha mãe que estava tendo um caso o tempo todo, mesmo antes de se casarem. Ele pensou que se esperasse que eu não testemunhasse, isso salvaria seu relacionamento comigo. Mas ele estava errado.

—É por isso que você prefere não falar com seu pai?

—Sim. _Valentina baixou os olhos para as próprias mãos.
—Como sou filha única, ele queria que eu vivesse minha vida em busca desses padrões de vida impossíveis. Enquanto ele estava vivendo uma vida dupla, fazendo o que queria, e mentindo em tudo. Com que direito que ele tinha coragem de me repreender por tirar um 8 nas provas? Deixa pra lá, isso já não importa. _ela ficou pensando em todas as vezes em que foi repreendida por não fazer o que era esperado dela. Ela respirou fundo.
—Quando descobri o que ele tinha feito, decidi começar a viver sozinha e não pelos padrões dele. Mudei-me para Los Angeles e não, não quis continuar falando com ele.

—Eles não queriam que você fosse atriz?

Valentina bufou.

—Minha mãe teve que aceitar isso e está relutantemente orgulhosa de mim. E meu pai... ele está morto para mim.

Juliana balançou a cabeça.

—Não diga coisas assim.

Valentina olhou nos olhos dela e disse.

—É a verdade.

Juliana mordeu os lábios e suspirou. Tendo um flash back da sua mãe na cama de hospital...

Ela pensou por um momento antes de falar:

—Eu era uma adolescente mimada, minha mãe ficou doente e eu nunca tinha visto alguém piorar tão rápido. Eu sei que isso não muda as coisas, mas ainda me arrependo. Ainda acho que poderia ter contado mais a ela, feito mais. Ela não era perfeita, ela era muito temperamental. Não pensava antes de falar, era muito impulsiva. Mas ela era minha mãe e eu daria qualquer coisa para ter mais um dia com ela. _ela olhou para Valentina, esperando uma resposta, mas ela só recebeu um aceno de cabeça.
—Mudando de assunto, poderiam tirar o seu gesso na próxima semana. _ela pegou a agulha de tricô na mesa de cabeceira e a levanto.
—Entretanto enquanto isso não acontece... _Juliana lhe entregou a agulha e se abaixou deixando um beijo na testa de Valentina.
—Durma bem, Val.

The ScriptOnde histórias criam vida. Descubra agora