Onde você está?

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Valentina acordou tarde, sentindo-se irritada e dolorida. Ela se sentou para abrir um pacote de biscoitos e comeu um, depois tomou o remédio para dor. Juliana normalmente a teria acordado e sentado ao lado dela na cama, perguntando o que ela queria no café da manhã.

—Um pãozinho e café. _disse Valentina ao quarto vazio.

Ela ficou sentada na beirada da cama por vários minutos, lamentando o que dissera a Juliana na noite anterior. Foi perverso, o jeito que ela o fez. Assim do nada disse que Juliana teria que se mudar da casa. E para onde ela poderia se mudar em tão pouco tempo? Para aquele hotel horrível onde ela estava hospedada antes?

Valentina pegou o telefone e discou o número de Juliana. Ninguém atendeu, então ela desligou com medo de tropeçar em suas próprias palavras e prejudicar sua chance de pedir desculpas. Um plano melhor seria colocar sua roupa de banho, sentar-se na banheira de hidromassagem, relaxar os músculos, beber mate e depois tentar fazer as pazes.

A porta da casa de hóspedes não havia sido aberta. Valentina a observava da jacuzzi, esperando que ela se abrisse. Depois de dez minutos, ela saiu e foi até a porta, batendo duas vezes.

—Juliana? _bateu novamente e digitou o código de segurança da porta.
—Juliana?

Valentina ficou ali parada, pingando água em todo piso e olhando para a casa de hóspedes vazia. A cama parecia não ter sido tocada. De fato, o lugar parecia impecável. Geralmente, havia roupas no chão, algumas coisas nos móveis. Juliana não era muito organizada, Valentina notara isso.

Ela olhou para trás e viu que não havia sapatos na entrada. Juliana sempre deixava seus chinelos lá.

—Merda. _Valentina sussurrou.

Ela foi ao banheiro e deixou cair os ombros enquanto soltava um grande suspiro. Ela tinha ido embora, Juliana se foi e todas as coisas dela também.

Valentina estava sentada em uma das espreguiçadeiras à beira da piscina com o telefone no ouvido.

—Ei, onde... _ela inalou, isso estava afetando-a mais do que ela pensava.
—Onde você está? Me ligue. _ela jogou o telefone sobre a mesa e abraçou o próprio corpo.
—Droga! _ela disse alto e então gritou.
—QUE DROGA, JULIANA!

Ela não podia ficar ali sentada para sempre com seu traje de banho, esperando um telefonema estúpido, então vestiu o roupão e foi para a cozinha. Ela prepararia o café da manhã. Talvez o pãozinho que ela queria seria bom agora, com uma fina camada de manteiga de amendoim e um toque de mel, assim como Juliana fazia.

Juliana... Ela fazia tudo melhor, até o pão.

Valentina estava sentada à mesa da cozinha com a cabeça entre as mãos, esperando o telefone tocar. Seu mate não tinha um gosto tão bom para ela, seu pão ainda estava intacto. Ela ainda não estava vestida. Por que ela faria isso se não havia ninguém para vê-la? Mas Valentina não era assim. Ela tinha uma rotina: exercícios, café da manhã, banho, e-mails, etc, etc, etc.

Seu braço quebrado havia ferrado tudo e a idéia estúpida de Sergio também.

—Por que eu tive que ouvi-lo?

Mas nem tudo era culpa de Sergio. A verdade era que Valentina não queria sair sozinha do armário. Ela queria alguém segurando sua mão, mesmo que não estivesse apaixonada por ela ou o contrário. Ela tinha medo de especulações; de todas as conclusões que as pessoas poderiam tirar sobre sua mudança repentina de 'estilo de vida'. Ela estava entediada com os homens? Seu divórcio havia a abalado tanto que ela havia preferido mudar de lado? Ela estava perdendo o controle, procurando atrair atenção? Tudo isso seria o que eles pensariam.

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