Enfim domingo

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O sótão não era um lugar misterioso, como sempre aparece em filmes e em séries. Bem, pelo menos não aquele sótão, não naquela hora...
Na verdade, eles usavam muito o sótão. O que tinha para fazer lá era tirar o pó de algumas coisas e organizar algumas caixas. É pouca coisa, mas levou mais tempo do que Iris imaginava. Tanto tempo que Lucas teve que dizer que era melhor ela tomar banho e se arrumar logo, porque dali a pouco a Sara chegaria.
Iris foi então tomar banho e escolher a sua roupa para aquele almoço de domingo inusitado. Ela planejava, depois de a Sara ir embora, voltar para o sótão e, com sorte, organizar tudo ainda aquele domingo.
 
Iris decidiu usar uma camisa branca por de baixo de um moletom cropped, de cor verde. Ela estava usando também uma causa jeans azul claro, e um tênis preto.
Eles chegaram ao meio-dia pontualmente. Sim, eu disse eles.
 
Quando a campainha tocou, já era esperado que fosse a Sara chegando. Mas todos ficaram surpresos quando viram ela e mais um homem na frente do portão.
-Oi, gente! Perdoem -me ter de apresentar o Robert dessa maneira, mas tenho certeza que quando entrarmos poderemos nos apresentar da forma adequada...
-Ah, Claro! Já abro o portão. – disse Iris, saindo primeiro do “choque".
Iris abriu o portão para eles e logo depois abraçou os convidados, já tratando de levá-los para dentro de casa, para ficarem acomodados e tentar apagar a cena de mais cedo.
 
-O Lucas, eu tenho certeza, já sabia que eu sou casada. A Iris não deve se lembrar, mas eu já havia falado para ela. Mas, eu nunca apresentei vocês formalmente.
“Robert, esses são: Iris, Lucas (os dois são casados). Continuando, tem mais o Bruno e o Daniel, que também são casados! E temos mais o Miguel, que é filho do Bruno e do Daniel.”
Robert ouviu diversos “Prazer, Robert!”, e ainda mais alguns, “Sinta-se a vontade!”. Ele se sentiu muito bem acolhido e recebido.
Após feitas as apresentações, todos se sentaram na sala, esperando o almoço ficar pronto.
Eles conversaram muito, sobre vários assuntos. Foi realmente muito agradável para todos. Robert se mostrou uma pessoa gentil e muito agradável de se conviver.
Enfim, o almoço ficou pronto e eles foram almoçar. A comida estava ótima, como sempre. Bruno até se cansou de receber tantos elogios, e isso é difícil de acontecer!
Eles jogaram jogos, conversaram, se divertiram e, quando foram ver, já era três horas da tarde.
Sara e Robert tiveram quase que implorar para ir embora, mas Robert disse que tinha que resolver algumas coisas, e Sara disse que sempre podíamos marcar mais encontros. Assim sendo, eles foram embora com a promessa de “voltaremos antes que vocês sintam a nossa falta”. Iris estava achando que eles não estavam brincando ao dizer isso, pois no mesmo instante um calafrio percorreu a sua espinha, como que para alerta-la.
 
Depois de todos ajudarem a ajeitar a casa (lavar a louça, etc.), Iris viu uma oportunidade de voltar a arrumar o sótão, e foi o que ela fez.
Iris arrumou o sótão por uns dez minutos, mas logo se lembrou que deixou a sua garrafa d'água na cozinha, e foi lá pega-lo. Mas ela esqueceu tudo quando chegou lá e viu a Sara... Agarrada em Lucas?! O que estava acontecendo?

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Devia fazer uns dez minutos desde que Sara e Robert haviam ido embora quando a campainha toca. Bruno já estava indo atender, mas Lucas disse que “Pode deixar. Eu atendo".
Para a sua surpresa, era Sara que estava no portão.
-Sara? Esqueceu alguma coisa?
-Ah, sim... Eu posso entrar? É que é difícil de explicar...
-Claro! – o portão já estava quase aberto, pois enquanto eles iam conversando, Lucas já aproveitara para ir abrindo-o.
- Muito obrigada – disse Sara, quase que empurrando Lucas
-Está com pressa? Eu posso te ajudar.
-Eu agradeceria!
“Eu acho que eu perdi na cozinha...” concluiu Sara, procurando em todos os cantos.
Lucas ajudou-a a procurar em todos os cantos da cozinha, quando teve ideia de ver na pia. Ele estava dando uma procurada quando ele sente alguém abraça-lo por trás.
“Iris?!” pensou Lucas. “Que estranho. Eu não me lembro de ela ser tão silenciosa”. Mas alguma coisa estava errada... O jeito do toque, não era o mesmo que o da Iris. As mãos... Tudo parecia estar diferente! Então Lucas se virou e se deparou com...

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-Sara... Lucas?! – Iris falou esses nomes com tanta relutância. Um nó estava preso em sua garganta, lágrimas escorriam de seus olhos. Ela estava alucinado, ou aquilo era real?
Poderia ser real. Lucas e Sara tiveram uma vida antes dela aparecer; tiveram memórias, tudo. Sem contar que... A Sara não era assexual, até onde ela sabia. Isso era o que mais doía em Iris. “Mas o Lucas não me amava?”, pensou Iris, “Talvez não o suficiente para sufocar sentimentos do passado". Esse pensamento foi a gota d'água. Ela sentiu seu coração pesar, como se fosse feito de gelo. De suas mãos, saía uma névoa, e seus olhos haviam mudado a sua cor para um azul vivo, com algumas “rachaduras”, parecendo um lago congelado com suas rachaduras.
Iris teve que se apoiar na parede, pois ela nunca havia sentido todos esses sentimentos com tanta intensidade. Lucas, como se tivesse percebido a sua presença só naquele momento, disse:
- Iris?! Não é...
Iris não esperou para ouvir a sua explicação. Nada podia desfazer o que ela estava sentindo.
Querendo fugir para longe de todos, Iris então correu para o sótão . Alguma coisa a dizia que era lá que estava algo que ela procurava já a muito tempo.

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Quando Lucas percebeu que Iris estava na cozinha, ele sentia que já era tarde demais.
Sua aparência estava diferente. Mais diferente do que todas as vezes que ele a vira se transformar desta maneira. Haveria ele perdido Iris? Não, ele não poderia deixá-la ir sem lutar por ela!
-IRIS! – Lucas tentou empurrar Sara para o lado, para ele poder correr para explicar tudo a Iris, mas Sara não se mexia?! Lucas estava perdendo a cabeça.
“Me deixe sair, Sara.”, Lucas havia feito um mini furacão na palma de sua mão, para mostrar que ele não estava para brincadeira, mas Sara ainda não se mexia. Pelo contrário, ela parecia estar desafiando Lucas... Ele não podia deixar de aceitar o desafio.
Lucas, portanto, ativou o seu elemento ar e, com as duas mãos, ele empurrou Sara trás. Ele estava quase chegando na escada quando Sara o agarra por trás, e ele se viu forçado a dar uma cotovelada na cara dela.
Enquanto Sara ainda estava um pouco desorientada, Lucas aproveitou para empurra-la até a beira da pia. Agora ativando o seu outro elemento, a água, ele a faz sair pela torneira e a começar a formar um círculo em volta dos pulsos de Sara, como se fosse uma algema. Depois de as algemas feitas, Lucas congela a água em volta dos pulsos de Sara. Ele sabia que não ia durar muito as algemas que ele fez para Sara, mas ia dar tempo a ele, e era isso que ele precisava.
Lucas correu como nunca sótão acima e, chegando lá, ele fica em choque.
-Iris?! E.... Jorge?!
-Me perdoe, Lucas... – disse Iris, e depois ela fez uma coisa que nunca mais teria volta. Uma coisa (quase) impossível de se reverter.

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Iris correu irracionalmente para o sótão, onde seu instinto lhe dizia que lá estava alguma coisa que ela procurava já a muito tempo, mas ao mesmo tempo seu instinto lhe dizia para tomar cuidado, e talvez até para recuar. Mas não importava. Lá era um lugar onde ela poderia se esconder e pensar em tudo o que viu.
Porém, a coisa, ou melhor: a pessoa que ela viu quando chegou no sótão a fez parar de pensar em tudo e todos.
-Jorge?! -falou Iris, quase que num sussurro. Sua cabeça girava... O que ele estava fazendo ali? Como entrou? “Que momento oportuno! Mas não importa. É hoje que eu acabo com essa história.”, pensou Iris.
“Eu estou sem cabeça para você, Jorge" ia dizendo Iris enquanto fazia uma adaga de gelo em suas mãos.
-Agora eu sou o Jorge? Para onde foi o “tio"? – Jorge estava no ponto mais afastado do sótão, sem dar um sinal de medo ou qualquer outra coisa. Na verdade, ele estava bem tranquilo e até confiante.
-Agora chega! – Iris avançou na direção de Jorge com toda sua raiva, frustração e confusão. Ela conseguiu canalizar todos aqueles sentimentos e transforma-los em um: acabar de vez com a ameaça que o seu tio representava.
-Como está o seu irmão?
- Que irmão? Você sabe que eu sou filha única!
-Ora, o seu irmão que está te dando todo esse seu poder. Vai me dizer que não se lembra?
Iris parou atônita. Seus olhos pareceram falhar, Iris quase caiu, sem conseguir suportar o peso da mudança repentina, e das palavras que seu tio acabará de proferir.
No final, será que ela não era realmente muito parecida com Jorge? “Não se distraia! Mantenha o foco.”
- Muito obrigada por perguntar sobre ele. Talvez tu possas conversar com ele depois que eu te matar. – nesse meio tempo, Iris se aproximou de Jorge o suficiente para atingi-lo no estômago com a sua adaga de gelo.
Ele caiu no chão quase que imediatamente. Um pouco estranho, mas Iris não deu muita atenção. Ele estava desprotegido e isso era o suficiente.
Se aproximando dele, Iris continuou com a adaga e, deitada no chão ao lado de Jorge, Iris ia cortar a sua garganta quando um vulto surge no sótão.

***

Os três lados [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora