O que realmente aconteceu com os meus pais?

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Eles tomaram café na cafeteria e Iris subiu para o quarto para escovar os dentes e tomar banho. Ela estava morrendo de vontade de se despedir de Lucas do seu jeito, mas ela queria contar ao tio, antes de qualquer coisa. "Querer não é poder."
Quando Iris saiu do banheiro, viu o tio a esperando sentado na cama dele. Ele estava com uma cara séria. "É óbvio que ele percebeu."
-Iris, sobrinha... Eu não queria perguntar na frente dos meninos, mas agora que estamos a sós - ia dizendo o tio, com cautela - Você e o Lucas estão... Aham, namorando?
-Tio... -Iris foi interrompida pelo toque de um celular.
-Um minuto - disse Jorge. Parecia ser coisa importante.
Iris se sentou na sua cama e começou a pensar como falaria para o tio sobre ela e Lucas.
-Salva pelo gongo, mocinha. -dizia Jorge sorridente - O Chefe quer falar com a gente sobre os seus pais. Aliás, era isso que eu estava tentando fazer ontem, o dia inteiro.
-Meu Deus, sério?!?! Não é possível! -Iris estava mais do que animada. Ela viera para lá para obter respostas e agora elas estavam a poucos passos de distância!
-Faça as suas malas. Depois de falarmos com o Chefe, voltamos para cá e vamos para outro hotel.
As malas de Iris já estavam prontas. Ela mal havia mexido nela. Iris não parava de pensar no que o Chefe tinha a dizer sobre os seus pais, as respostas e as memórias.

-Pronta?! Vamos indo, então.
Eles seguiram reto na rua por duas quadras e dobraram a direita. Iris ficou boquiaberta ao ver onde o Chefe ficava. Parecia um castelo! A estrutura parecia ser feita da mesma pedra do Portal de Jorge. Estava igualmente suja de um tipo de musgo verde. "Parece ser o único lugar aqui a ter uma boa aparência por fora."
O tamanho ocupava um quarteirão inteiro. Havia uma grade e uma guarita na frente. Eles se aproximaram da guarita para se anunciarem.
-Jorge Black e Iris da Silva Black. Marcamos um horário com o senhor Henrique de Almeira Black.
"Black?! O Chefe é da família?!?!Será que é por isso que minha mãe e meu pai eram tão importantes? Será que era por isso que o meu pai era um dos primeiros agentes? Não importa, agora eu terei respostas!"
-Confirmado. Podem entrar. -disse o cara da guarita, acordando Iris de seus pensamentos.
O portão se abriu e eles entraram. O caminho até a entrada era óbvio, mas havia pedras amarelas indo em linha reta até a entrada magnífica daquele castelo. "Eles se espalharam em 'o mágico de Oz' enquanto construíam esse caminho, só pode." Pensou Iris, rindo internamente.
Após eles passarem pela estrada de tijolos amarelos e subirem as escadas, havia mais um portão (parecia ser feito de mármore). Nele estava escrito: 'Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses - Sócrates. ' "É fácil dizer para os outros se conhecerem, mas essa é a tarefa mais difícil de toda a humanidade. A mais difícil, mas a mais desejada." Pensou Iris.
O tio simplesmente empurrou as portas e eles entraram. O salão era enorme! Parecia ser maior que aquele mundo.
Era quase que triste de se ver, porque era tão grande, mas tão vazio.
A estrutura de dentro era clássica. Assim que eles entravam tinha uma escada enorme que dava para um corredor que se dividia em dois. A diferença é que não tinha tantas janelas quanto os castelos clássicos.
Logo que eles entraram, viram um homem que parecia ter uns vinte anos. Ele se aproximou e perguntou:
-Boa tarde, senhor Jorge e senhorita Iris. O senhorito Almeira Black os espera na sua sala. Posso acompanhá-los?
-Por favor. -disse Jorge.
E então eles foram para um corredor à esquerda da escada. Eles seguiram reto até o final dele. Na porta tinha uma placa que se lia: "Vosso governante e senhorio; Henrique de Almeira Black."
O homem que os tinha acompanhado até ali bateu na porta três vezes, até que se ouviu um "Entre!" vindo de dentro. O homem abriu a porta para eles, fechou-a atrás deles e se retirou.
-Seja bem-vinda, Iris! Bem-vindo de volta, primo! -Disse Henrique de Almeira Black. Ele era alto (o que deixou Iris impressionada. Ela não tinha conhecido nenhum Black alto até agora), de cabelos escuros e enrolados. "É, algumas coisas nunca mudam". Era magro, mais magro do que o normal para Iris. A sua cara era uma cara amigável e jovial.
Ele estava vestido com um terno verde escuro com uma camisa branca por baixo. A calça era da mesma cor do terno, "um conjunto" supôs Iris.
Quando Iris se deu por si, Henrique estava com a mão no ar esperando Iris apertá-la.
-Desculpa, eu sou muito distraída. -disse Iris, finalmente apertando a mão de seu primo.
-Você me lembra seus pais na aparência, mas eu devo confessar que a personalidade é muito parecida com a da Allys. -disse Henrique sorrindo.
-Espero que seja um elogio. Eu, infelizmente, não tive o prazer de convencê-la. -respondeu Iris, com o mesmo sorriso que o seu primo.
-Acredite, é um elogio. - disse Henrique- Mas vamos para os negócios, não é mesmo?! O que querem saber?
-Queremos saber sobre o caso que Artur Black e Camila da Silva estavam investigando. -disse Jorge, direto e reto.
-Eu sabia que não poderia esconder isso por muito tempo. -disse Henrique com um sorriso no rosto - Sentem-se, não é pouca coisa o que tenho que contar.
Iris e o tio se sentaram nas duas cadeiras a frente da mesa de Henrique, que se sentou na frente dos dois.
-Vamos do início. Depois que houve a guerra, muitos dos nossos melhores soldados nos abandonaram com medo, e outros saíram estrategicamente daqui para espionar os outros lados. Seus pais, Iris, foram uns dos que saíram estrategicamente. Seus pais e muitos outros dos nossos.
"Já que tínhamos perdido a guerra, e estamos reduzidos ao máximo, é importante sabermos do que está ocorrendo em todos os lados. Mas vamos à data que nos interessa!
No dia da morte de seus pais, eles estavam naquela ponte para atender a um alerta. O alerta dizia que havia inimigos na ponte, fazendo... Coisas malignas, por assim dizer.
Nós oferecemos reforços, mas eles negaram dizendo que devia ser um alerta falso (isso acontecia bastante). Mas, infelizmente, não era. Não sabemos quem, ou o que, os atingiu. Sabemos apenas que não foi algo dos seres-normais.
Eu seu que não são as respostas que você queria prima. Eu não tenho mais informações do que vocês, agora. Eu sinto muito; todos sentimos. Mesmo os seus pais não terem voltado mais para cá, eles eram alguns dos poucos que ainda mantinham a esperança do nosso povo viva. Todos perderam."
Todos estavam em silêncio. "Não pode ser só isso! Faltam peças... Tem que haver mais coisa!" pensou Iris.
Henrique de Almeira Black estava com o olhar fixado na sua mesa, refletindo sobre tudo o que havia dito; sobre tudo o que havia acontecido. Jorge Black estava olhando para uma porta, a direita da sala, mas não havia como saber no que o tio estava pensando. Até que Jorge finalmente disse:
-O banheiro ainda fica no mesmo lugar, ou vocês mudaram isso também?
-Ainda fica no mesmo lugar, Jorge -respondeu Henrique, rindo -Quer que o Antônio te acompanhe?
-Não, obrigado. Eu já sou bem crescidinho. -retrucou Jorge, rindo também.
Quando o tio saiu e fechou a porta, Henrique se levantou e verificou se Jorge já estava distante. Então ele se virou para Iris e disse:
-Ok, eu não fui sincero com você, Iris. Mas, para eu lhe contar a verdade, eu preciso que você não me interrompa nem faça perguntas. Faça isso somente no final se o seu tio não estiver vindo.
"Eu menti ao dizer que não sei quem os matou. Eu acho que foi Jorge Black, o seu tio. Pode parecer maluquice, por isso eu vou explicar.
Seu tio tem diversos motivos para fazer isso; O seu pai, irmão dele, sempre se destacou mais do que ele sendo que os dois eram igualmente capazes, e muitos outros motivos pequenos, sem importância. O principal é que... Bem, eu não deveria te falar, mas... Você é filha dos seus pais, mas foi gerada na barriga da Allys. Depois você fica chocada, ok?! Tenta prestar atenção aqui."
"É um pedido complicado" pensou Iris, fazendo um grande esforço para prestar atenção nele desde que ele revelou que achava que o tio havia matado os seus pais.
-Sua mãe tinha um útero quase que infértil -continuou Henrique -mas os seus pais queriam muito um filho. Allys sendo bondosa do jeito que era, ofereceu-se como barriga de aluguel para os seus pais. Jorge sempre fora contra a idéia, mas era ele contra três.
"Bem, tudo isso ocorrendo após a guerra, então havia vários problemas; estávamos com falta de médicos; os alimentos estavam escassos, etc. Mas para Allys, nada é impossível, porém ela estava errada.
Quando você nasceu de parto normal, houve complicações nos últimos instantes. Allys havia perdido muito sangue. Havia uma escolha; você ou ela. Allys optou por você, e não ela.
Por sorte, ela não morreu, mas até hoje está em coma.
Bem, para os nossos 'inimigos', há uma maneira de salva-la, mas é usando os métodos deles."
Eles ouviram uma batida de leve na porta.
-Estamos sem tempo. Neste vídeo tem as informações que faltam -disse Henrique, entregando a Iris um pen-drive- Veja-o quando puder. O que eu falo não é mentira. Eu mesmo era muito próximo deles, mas a verdade não está em minhas mãos, eu apenas estou te alertando porque você corre...
Eles ouviram duas batidas de leve na porta.
-Esconda o pen-drive. Ele está chegando.
Iris escondeu o pen-drive no bolso de sua calça. Era muita informação para processar... "Meu tio é um assassino?"
Então o tio entrou, e disse:
-Realmente, primo. O banheiro estava no mesmo lugar. -disse ele, rindo.
"Ok, agora que obtemos respostas, acho melhor nós irmos indo, Iris."
-Ah, é. Acho que sim. Obrigada por nos receber, Henrique!
-Eu que agradeço. Adorei tê-la conhecido, Iris. E me chame de primo! -Iris e seu primo se despediram com um aperto de mãos. "Ele é um bom ator." Pensou Iris.
-Venham me visitar mais vezes! Aqui é meio solitário. -reclamou o primo.
-Pode deixar. Vou tentar vir mais vezes! -respondeu o tio. "Será que ele planeja mesmo voltar, ou o Jorge disse isso só por educação?"
Eles se viraram e saíram pela porta. Andaram pelo mesmo corredor e pela mesma porta enorme. Quando eles passaram por ela, Iris olhou para trás e leu novamente a frase de Sócrates: "Conheça-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses". Iris só pode pensar em uma coisa; "como eu posso conhecer a mim mesma se eu nem conheço a minha verdadeira história?". É uma questão difícil.
-Sobrinha, você está bem? Você estava parecendo meio estranha, lá dentro. -perguntou Jorge. Ele também era um bom ator.
-Claro tio. Eu estou bem, sim. -mentiu Iris. Se tinha uma coisa que ela não estava, era bem.

Os três lados [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora