Quem sou eu?

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Iris sentia que não estava se movendo, sentia todo o seu corpo, mas não via nada. Ela tentava andar, mas não adiantava o tio a segurava para ela não sair do lugar, então Iris segurou a mão de Lucas; o seu porto-seguro.
Iris nunca soube dizer se haviam se passado horas ou apenas segundos, mas do nada a escuridão se dissolveu e ela se encontrava em um lugar escuro. As únicas coisas que davam "luz" ao ambiente eram algumas plantas penduradas na parede, e algumas luzes de LED. Havia aquela plataforma na qual eles estavam e depois uma rampa que levava ao que parecia, um santuário com uma caixa enorme no centro. A rampa em si era bem iluminada, o que deixou Iris intrigada, "o que há além dos limites da rampa?". Mal sabia Iris que ela estava muito próxima de descobrir o que havia lá...
-Vocês acabaram de "viajar" de onde vocês estavam para aqui; até o meu "covil" secreto, abaixo da minha casa. Aqui eu vou esclarecer a vocês dois, perguntas e mostrar os seus verdadeiros propósitos neste lugar. Vamos até o outro lado, por favor.
Era óbvio que eles não tinham opção a não ser obedecer. Então eles caminharam pela rampa e Iris descobriu que fora dela só havia o abismo; o vazio sem fim. Um arrepiou percorreu a sua espinha e ela esperava que o tio não tivesse notado o medo que passou pelos seus olhos, mas ela duvidava que ele não houvesse notado. Lucas, como sempre, colocou a sua mão em cima do ombro de Iris. Isso aliviou um pouco o medo que ela estava tendo.
Chegando do outro lado, Iris viu que era bem mais iluminado do que o outro lado. Havia fotos na parede atrás da grande caixa, mas a pessoa das fotos... "Meu Deus, não pode ser!". Iris olhou para a grande caixa e viu o que estava lá. Iris deu um pulo para trás.
Não era uma grande caixa, era um "caixão", contendo Allys dentro.
-O que você fez com ela? -a voz de Iris parecia um sussurro. Lagrimas começaram a escorrer de seu rosto. Lucas a abraçou, mas ele também estava apavorado.
-Sentem-se. -disse Jorge com a voz mais calma do mundo, como se aquilo fosse extremamente normal. -Explicarei tudo, como eu já disse anteriormente.
Jorge se sentou em uma cadeira que estava virada de frente para o caixão. Ao lado havia outras duas cadeiras, como se estivessem esperando por eles.
-Como vocês devem ter percebido, quem está ali é Allys, a única mulher que realmente gostou de mim e não de me trair com o seu pai, Iris.
-O que? - novas lagrimas escorriam pelos seus olhos. "Não pode ser verdade!"
-Isso que você ouviu. Eu e seu pai não éramos tão diferentes. Éramos iguais em tudo, mas quando se fala de beleza, parece que o seu pai era melhor do que eu. Até hoje eu nunca entendi isso...
"Seu pai, Iris, não é tão santo quanto você pensa. Muito menos aquela vadia da sua mãe!". Era óbvio que o tio estava alterado.
-NÃO CHAMA A MINHA MÃE ASSIM! ELA NÃO TEM CULPA PELAS DECISÕES QUE ALLYS TOMOU! -Iris se levantou bruscamente fazendo a cadeira cair para trás com um estrondo. Ela também estava alterada.
-Sua mãe, Iris, era a minha namorada antes de seu pai roubá-la de mim. Mas isso são águas passadas. Se ela não tivesse tido a coragem para me trair e assumir na minha cara, eu não teria conhecido a Allys.
"Eu pensei que estava feliz. A única que realmente me amou como eu merecia, mas o seu pai não estava feliz o suficiente. Não bastava ter estragado a minha vida inteira, tinha que matar a pessoa que eu mais amava no mundo. E a sua mãe concordava, às vezes era até ela que planejava."
-Do que você esta falando? VOCÊ É UM ASSASSINO! -Iris já estava sentada na cadeira. Ela não queria, mas a cabeça dela girava. Lucas chorava também, mas não parava de abraçá-la.
-Eu sabia que uma hora você ia descobrir, mas não se esqueça que seus pais também são. Tudo acontece no seu tempo, agora eu entendi. -disse Jorge como se estivesse falando mais consigo mesmo do que com eles.
"Deixe-me explicar o que aconteceu. O que fez tudo chegar aonde chegou.
"A gota d'água foi quando os meus pais morreram. Eu estava visitando eles como eu fazia todo final de semana, quando minha mãe teve um ataque cardíaco. Eu estava lá, segurando ela no meu colo enquanto eu ligava para a ambulância. Seu pai foi visitá-la no hospital, mas não ficou muito tempo porque a sua mãe o chamou dizendo que tinha uma 'emergência'. FRACAMENTE, ERA A NOSSA MÃE, PORRA!". E dizendo isso, Jorge bateu em cima da mesa ao lado da sua cadeira. Iris queria sair dali, mas ela não conseguia. Havia algo no que Jorge falava que a fazia ficar e escutar tudo o que ele tinha para dizer. - Minha mãe morreu de decepção. Não era a primeira vez que ele a deixava lá, esperando pela sua volta.
"Meu pai morreu pouco depois, doente pela falta que sentia da sua amada e fiel companheira de vida. Eu sempre estive lá, eles sempre me amaram, mas seu pai nunca esteve, e quando esteve, era uma festa que só. Isso nunca aconteceu comigo.
"Eu me casei, e meus pais não estavam lá. Meu irmão e a minha cunhada estavam. Ingratos e egoístas estavam lá pelo dinheiro e pela comida de graça!
"Pouco depois do casamento, houve a guerra. Tantas vezes eu vi a morte passar rente a mim, a Allys... Mas sobrevivemos! Porém, seu pai viu que eu era feliz. Eu havia superado a morte de meus pais, eu estava bem! Mas a sua mulher, não. EU E ALLYS ESTAVAMOS BEM ATÉ OS SEUS PAIS MATAREM-NA! Mas não matar somente ela. Você, Iris, não era a única no ventre de Allys. Você matou o meu filho; o nosso filho.". Dizendo isso, ele olhou para o rosto de Allys, tranqüilo. Ela nem parecia estar no mesmo ambiente que eles.
-Não... -Iris chorava mesmo. Lucas a abraçou ainda mais, protegendo-a com os seus braços. Protegendo-a do perigo daquelas palavras; da verdade que aquelas palavras continham - É impossível!
-Pelo contrário. É verdade! Você já devia ter aprendido que estávamos com poucos médicos na época...
"É por isso que você é assim, Iris. Você nunca se perguntou por que, às vezes, você se sente fora de si? Você nunca se perguntou da onde vinham esses sentimentos estranhos que você sente? Essas coisas não são suas. São do meu filho.
"Você é Iris da Silva Black de Alcântara. Você é filha dos seus pais, minha e de Allys. Você não é uma, mas duas, ou dois. Nós nunca soubemos o sexo do bebê.
"Falando no bebê que agora é parte de você, quando descobrimos fora tarde demais. Você já havia matado ele. Allys chorou tanto. A única coisa que acalmou ela é que nós poderíamos tentar ter outro depois de você nascer, mas os seus pais não queriam nos ver feliz. Seus pais tinham que matar ela, porque eram egoístas demais. Foi um alívio ter matado eles, mas não era sacrifício o suficiente. Eles queriam mais sangue, e é por isso que você está aqui, Iris. Você vai morrer para fazer a sua mãe viver."
Iris estava em choque. "Meu tio é meu pai, também. Ele matou os meus outros pais e agora quer me matar para reviver Allys?!"
-Você ainda não entende, e não temos tempo para isso, mas ninguém é totalmente santo. Todos temos os nossos demônios, eu apenas deixo o meu mais explícito.
"Seu pai era uma pessoa horrível, igual a sua mãe. Allys é a única pessoa pura que havia nesse mundo.
Você pensa que o seu primo, o Henrique, que ele lhe revelou tudo isso para 'te proteger'? NÃO! Ele só quer me prender, porque até agora ele não conseguiu. Ele está te usando, Iris. Todos te usaram! Ninguém faz nada, hoje em dia, sem querer algo em troca. Todos estamos corrompidos pelo mau, eu apenas tirei proveito disso.
Eu não cheguei até aqui sozinho; a todo o momento, tudo e todos, colaboraram para eu chegar neste estado, tendo os amigos e os poderes que tenho.". Jorge começou a se levantar. Ele estava caminhando na direção de Iris. Ela estava muito assustada, tão assustada que ela não conseguia se mover. Jorge estava estendendo o seu braço para segurá-la. Tudo passava em câmera lenta, "isso nunca vai acabar?".
Acabou quando Lucas puxou-a para o lado. Foi um gesto inesperado para Jorge, mas ele não desistiu. O desejo de salvar a sua esposa ultrapassou os limites.
Lucas puxou-a para o lado e, segurando a mão dela, guiou-a até o outro lado da rampa. Havia uma porta lá, eles só não sabiam se era fácil de se abrir.
-Se você quiser me encontrar, Iris, eu estarei na ponte em que tudo começou. -gritou o tio, segundos antes de Iris e Lucas conseguirem abrir a porta para sair daquele lugar.
Iris ouviu aquelas palavras, mas só foi analisá-las depois. Quando Lucas e Iris saíram pela porta, a escuridão voltou e do nada eles se virão em frente à porta do salão de treinamento. Iris estava assustada; Lucas estava assustado. Uma coisa era acusarem Jorge de assassinato, outra coisa era saber a verdade sobre a sua família inteira. Iris sabia que ninguém é perfeito, mas os seus pais... Ela só queria entrar e tentar relaxar.
Lucas abriu a porta devagar para Iris. Ela foi entrando cabisbaixa, Lucas estava atrás dela. Eles estavam indo dormir, pois já era tarde, quando Lucas se lembrou de Daniel e Bruno.
-Iris, cadê o Bruno e o Daniel?
-Eu não sei... Eu nem vi eles ainda. É melhor ligarmos as luzes.
Quando eles ligaram as luzes, Iris e Lucas ficaram espantados. Estava tudo bagunçado; revirado. Tinha sinais de luta, mas nenhum sinal de vida. Agora tudo se encaixava.
-Ele tinha dito que se eu quisesse encontrá-lo, eu deveria ir até a ponte onde tudo começou... Ele armou tudo isso. ELE SABIA! -Iris disse irritada, e com razão. -E se eles não estiverem mais vivos? Seria minha culpa também!
-Eles estão vivos - disse Lucas com um olhar frio.
-Como você sabe?
-Se eles não estivessem Jorge não teria dito onde encontrá-lo. Ele quer algo em troca, pela vida deles. E eu acho que nós já sabemos o que é...
-Acho que sim... -disse Iris, pensativa - Se for necessário, vale a pena.
-NÃO! Tem que haver um modo de salvarmos eles sem você ter que se sacrificar!
-Eu não vejo outra maneira.
-Sempre tem outra maneira! Vamos para lá juntos. Vamos salva-los e depois vamos todos para um lugar seguro.

Os três lados [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora