Dias atuais

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Dias atuais:
Pouco tempo depois que William se mudou, outra pessoa havia comprado a casa.
Em si, a casa era quase uma réplica da casa que Iris estava morando. Claro, havia algumas coisas diferentes, mas nada muito significativo.
No dia em que ocorreu a mudança, coincidentemente Iris e Lucas estavam no pátio. Lucas brincando com Miguel e Iris estava trazendo uns lanches. Eles comeram e estavam rindo de alguma piada sobre o ar, até que a nova vizinha repara nos risos e reconhece alguém...
 
-Lucas? -disse ela se aproximando - É você? Quanto tempo!
Iris sentiu um calafrio lhe percorrer a espinha. Fazia um mês que ela estava se sentindo observada e, em todos esses momentos, esse mesmo calafrio perpassa pelo seu corpo. Isso foi suficiente para ela não gostar dessa tal vizinha.
-Por Julius, não pode ser... Sara! -Lucas respondeu, levantando-se para cumprimentá-la.
Ele abriu o portão e a abraçou. Para Iris aquele abraço pareceu durar mais do que deveria, mas ela apenas balançou a cabeça a fim de esquecer tal ideia. 
-Faz tanto tempo! Eu tenho muito que contar! -disse Lucas se desvencilhando, com certa dificuldade de Sara.
“Quer entrar? Assim podemos colocar a conversa em dia.”
-Ah, nossa... Eu acho que posso deixar o Robert descarregar a mudança. É para uma boa causa. 
Miguel e Iris estavam só observando a conversa, esperando serem apresentados. Lucas pareceu se lembrar de que era casado e que, antes de Sara chegar, ele estava rindo com Miguel e Iris. Ao se lembrar disso, ele os apresentou:
-Quase que eu me esqueci de te falar! -Lucas colocou a mão na testa, se culpando por não ter se lembrado - A maior novidade que posso falar é que eu estou casado com a mulher mais linda que se pode imaginar! Essa é a Iris, minha esposa.
E dizendo isso, Iris se levantou para cumprimentá-la. Seu sorriso parecia excessivamente grande, mas Iris achou que era coisa da sua cabeça. 
-Prazer! E bem-vinda a vizinhança! Cá entre nós, eles são bem “observadores". 
-Ah sim -respondeu Sara rindo -Eu não sei se alguma vizinhança não é assim.
-Que bom que vocês estão se dando bem! Falta só uma pessoa para você conhecer... -Lucas agora estava olhando o seu relógio de pulso, provavelmente vendo quanto que falta para Daniel e Bruno...
“Não falta muito para Daniel e Bruno chegarem, se você quiser rever eles.” Lucas, sem saber, completou os pensamentos de Iris.
Miguel se juntou a eles, aparentemente impaciente para ser apresentado logo.
-Olá! Meu nome é Miguel e eu moro aqui. Sou filho do Bruno e do Daniel, como vocês chamam eles. -Miguel disse estendendo a sua mão para ser cumprimentado. Ele não aguentava mais ficar esperando. Os adultos dizem ser tão diretos, mas Lucas não era um desses.
-Prazer, Miguel! Eu me chamo Sara! 
-Vamos entrar logo, eu junto as coisas aqui. Vocês enrolam demais! -Miguel disse, despachando eles. Ele sempre foi assim: direto e reto.
Todos riram, mas Iris hesitou. Não seria justo deixar Miguel guardando as coisas sozinho. Afinal, nem havia muito o que limpar...
Ela foi lá ajudá-lo, mas ele fez com que ela parasse onde estava.
-Se quiser, leve as comidas e os sirva com o que sobrou delas. Falta pouca coisa e depois eu me junto com vocês na sala. 
-Se você diz... Mas não fique muito tempo aqui fora sozinho!
-Tudo bem, tia. Eu já entro. -ele sabia o porquê de não ficar tanto tempo sozinho fora de casa.
Iris, confiando em Miguel, entrou para dentro com os sanduíches que havia preparado e encontrou Lucas e Sara rindo de alguma coisa. Ela colocou os sanduíches na mesa de centro e se sentou ao lado de Lucas, que estava sentado no sofá, enquanto Sara estava sentada em uma cadeira que dava de costas para a janela.
Eles pararam de rir e a sala ficou em silêncio por certo tempo, até Sara criar um novo assunto:
-Que estranho, né?! Ver como o tempo passou... A garota pela qual você me largou estar na mesma sala que eu, e nós dois estarmos casados. Que maluco -Sara riu, mas desta vez ela riu sozinha.
Iris olhava para Lucas com uma cara interrogadora. Lucas estava ciente disso e por isso não queria olhar para ela. Essa era mais uma parte de sua vida que não gostava de comentar sobre.
-Ah... Me desculpa. Eu não sabia que tu não tinha contado...
“Mas é passado. Nós estamos casados e amamos as pessoas com quem nos casamos.” O olhar de Sara era um pouco reconfortante, mas também era um pouco suspeito. Enfim, aquilo não importava no momento.
Miguel entrou na sala neste momento e sentiu o clima no ar. Ele pensou que era melhor não se meter então subiu para o seu quarto. 
-Eu acho melhor eu ir indo para a minha mudança... Nos vemos por ai.
-Eu te acompanho. -Lucas respondeu cabisbaixo. Quando voltasse teria que explicar coisas de seu passado que não se orgulhava. Não que fosse culpa de Sara. Ele era jovem, rebelde e muito impulsivo.
Fora de casa, Sara pediu desculpas novamente e Lucas disse que não era culpa dela. E realmente, não era. 
Enquanto Lucas levava Sara até o portão, Iris juntou o prato onde estava os sanduíches, que agora estava vazio, e o lavou. Quando Lucas voltou, ela já estava na sala, sentada na cadeira oposta a que estava Sara.
Seu olhar era interrogador e Lucas suspirou antes de se sentar no sofá. Era uma longa história. 
-Ãhn... Ok. É complicado e muito longa a história. E peço que me perdoe. Não é algo que me orgulho.
-Tudo bem. Estou ouvindo.
-Talvez eu consiga resumir bem a história, mas enfim...
“Bem, um dia antes do nosso beijo... Eu terminei com a Sara porque eu descobri que eu amava você, e não ela.
“Fazia tempo que eu estava sentindo isso, mas você sabe como eu sou enrolado... Eu só não te falei nada porque eu não queria que você se culpasse por isso. Não foi culpa sua, nem da Sara. Foi minha...
“O que eu acho que foi mais rude da minha parte foi que eu nem sequer pensei nos sentimentos dela. Eu queria terminar e eu terminei, ela concordando ou não. 
“Se eu não me engano eu lembro de ouvi-la chorar, mas eu estava decidido e depois de terminar, dei as costas e saí. Sinto muito"
Iris estava paralisada. Mesmo Lucas falando que não era culpa dela, ela se sentia culpada! Foi Iris que chegou e arruinou o relacionamento deles...
Os  seus pensamentos foram interrompidos quando todos ouviram Daniel e Bruno chegarem em casa. Eles pareceram não sentir o clima que estava no ar. Na verdade eles dispersaram o tal clima ruim que havia.
Era uma das coisas que Iris mais amava neles. Não importa onde eles estivessem, eles sempre dão um jeito de deixar o ambiente mais alegre e leve.
Bruno abriu a porta primeiro, mostrando a sacola cheia de coisas e se sumiu para a cozinha. Ele vestia um sobretudo que parecia acentuar a sua forma mais alta que todos. Seus cabelos estavam grandes, mas nem tanto; ele adorava deixar os seus cachos loiros “livres".
Daniel entrou logo em seguida, com o seu cabelo um pouco mais curto e vestindo uma camisa social por cima do conjunto de sua camisa. Ele levava uma pasta em baixo do braço. 
Daniel não era tão alto quanto Bruno, mas também não era baixo. Os mais baixos eram Iris e Lucas, mas ele não eram tão mais baixos que os outros. 
Quando Bruno chegou com aquelas sacolas, Iris sabia que a janta seria deliciosa.
Miguel, ouvindo os pais chegarem, desceu correndo as escadas e deu um abraço em Daniel. Porém, quando viu Bruno, na cozinha, com as sacolas... Ele só disse:
-Receita nova?
-Sim. É melhor nem chegar perto...
Quando Bruno aprendia uma receita nova, e a fazia pela primeira vez, era melhor ficar longe. O mais longe que puder, porque ele se irritaria e falaria coisas não tão agradáveis de se repetir. 
Geralmente, quando ele fazia da segunda vez, Bruno ficava mais calmo e era possível permanecer no mesmo ambiente que ele.
 
Daniel se sentou ao lado de Lucas no sofá e dessa vez Miguel se juntou a eles também. Quem falou primeiro foi Miguel, depois de receber muito carinho de seu pai:
-Pai, sabia que a gente tem uma vizinha nova? Ela se chama Sara e diz que te conhece, que conhece o Lucas e o pai.
-A Sara? Ela é nossa vizinha agora? Pela altura de Julius, o que eu fiz de tão errado para merecer ela como vizinha?
-Você não gosta dela? -Lucas perguntou com cara de surpresa. Ele jurava que os dois se davam bem, antigamente.
-Eu nunca gostei dela! Eu achava ela metida e patricinha. Mas ela pode ter mudado, quem sabe?! Foi a muito tempo.
-Ela parece simpática. -Comentou Iris. Ela não estava mentindo. Sara foi simpática com ela.
-Talvez eu esteja enganado. -admitiu Daniel.
O silêncio recaiu sobre a sala. O aroma do jantar que Bruno estava preparando inundou a sala e quase que todos babaram. O cheiro estava maravilhoso e um “pib" do cronômetro de Bruno avisou que o jantar já estava quase pronto.
O que oficializou foi Bruno alertando eles dizendo para lavarem as mãos. Todos se entreolharam e correram até o banheiro em disparada. 
Quando eles voltaram, a mesa já estava posta e Bruno estava de pé apenas esperando por eles.
Miguel foi esperto e foi no banheiro do segundo andar, chegando antes de todos e dando um abraço no seu pai, que estava quase tão suado quanto um lutador depois de um treino.
Iris não fazia ideia do que estava servido no jantar, ela só sabia que estava delicioso.

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Lucas estava tenso, mas tentava não deixar transparecer. Uma dúvida pairava em seus pensamentos; ela estava martelando e insistindo. “Que inconveniente”, ele pensou.
Todos pareceram notar a testa franzida de Lucas e, com um tom um pouco magoado, Bruno perguntou:
-Você não gostou de algo na comida, Lucas?
Ele e Bruno se davam muito bem. Mesmo Bruno tendo o seu jeito tímido, eles se deram bem de cara. Na verdade, eles eram amigos antes mesmo de Daniel conhecer o Bruno.
Foi basicamente por isso que aquelas palavras, com aquele tom, dispersaram Lucas de seus pensamentos, de uma forma não tão agradável. Ele jamais queria fazer seu amigo duvidar de uma de suas qualidades.
-Não! Jamais! Está maravilhoso! São só alguns problemas com o trabalho. -Lucas respondeu, chacoalhando a cabeça para ver se seu pensamento desiste de atormentá-lo.
Vendo que a desculpa não colou, ele inventou uma explicação melhor:
-Um colega me pediu um conselho... Parece que um parente dele se aliou ao outro lado e... Ele está com medo. Não faz ideia do que fazer, mas eu também não faço ideia! Estou tentando ajudá-lo, mas, com o que? 

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Iris parou com o garfo no ar. Ela nunca tinha ouvido falar de mais alguém com algum parente que se converteu ao outro lado. Ela pensava ser... A única? 
Não era uma suposição lá muito inteligente. Se isso acontecesse só com ela, porque eles estariam em menor número? Então, percebendo que os seus pensamentos continuaram como o daquela Iris de 15 anos que se achava superespecial por ter mais diferenças do que o “normal", ela se socou mentalmente. Ela já deveria ter aprendido. 
Tomando consciência de que Lucas já havia acabado de explicar sobre o seu colega, Iris posicionou sua mão sobre a dele, querendo dizer que:
-Vamos resolver isso juntos. 
Eles se olharam por um breve momento. Iris soube naquele momento que ela não deveria se preocupar com o antigo Lucas, muito menos com Sara.

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Lucas vislumbrou a calma de Iris contida em seus olhos -que pareciam ter uma cor definida, e se acalmou também. Ele soube que Iris o havia perdoado, e Lucas só precisava disso para ter uma paz interior de dar inveja.

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Os três lados [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora