Sumiços

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- Iris?! E.... Jorge?! – disse Lucas. Lágrimas escorriam pela sua face.
-Me perdoe, Lucas... – disse Iris, reconhecendo a voz de Lucas e, enfim, fazendo algo que desejava a muito tempo. A sua adaga de gelo enfim cortou a garganta de seu alvo. Era quase como se Iris estivesse passando a faca na manteiga. A adaga deslizou com tamanha facilidade...
Sangue escorria pelo pescoço de Jorge, sangue que encharcou as suas mãos. Ela nunca imaginara que algum dia, em toda a sua vida, teria que se preocupar em tirar sangue de suas mão. Tirar o sangue de suas mãos reais, porque o sangue que esteve ali, sempre estará presente em sua alma (sua alma agora também manchada, não apenas de sangue, mas também de escuridão).
Passado aqueles sentimentos que a fizeram tomar a atitude de matar Jorge, lágrimas ocuparam o seu rosto. Iris começou a chorar e a soluçar. A culpa a invadira; pior ainda, a realidade a acertava sem dó. O pior é que ela não sentia remorso algum.
Iris estava muito confusa em relação aos seus sentimentos. Ela se sentia triste, mas ao mesmo tempo, sentia como se sua missão estivesse cumprida; Iris se sentia bem, mas ao mesmo tempo, sentia uma escuridão crescendo no intimo do seu ser. Tudo estava girando.
Então, como se toda a maldade do mundo estivesse concentrada no corpo (agora, teoricamente, morto) do tio, Iris foi se afastando de perto do corpo, com um horror estampado em seu rosto. Um rio parecia descer dos seus olhos. Uma confusão de sentimentos dentro de si. Tudo isso acontecendo ao mesmo tempo.
Nunca, na sua vida de humana “normal”, Iris havia sonhado que era filha de pais que tinham poderes baseados nos quatro elementos; que ela própria tinha também esses poderes. Quando que ela poderia imaginar que o seu tio era um assassino que utilizava da magia obscura? Quando ela poderia imaginar que a sua vida tomaria esse rumo?
 
Lucas não sabia como reagir a tudo isso. Ele nunca imaginará que Iris pudesse matar alguém! Então ele apenas a abraçou, com certa cautela.
 
Após certo tempo, Iris percebeu que o corpo de Jorge estava sumindo, evaporando, do nada.
Iris, impressionada e aterrorizada, limpou as lagrima dos seus olhos para conferir se era real aquilo que ela estava enxergando; e era.
Iris já estava se levantando quando percebeu que ela também estava “evaporando”. Lucas quase nem acreditou, mas quando Iris se virou para ele, com um olhar suplicante nos olhos, ele percebeu que aquilo tudo era mais do que real.
Lucas tentou pensar em alguma coisa, mas segundos depois, Iris havia sumido. E ele viu tudo, sem poder fazer nada. Seu grito ficou para sempre nas cabeças de Bruno, Miguel e Daniel, que testemunharam a última parte de Iris evaporar. Mas, para onde?
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Bruno, Daniel e Miguel haviam saído para dar uma volta por ai. Quando voltaram, eles viram a bagunça que estava na cozinha e perceberam que, nem Iris e Lucas estavam por perto. Eles também repararam que Sara havia ido embora.
Os três acharam isso muito estranho, então subiram para ver onde os dois estavam e se depararam com o caminho para o sótão aberto. Eles subiram e, para a surpresa de todos, viram Lucas chorando e Iris desaparecendo como mágica.
Os três ficaram imóveis, principalmente após o grito de Lucas chamando a Iris, como se, com a sua força de vontade, ele pudesse trazê-la de volta.

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Após o grito, Lucas caiu de joelhos, destruído; derrotado. Com as suas mãos em seu rosto, ele não viu Bruno, Miguel e Daniel o abraçar, mas ouviu os seus passos.
O abraço foi reconfortante, mas não anulou os seus sentimentos de querer vingança.
Tantas coisas se passavam pela sua cabeça, mas a imagem da vingança o marcava. E quando a lembrança de Sara se juntou a tudo isso, Lucas não conseguiu separar um fato do outro.
-Foi a Sara... -murmurou Lucas
-Lucas, o que aconteceu? – perguntou Bruno, quebrando o silêncio que havia pairado.
-Cadê a Sara? – sem esperar por uma resposta, Lucas se levantou abruptamente e foi descendo as escadas, cada vez mais rápido e gritando cada vez mais alto o nome de Sara.
Todos o seguiram, a certa distância. Mas, chegando ao portão da casa de Sara, Lucas gritou exigindo sua entrada, ameaçando derruba-lo. E, como ninguém havia respondido aos seus chamados, então Lucas simplesmente deu uns cinco passos para trás e utilizou a sua metade ar para arrombar o portão. Com a porta da casa não foi muito diferente.
Finalmente dentro da casa de Sara, ele estava já possuído pela raiva. Não a encontrava em lugar algum.
-ONDE VOCÊ ESTÁ SE ESCONDENDO, SUA VADIA! TEVE TANTA CORAGEM PARA TENTAR ME SEDUZIR, E AGORA NÃO QUER ME RESPONDER APENAS UMA PERGUNTA?
Lucas estava ficando desesperado. Sem a resposta de Sara, ele não teria ideia de onde Iris poderia estar. Sem saber onde Iris estaria, como ele poderia resgata-la?
Quando ele estava prestes a se dar por vencido, Lucas, Bruno, Daniel e Miguel encontram, embaixo do tapete da sala de estar, uma porta secreta. “Só pode ser lá que ela está!”
Lucas estava quase entrando quando, de repente, Sara aparece atrás dele.
-Já deu de chilique? Ou vai gritar mais mentiras sobre mim, na minha casa?
-Você... -Lucas não tinha o poder do fogo, mas de seus olhos eles pareciam saltar.
-Eu?! -"Que sínica!”
-Você pegou a Iris...
-Ãhn, acho que não.
-PARE DE MENTIR!
- Que gritaria é essa? – era Robert. “Coitado, nem deve saber a verdade sobre a Sara... Mais uma vítima.”
-Ele sabe? -Lucas pergunta. Sara sabia do que ele estava falando, não havia necessidade de explicar. Porém, antes mesmo de Sara responder, Lucas já sabia a resposta pelo seu olhar.
-Deixe ele fora disso! – “descobri seu ponto fraco...”
-O que diabos está acontecendo aqui? – O olhar de Robert ia de Sara para Lucas.
Lucas apenas lançou um olhar para Sara. Era tudo o que ele precisava para mandar um recado direto e reto para Sara: “Me fale de Iris, e ele jamais saberá quem você realmente é.”
-Robert, porque você não entra? Eu preciso resolver umas coisas com nossos convidados... – Sara desviou seu olhar de Lucas, apenas por um instante, para olhar nos olhos de Robert, quase suplicando para ele entrar e confiar nela.
-Está tudo bem? – Se no início da interrupção o olhar de Robert tinha mostrado raiva, agora mostrava preocupação.
-Sim, querido. Mas, por favor, entre. – Robert deixou a sala todo desconfiado, mas saiu.
Sara trancou a porta após a saída de Robert, e murmurou algumas palavras que Lucas não conseguiu ouvir, mas sentia que só podia ser algo envolvendo a magia obscura.
Após acabado esse ritual, Lucas voltou a afirmar:
-Você pegou a Iris.
- Não, eu não a sequestrei...
-Não venha mentir para mim! – Disse Lucas, interrompendo Sara.
- Eu posso terminar de falar? – Após perceber que Lucas ficaria calado, ela prosseguiu – Eu sempre soube que você era muito apressado... E fraco.
Lucas ia protestar, mas Sara levantou a mão pedindo – exigindo – silêncio. Lucas se calou antes mesmo de falar.
- Como eu dizia, eu não a sequestrei. Mas eu ajudei Jorge a conseguir sequestrá-la. O que me torna cúmplice...
-Por quê? Ela nunca lhe fez nada!
- Não é essa a questão, Lucas. O mundo não gira ao seu redor, está bem?!
“Nós, da magia obscura, somos muito unidos. Jorge tinha um bom plano; algo que poderia dar a ele mais alegria e vivacidade. Talvez até trouxesse mais uma pessoa para o nosso lado!
O que aconteceu foi que ele falou as suas necessidades para executar o plano e nós apenas o estamos dando todo o suporte necessário. Não é nada pessoal”
-E Robert?
-Ele não tem nada haver com isso. Ele nem sequer sabe.
“E nem tente fazer nada contra ele. Eu o protegi com alguns feitiços inofensivos para Robert, mas não a quem o atacar.”
-Não sei o que a fez pensar que tentaríamos algo contra Robert.
-O que Jorge fará com Iris seria motivo de sobra.
-O-o que Jorge vai...
-Ele vai mata-la da pior forma possível.

***

Os três lados [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora