Insônia

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Iris acordou abruptamente. 
Ela sentiu o ar de seus pulmões fugirem para longe dela. Não era a primeira vez que Iris acordava no meio da noite e não conseguia dormir depois.
Iris vinha tendo ataques de insônia desde que teve a batalha com o tio, mas ultimamente eles têm acontecido com mais frequência, fazendo com que ela venha dormindo menos que quatro horas por noite.
A cada vez que isso acontecia, Iris tentava sair da cama o mais rápido possível e corria direto para a cozinha beber uma água e refletir sobre os sonhos que ela tinha. Iris só refletia sobre os seus sonhos para passar o tempo. Há um mês ela quase nem sonhava, mas havia acontecido muitas coisas estranhas no último mês. Talvez até pesadelos.
No início, Iris tentava sair da cama o mais devagar possível para não ter que acordar Lucas, mas hoje em dia ela não consegue fazer isso.
Não que ela queira acordar Lucas, é só que Iris não consegue esperar todo esse tempo para depois recuperar todo o fôlego perdido. E muitas das vezes Lucas nem acordava, pelo menos é o que ela achava.
 
Iris estava chorando.
Novamente ela acordou às três da manhã. 
A falta de ar fez seus olhos lagrimejarem.
A sensação de impotência diante da situação atual dela era outro bom motivo para ela chorar. Além do pesadelo que Iris teve. Ou melhor, ela vem tendo pesadelos como esse o mês inteiro!
Iris estava apoiada na beira da pia quando ouviu alguém chamar o seu nome.

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Lucas sentiu Iris sair da cama apressada. Ele sabia o que a havia tirado da cama desse jeito. 
Então ele suspirou.
Seria melhor dar um tempo para ela se acalmar ou seria melhor impedi-la de passar da escada? Lucas decidiu que era melhor deixá-la se acalmar.
No fundo, ele também estava cansado disso; de ver Iris se levantar dessa maneira toda madrugada.
 
Decidido de que já havia passado tempo suficiente, Lucas se sentou na beira da cama cabisbaixo. Lucas dormia de cueca, portanto ele pensou seriamente em colocar uma bermuda e uma blusa, mas mudou de ideia e colocou apenas uma blusa. 
Ele desceu as escadas e encontrou Iris chorando na beira da pia. Não importava quantas vezes Lucas visse a cena; sempre doeria como se fosse a primeira vez.
-Iris -Lucas chamou-a com os olhos semicerrados, ainda se acostumando com a luminosidade do ambiente.
Iris, ouvindo o seu nome, se virou para Lucas com um olhar que arrepiou os seus pelos da nuca e o fez levar as mãos até a cabeça, para mostrar que não representava nenhum perigo.

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Quando Iris ouviu alguém a chamar, ela se assustou.
Depois do pesadelo que ela tivera, seus nervos estavam atentos a qualquer movimento de qualquer pessoa. Qualquer coisa poderia simbolizar ele... Por isso, seus olhos se transformaram em um azul vivo. Dava para perceber alguns desenhos nos mesmos. Quem olhasse com atenção perceberia que aqueles desenhos juntamente com a cor de seus olhos, formavam algo parecido com um lago congelado com algumas leves rachaduras. Mas, quando se vê esses lagos, tem que se tomar cuidado; um passo em falso e o gelo abaixo de seus pés se racham completamente e você pode morrer congelado.
Claro, isso não era novidade. Quando Iris se sentia com muito medo, ou com muita raiva, ela ficava assim. Isso talvez fosse algum mecanismo de defesa natural dela ou talvez o seu irmão agindo de forma para protegê-la. De qualquer forma, Iris odiava tudo aquilo.
Porém, aconteceu algo diferente dessa vez. Em todas as vezes que acontecia o tal fenômeno dos olhos, Iris nunca tinha feito sair uma névoa de suas mãos. Provavelmente foi isso que mais assustou Lucas. 
Iris estava sentindo um novo nível de medo.
 
-Lucas?! -Era uma afirmação, mas Iris queria demais que alguém desmentisse tal fato.
Assim que os batimentos de Iris iam voltando ao normal, seus olhos e suas mãos também o acompanhavam.
Parecia que, a medida que seu medo se dissipava, seu lado racional voltava a funcionar a todo vapor, o que só piorou tudo.
“Eu estava... Eu... Quase atacando o LUCAS?!”, esse pensamento pairava na cabeça de Iris, afastando todos os outros pensamentos de sua cabeça. Talvez o seu lado racional não esteja funcionando tão bem assim.
-Lucas... Desculpa. Eu não... -Iris sentiu um nó na garganta comprometendo sua fala. Ela sentiu lagrimas brotarem em seus olhos. Iris não conseguia suportar a ideia de quase ter machucado -ou talvez de quase ter matado o Lucas.
Então Lucas interrompeu Iris quando foi abraçá-la. Ele sabia que não era culpa dela, nem dele. Não havia muita coisa para fazer.
-Calma, eu sei que não foi a sua intenção... -Lucas tentou acalmá-la e, como sempre, sua voz tranquila a acalmou, mas suas palavras e atitudes calmas não puderam impedir suas lagrimas.
Iris vivia vinte e quatro horas por dia com medo de seu respectivo tio reaparecer a qualquer momento para matá-la ou matar os seus amigos. Era aterrorizante. 
Ela não gostava de externar as suas preocupações, para não deixar todos tensos e em pânico. Mas esse mês estava sendo difícil.
 
-Venha, vamos sentar no sofá e você me conta o que está acontecendo. -Lucas sugeriu, vendo que Iris havia se acalmado consideravelmente. 
Ela o acompanhou. Lucas sempre com o braço ao seu redor, indo com calma.
Os dois, agora já sentados no sofá se encararam por alguns instantes. Depois de algum tempo Lucas decidiu que ele já podia falar e então tomou fôlego para fazê-lo, mas Iris foi mais rápida: 
-Eu não quero falar sobre...
-Ahn?
-Eu... Eu não quero falar sobre o que acabou de acontecer... Na cozinha...
-Ah, sim... -Para falar a verdade, Lucas estava um pouco decepcionado, mas ele iria respeitar a vontade de Iris.
“Então, o que você quer fazer?”, Lucas perguntou.
-Eu pensei em nós dormirmos aqui no sofá mesmo... O que acha?
-Eu topo! Esse sofá é muito confortável.
Quando eles compraram a casa, os ex's donos deixaram o antigo sofá deles lá também. Era um sofá retrátil de quatro lugares enormes. Ele ocupava grande parte da sala e era um dos lugares mais disputados da casa.
Iris se ajeitou no sofá de modo a ficar de lado, com as costas viradas para o encosto dele. Automaticamente, Iris estava de frente para Lucas.
Lucas, por sua vez, se deitou de lado também. A cabeça de Iris pousada em seu peito e seu queixo estava tocando a cabeça de Iris. 
Um ar gelado saía do nariz dela. Mais gelado que o normal, para se falar a verdade, mas Lucas deixou isso de lado. Não era hora de falar sobre esse assunto.
De início, os dois brincaram com a ponta dos dedos um do outro, formando desenhos no ar. Até que, depois de algum tempo, Lucas pousou sua mão na cintura dela e sussurrou:
-Acho que vou dormir...
-Boa noite. -Respondeu Iris. Por mais perfeito que havia sido aqueles momentos entre ela e Lucas, Iris sabia que Lucas não tinha insônia. “Nada pode durar para sempre", pensou Iris de forma filosófica.
Foi uma surpresa para ela ter percebido que tinha adormecido também, mas Iris quase se arrependeu de tê-lo feito.

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Os três lados [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora