Iris

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Iris estava desnorteada. Onde estava? “Aqui não é o sótão...”.
Iris viu o corpo de Jorge, e o dela próprio, sumir do nada; sem mais nem menos. Ela nem suspeitava que poderia ser obra de Jorge, afinal, ela o matou; ela o viu morrer. Mas para onde fora o seu corpo? E o dela?
A única coisa que Iris sabia é que ela estava em um lugar amplo, com uma iluminação péssima. As paredes pareciam estarem pintadas de azul marinho e ela parecia estar sozinha.
Sozinha talvez seja uma palavra forte. Dava para ver uma mesa ampla, que parecia ser de metal. Fora isso, ela estava só.
Iris tentou avançar para dar uma olhada na mesa, mas ela mal deu três passos e um vulto começou a se mexer, vindo de trás da tal mesa. Iris congelou.
-Que-quem é você?
- Não me reconhece mais, sobrinha? – depois de falar isso, Jorge deu um passo para frente, ficando em um lugar com um pouco de iluminação, dando assim para ver o seu rosto.
- Não... Não pode ser! – Iris começou a se afastar, mas acabou tropeçando e ficou sentada, em choque.
- Eu não te julgo por ter me matado, e nem por reagir assim. Você tinha acabado de me matar; tinha acabado com o seu passado, e agora ele volta?
-Como?
- Ah, minha querida, um mágico nunca revela os seus segredos. Mas saiba que aquilo foi só um teste para ver do que você era capaz. Você passou no teste.
-Você queria que eu te matasse?
-Claro. O que eu poderia esperar da minha sobrinha?
-Você poderia esperar tantas outras coisas... Você poderia esperar que eu fosse uma pessoa normal, com um diploma e uma vida sem muitas preocupações. – uma lágrima escapou dos olhos de Iris, já cansados e desidratados de tanto chorar.
-E eu desejei tanto isso a você, Iris. Só que tudo mudou quando eu soube que a vida da minha amada dependia da sua morte.
-Mas, não há outra coisa que você possa fazer para ela voltar a vida? Não há... – Iris engoliu em seco – outra pessoa?
Jorge deu uma risada curta e seca, acompanhada de um meio sorriso. – Eu tentei. Tentei tanto... Mas é você, Iris. E somente você.
-Como a Allys reagiria quando descobrir o que você fez? – Iris sempre vira essa pergunta mexer com as pessoas, em filmes.
-E isso importa para você? Não vai lhe fazer a menor diferença, eu garanto.
Os dois passaram algum tempo se olhando; se analisando. Iris percebeu que seu tio tinha uma aparência diferente... Talvez fosse a idade, ou então a vida que levava, mas ele parecia mais velho e mais cansado do que da última vez que Iris o viu. Porém, Iris tinha certeza que se ela tentasse lutar contra Jorge, ela perderia. O fato de Jorge ter os poderes “ampliados” não a assustava, pois ela tinha a sua “bolha" que poderia se comparar com isso. O que a preocupava era a sua determinação; a sua vontade insaciável de vencer a todo custo.
 
Do mesmo jeito que Iris examinava Jorge, ele fazia o mesmo com ela. A verdade é que Jorge não esperava, cem por cento, que Iris o matasse. Ela era uma criança tão doce e inocente... Mas ele a admirava, também. Iris se adaptou rápido a esse mundo, fazendo amigos – E namorado – rápido. Havia treinado e se mostrado boa desde o primeiro dia. Iris também havia se mostrado forte e poderosa. Ela também tinha se mostrado mais forte que ele; seu tio. Iris tinha achado um motivo, um ótimo motivo, pelo qual lutar. Isso poderia ter ameaçado Jorge, mas ele acreditava ter cuidado disso.
Após todo esse tempo de troca de olhares, Jorge decidiu acabar com isso de uma vez. Iris apenas viu o tio levantar o dedo indicador e move-lo no ar. Iris estava achando que ele estava falando com ela, mas quando percebeu o que realmente era, ficou novamente paralisada.
Do nada surgiram algumas correntes de ferro flutuando pelo lugar. “Como elas podem estarem flutuando? Jorge jamais poderá controlar algo além dos quatro elementos! Não é possível!”.
Sendo possível ou impossível, o fato é que aquelas correntes estavam se enrolando em seus pulsos e indo se prender no teto, deixando Iris com os braços levemente levantados. A sensação de Iris era de ser uma prisioneira.
-Estou um pouco cansado, sobrinha. Todos esses feitiços e essa conversa me cansaram. Talvez amanhã eu volte com um pouco de comida para você. Talvez...
-Espera!! Jorge! TIOOO!! – Iris gritou, mas já era tarde; Jorge a havia dado as costas. De nada adiantava mais gritar, mas a esperança é a última que morre. Porém, a única coisa que Iris tirou dos seus gritos foi uma rouquidão e sede.
 
Iris dormiu muito mal. Ela não conseguia se sentar, muito menos se deitar, então ela teve apenas pequenos cochilos em pé.
Apenas na tarde do dia seguinte Jorge voltou, trazendo comida e disposto a conversar.

***

Os três lados [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora