O que está acontecendo aqui?

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Iris acordou e viu que eram seis horas da manhã.
Ela não sabe ao certo o que a acordou, mas ficou aliviada.
Como ela já estava acordada, decidiu se levantar e preparar o café. Iris sabia que o tio acordava muito próximo daquele horário.
Então, ela lavou o rosto, se vestiu e desceu. Porém, um murmuro a fezela parar no meio da escada, amedrontada.
Ela ouviu um som de alguém murmurando algo. Era algo inaudível para ela a aquela distância, portanto, Iris se preparou para lutar, e se aproximou do inicio da escada, muito devagar e cautelosa.
Então, ela apurou os ouvidos e ouviu...
"Pera ai, essa voz... Eu conheço!"- pensou Iris, enquanto brotavam lagrimas em seus olhos.
Iris esqueceu a cautela, e saiu caminhando até a sala para ouvir mais daquelas vozes. As vozes pareciam tão felizes; tão jovens.
Algumas vozes pareciam familiares, outras, não muito. Mas todas pareciam música para seus ouvidos.
Quando ela conseguiu chegar até a sala, Iris viu Jorge vendo uma lembrança antiga da sua juventude. Ela conseguia identificar os pais, tão alegres e cuidadosos um com o outro. Ela se perguntava se os pais tinham se esquecido desse sentimento quando ela nasceu, pois Iris via os pais brigando toda hora. Ela esperava que esse sentimento entre eles não tivesse ido embora por causa dela.
Mas ali estava ela, a namorada de seu tio. Allys, um nome lindo que combina exatamente com ela.
Vendo ela agora, numa tela e com cores, Iris podia ver seus traços mais claramente. Ela era uma mulher alta, com olhos verdes e cabelos cor de mel ondulado. Dava para ver que a Allys tinha optado por ter cabelos longos.
O vídeo parecia estar mostrando um acampamento, com muita gente. Iris não sabia quem estava gravando o vídeo, até por que o tio, Allys e os pais dela estavam sentados nos bancos. Ela os via com grande nitidez... Ah! Quanta nitidez.
Ver os pais daquele jeito, tão diferentes! Tão... Tão se amando.
Iris, do nada, ouve a palavra "guerra", no vídeo, e, pareceu a ela, um banho de água fria. Mas, antes que pudesse entender tudo completamente, se viu envolvida em um abraço com o tio.
Ele parecia estar chorando, e ela percebeu que ela mesma estava chorando também. Enfim, Iris secou as lagrimas e perguntou, ainda com um nó na garganta:
-Tio, fale-me a verdade. Meus pais começaram a brigar por minha culpa, não é!?
-O que?- perguntou o tio, secando as lagrimas- Que bobagem, sobrinha! É óbvio que não foi culpa sua.
-Então, qual foi o motivo?
-Por enquanto, você não deve saber. Mas, se isso te alivia, foi culpa minha- disse Jorge, com uma cara de arrependimento
"Mas, fale-me: O que você está fazendo aqui, Iris? Não é demasiado cedo para você estar acordada?"
-Estava com fome. Eu ia para a cozinha preparar um sanduíche, ou algo do tipo, para comer. Até que eu ouvi um barulho vindo da sala, vi você e...
-O que você ouviu do vídeo?- perguntou o tio, interrompendo a mentira de Iris, com uma leve preocupação transparecendo
-Eu fiquei tão ocupada vendo a fisionomia dos meus pais, e as suas, que não prestei atenção no áudio- mentiu Iris, mas o que ela podia fazer? O que o tio escondia, e por quê? Ela não sabia até onde podia confiar no tio, que tinha se mostrado mais misterioso com a chegada do dia da viagem cada vez mais próximo. Ela tinha medo dos momentos em que o tio via pontos de interrogações, e ela via, somente, reticências.
-Quer tomar um café? Vai ser um dia bem agitado- o tio falou como se nada tivesse acontecido

-Então, tio... - Iris tentou quebrar o gelo presente entre eles,até porquê, querendo ou não, ele era sua família... O último resquício de família que ela tinha- Quando iremos para lá?
O tio, disposto a esquecer o que havia ocorrido na sala de estar, respondeu:
-Eu pretendo te levar para lá logo após o café, para dar tempo de almoçarmos lá e de você conhecer algumas pessoas
-Compreendo- falou Iris, dando um gole no café
-Você está doida para gritar, não é?- disse Jorge, com uma cara de "sabichão"
-Sim! AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHH!!!!!!
"Pronto, me acalmei"- disse ela, dando um suspiro de alegria
-Coma bem, e não às pressas. Você vai precisar ter energia para conhecer tanta gente. - concluiu Jorge, se retirando da cozinha para ir ao seu quarto.
Era uma tarefa difícil para se cumprir, na opinião de Iris (se você estivesse no lugar dela, também acharia isso), mas ela cumpriu com a sua missão, e mais do que rápido, foi para o quarto se trocar e pegar a mala. Sim, ela fez só uma mala, a pedido de Jorge, pois ela não pararia em uma casa, pulariam de hotel a hotel, pois nem o tio, nem os pais, tinham casa naquele mundo, tendo largado aquela vida de lado para quase todo o sempre.
Quando Iris estava se arrumando, viu a foto que ela tinha dos pais jovens, caindo da mala. Ao pegar a foto, se lembrou instantaneamente, do vídeo de hoje mais cedo, se lembrou das falas e do "banho de água fria", então, Iris começou a juntar as peças; a palavra "guerra"; e, se ela forçasse bem a memória, se lembraria dos rostos... Rostos rijos, e firmes; a atitude amorosa dos pais.
Para ela, era mais do que óbvio que eles estavam se preparando para a guerra, na qual eles perderam tudo, e talvez, nessa guerra a Allys, tão bela moça, se feriu tão gravemente que apenas uma adolescente de agora 15 anos (no inicio de sua juventude), pode salvar a sua vida.
Os pais, não sabendo se eles iam se ver depois de tudo aquilo, se declaravam como se não houvesse amanhã.
Mas, por que ela, Iris, iria salvar a tal Allys? Mulher da qual ela gostará desde o inicio, sem saber o por quê? O que ela tinha de especial, sendo que o tio falou, tempos atrás, de que ela era tão comum como qualquer outra pessoa?
Tantos pontos de interrogação, e sem nenhuma resposta, por enquanto.
O pior, é que ela não poderia falar dos seus pontos de interrogação com o tio, que deveria conter todos os pontos finais sobre tais assuntos.

Iris acordou para o presente quando ouviu o tio exclamar:
-Já está pronta, Iris?!
-Já estou indo, tio!
Ela pegou a foto e recolocou na mala. Estava disposta a esquecer toda aquela história, por enquanto, e curtir a viagem com o tio.
De vez em quando, ela dava uma olhadela pelo canto do olho para o tio, intrigada com tanta mentira, mas ela tinha um plano para conseguir tais respostas.

Os três lados [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora