O que é para acontecer, acontecerá

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Iris saiu correndo para o mais longe que pode dali. Aos poucos ela "retornava" a ser ela mesma e não a telespectadora de tudo. O gelo que saía de seus pés ia se "esgotando" e ela estava ficando cansada.
Por fim, parou perto de um lago. Tinha um tronco de árvore caído ali perto, então ela se sentou lá e descansou. Descansou e começou a pensar em tudo o que ela tinha feito somente naquele dia.
-O que eu fiz meu Deus?! Agora todos vão me odiar mais do que já odeiam!
-Nem todos...
Iris se virou para trás e viu o Lucas sorrindo. "Como é bom ver um sorriso conhecido e verdadeiro!". Lucas vinha segurando uma garrafa em suas mãos.
-Como é bom te ver! -E dizendo isso, ela se levantou e foi abraçá-lo.
-É uma pena que nosso primeiro abraço seja nessas circunstâncias.
-Verdade - disse Iris soltando-o.
"Mas, o que você está fazendo aqui?" pensou Iris.
-E o Daniel?
-Ah, ele vai ficar bem. Eu o conheço o suficiente para saber que não vai ser isso que vai derrubá-lo.
Os dois sentaram no tronco e ficaram olhando a água se mover para frente. Sempre reto, rumo a um futuro desconhecido por eles, mas parecia ser lindo... Até que Iris se lembrou da garrafa e perguntou:
-O que tem ai na garrafa?
-Ahn? -Ele parecia ter se distraído com o lago, até que ele se lembrou- Bem, como não estamos tendo um bom dia, eu pensei em trazer algo que talvez nos animasse... Álcool.
-Álcool?! Mas somos menores de idade e eu nunca bebi antes!
-Você não precisa tomar. Eu também nunca bebi antes, mas dizem que te faz esquecer as coisas ruins do dia...
"Ok, eu vou beber um gole." E dizendo isso, Lucas virou a garrafa na boca e bebeu.
-Agh, é forte!
Iris começou a rir de verdade.
-Mas é claro! O que você esperava?! -De alguma forma aquelas palavras mexeram com a sua cabeça. O riso se transformou em lagrimas e ela começou a chorar bem ali. Iris se encolheu. Ela não queria que o Lucas a visse chorando, mas do nada, sem aviso, Iris sentiu os dedos de Lucas tocando nas suas costas, avançando devagar para tentar abraçá-la. Obviamente ele estava receoso de fazer isso, por isso quando ela levantou o rosto e abraçou ele, ele recuou um pouco, mas depois que viu que era seguro, ele abraçou-a de volta.
Iris estava com o rosto enfiado no seu peito, chorando que só. Mas o choro ia passando à medida que ela percebia que, de fato, o Lucas estava ao lado dela, apoiando-a mesmo sem conhecê-la direito. O coração de Lucas batia acelerado. "É, ele está aqui.", pensou Iris.
Então, ela parou de chorar e se desvencilhou do abraço, mas ainda com as mãos na cintura do Lucas, e então ela olhou para o Lucas, olhou no fundo dos seus olhos. E ele também retribuiu o olhar. Os dois se olhando profundamente um para o outro.
Até que ele começou a aproximar o seu rosto do de Iris. Iris também aproximou levemente o seu rosto do dele. Aquilo estava lhe causando borboletas na barriga, "o que será que isso significa?".
Iris podia sentir a respiração de Lucas no seu rosto. Ele estava nervoso. Talvez tão nervoso quanto ela. Então os seus lábios se tocaram e...
-LUCAS? IRIS?
Os dois se afastaram e olharam para trás. "Quem será que é?!"
-AQUI! -Gritou Lucas e foi ao encontro da pessoa.
Iris se levantou e foi ver quem era.
-Daniel?! Como você me... Achou-nos? -perguntou Iris.
-Ah, vocês estão ai! -ele estava mancando um pouco. -Achar vocês foi fácil. Seu rastro, Iris, é inconfundível.
"Ah, o gelo..." Iris não sabia se ficava feliz ou decepcionada pelo Daniel ter aparecido bem... Naquela hora.
-Mas, o que vocês estão fazendo aqui? -perguntou Daniel. Seu tom malicioso estava evidente.
-Ah, nada de mais. Eu trouxe uma garrafa de álcool, mas Iris não quis beber... Mas você está bem? -disse Lucas, parecendo que não tinha notado o tom de Daniel. Na verdade, ele parecia estar tentando quebrar o gelo que havia entre ele e Iris. Parece que o Daniel sentiu a tensão no ar.
-Cara, eu estou mais do que bem! Eu apanhei de uma garota!
-Você não deveria se sentir fraco, envergonhado ou até mesmo com dor? -disse Iris querendo se juntar no assunto.
-Mas é claro que não! As garotas daqui se acham mais fracas do que os homens e isso é um saco! Vocês são tão competentes como nós, homens! Mas são poucas que percebem isso.
-Nossa... -Iris estava realmente espantado. Ela nunca parou para pensar nisso, mas é verdade. Inconscientemente, ela tem pensamentos machistas, mas isso não é culpa dela. Esses pensamentos vieram de "brinde", junto com uma sociedade machista. "O homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe; Rousseau". Iris gostava um pouco de filosofia.
-Ok, ok. Vamos acampar aqui? -sugeriu o Lucas
-Claro! - disse o Daniel
-Pera ai. Mas e o tio? Eu preciso avisá-lo! -Disse Iris. Ela tinha que dizer isso?! Pior que tinha...
-Não se preocupe. Pelo jeito que ele precisou sair às pressas hoje, no café, ele vai estar beemm ocupado a noite inteira. -disse o Lucas, tentando tranquilizá-la. Mas parece que não funcionou.
"E eu avisei o Sem-Olho que eu estava vindo atrás de você nessa direção."
-Ah, tudo bem então, eu acho...
-Agora que entramos em um acordo, eu vou buscar a lenha para fazermos uma fogueira! -disse o Daniel
-Você está doido? Você está machucado. Não pode buscar lenha assim! -Protestou Lucas
-Cara, está fazendo um sol que ta louco. E a essa hora não há nada de perigoso aqui.
"E outra, como nós vamos almoçar se alguém não for pegar lenha?"
-Eu posso ir! -disse Iris. Para falar a verdade ela não sabia se queria ficar com o Lucas. Estava, novamente, confusa.
-Não, não. Você e o Lucas fiquem aqui. Eu posso ir sozinho e não estou tão ferido assim. Fim da discussão!
E dizendo isso, lá se foi o Daniel, buscar gravetos enquanto ela e o Lucas ficavam só olhando. Até que o Lucas disse:
-Acho melhor nós organizarmos um lugar para por os gravetos e ir planejando o que comer no almoço.
-É...
Então eles se viraram e reservaram um lugar para por os gravetos. Não muito na beira do lago, mas nem tão distante.
Eles ajeitaram o tronco caído para ficar em uma posição boa em relação ao fogo e ao lago. Planejaram os lugares onde cada um iria dormir se nenhum adulto desse falta deles e os viesse procurar.
-Eu acho que é melhor eu dormir desse lado do fogo, depois o Daniel na ponta e você do outro lado do fogo. -disse Iris. Ela deixou óbvio demais que ela não queria ficar muito perto do Lucas.
-Nós não podemos mais continuar fingindo que aquilo quase aconteceu. Precisamos falar sobre!
-Mas falar o que, Lucas? Não tem o que falar!
-Claro que tem!
-O que, então?
-Podemos continuar de onde paramos!
Iris ficou paralisada. Ela jamais imaginou que ele falaria isso.
O Lucas deu um passo à frente, diminuindo a distância entre eles. Iris não recuou. No fundo ela queria isso. Então ele colocou a sua mão no rosto dela. Estava suja de terra, mas era bom.
As borboletas voltaram. Ela sabia o que estava por vir. De novo, ela olhou nos olhos cor-de-mistério. Aqueles olhos a atraiam ainda para mais perto dele. Seus lábios se tocaram novamente. Sua mão estava na cintura de Lucas. O beijo ia começar a acontecer quando eles ouviram um barulho de galhos se quebrando...
-Que merda! Eu estraguei tudo!
Iris e Lucas bufaram de raiva e reviraram os olhos. Que ótima hora para o Daniel aparecer!
-Desculpa gente! Eu era o que mais queria que isso acontecesse, está legal?! EU fiz isso...
-QUASE ACONTECER - gritaram Lucas e Iris.
-Está bem, está bem. Eu estraguei etc., mas agora que vocês sabem que querem, vocês podiam fazer agora! E o melhor é que eu não vou precisar me esconder!
-Eu estou com fome. Precisamos almoçar. -Iris queria beijar o Lucas, é verdade. Mas na frente do Daniel... É para ser algo especial entre eles, sem telespectadores. E ela estava com fome, também.
-Podemos pegar alguns peixes e assamo-los no fogo. -disse o Lucas
-Eu pego os peixes - disse o Daniel
-Não, dessa vez eu vou! -protestou Iris
-Iris, é melhor o deixar ele ir. Ele tem um talento para isso- disse Lucas
Iris ficou com um pé atrás, mas deixou o Daniel pegar os peixes.
-Eu vou lavar as minhas mãos. Enquanto isso você poderia ir acendendo o fogo, Lucas.
-Claro. Depois de você eu lavo as mãos.
Então Iris foi lavar as mãos mais a baixo do lugar onde o Daniel estava pescando. Ela tinha medo de espantar os peixes, mas Iris estava com medo de se afastar de mais deles.
Depois de ter lavado as mãos, Iris viu o seu próprio reflexo sendo exibido no lago. Então ela se lembrou da cafeteria. "É, nós nos encontramos de novo. Eu devo dizer que não é um momento muito bom para mim. Mas para os seus planos é perfeito.". Iris não consegue se lembrar quanto tempo passou olhando para o seu próprio reflexo. Ela só se lembra de ter ouvido um "IRIS?! ALMOÇO!". Então ela lavou o rosto e foi junto dos garotos. Novamente ela sentiu que não seria a última vez que ficaria hipnotizada pelo próprio reflexo, que parecia ter mais vida que ela própria.

-Ou eu demorei demais, ou o Daniel realmente tem talento.
-Eu te falei que ele tem talento! Você que se nega a acreditar.
-Falou... Mas vamos comer!
Daniel pescou três peixes para eles comerem. Era a primeira vez que Iris comia algo tão "natural" e "fresco".
-Antes de vocês começarem a assar os seus peixes, eu trouxe um tempero caseiro para dar um sabor no peixe. -disse Lucas
-Não me diga que é aquele tempero que você faz?! -perguntou Daniel. Sua barriga roncou no mesmo instante.
Lucas deu uma gargalhada. Ah, era tão doc... "Se concentra Iris!"
-Sim, Daniel. Esse mesmo.
-Iris, você precisa provar isso!! Você vai se arrepender de não ter provado antes!
-Vamos ver se esse tempero é tão bom quanto vocês dizem... -disse Iris em tom de desafio.
-Oh hohohoho, agora você vai ver o que é bom de verdade - disse Lucas, revidando
Iris entregou o seu peixe no espeto para o Lucas e ele espalhou o tempero por cima do peixe. Ela assou o peixe e depois provou. O mesmo fizeram eles.
Realmente, Iris se arrependeu de não ter provado antes. O tempero era extraordinariamente bom!! É inexplicável! Aquele sabor não tinha definição...
-Meu Deus... Isso daqui é bom demais!!! -disse Iris de boca cheia.
-Eu sei, eu sei. Eu sou O cara! -disse Lucas, bem convencido.
-Ele é O cara, mesmo - disse o Daniel, igualmente de boca cheia.
Todos comeram o peixe com o maravilhoso tempero do Lucas. Lógico que depois de uma refeição tão boa, eles foram tentar tirar um cochilo. Iris estava receosa por todos dormirem ao mesmo tempo e não ter ninguém vigiando, mas os dois lhe garantiram que era seguro, mas nesse ponto ela não arredou o pé.
-Eu vigio e vocês descansam. Depois nós trocamos se quisermos.
Os dois aceitaram. Não tinha muito que fazer.
O Daniel dormiu quase que instantaneamente. Até roncou.
Já Lucas pareceu demorar mais. Ele se remexia de um lado para o outro, até que ele parou de se mexer e finalmente pareceu dormir.
Iris, em momento nenhum, olhou para trás para verificar se eles estavam dormindo ou não. Ela se intreteu em brincar com um capim que estava crescendo. Sua cabeça estava a mil... Ela estava tentando processar tudo o que havia acontecido; os dois quase beijos; o ataque que ela teve...
-Ei, você está bem?!
Iris deu um pulo e quase gritou, mas Lucas colocou a mão dele sobre a boca dela.
-Sssshhh, ele ainda está dormindo! -sussurrou o Lucas, apontando para o Daniel.
Iris assentiu e então o Lucas tirou a mão dele da boca dela. Os dois ficaram ali, brincando com os capins que estavam crescendo, até que Iris percebeu que o Lucas realmente estava do lado dela (não era a primeira vez naquele dia que ela notava isso). Ele tinha provado isso inúmeras vezes naquele dia. Ela analisou cada detalhe dele; a sua mão, que é tão delicada, enquanto "brincava" com o capim; os seus pés; as suas pernas; o seu peito que estaria eternamente manchado com as suas lagrimas; os seus braços que a envolveram em um dos abraços mais calorosos que ela já ganhou; o seu pescoço; e por fim, o seu rosto. Ela reparou em cada detalhe dele e memorizou cada um; eternizou cada detalhe na sua memória.
Ela percebeu que o Lucas havia reparado que ela não parava de olhá-lo, porém parecia que ele estava fazendo o mesmo com ela. Iris não podia esperar mais, então ela disse:
-Lucas. -isso atraiu a atenção dele para o rosto dela - Me bei...
Ela nem concluiu a frase quando ele beijou-a. Ele não foi bruto como ela pensaria que seria pela maneira como ele chegou. Foi "gentil" e diminuindo o ritmo à medida que o coração deles ia voltando ao batimento normal. Lucas havia colocado sua mão esquerda no chão ao lado da perna de Iris, e a outra mão no rosto dela.
A mão direita de Iris estava no chão, próxima a do Lucas. E a mão esquerda estava na cocha do Lucas. Eles, em si, não repararam que estavam com as mãos nessas posições. Foi algo bem "automático". Quando o beijo desacelerou a ponto de parar, eles ficaram se olhando, nariz tocando nariz. Eles estavam um pouco ofegantes pela duração do beijo, mas depois de certo tempo, o Lucas deu três selinhos em Iris e beijou a sua testa, depois tirou a mão do rosto dela. Após isso, ele se desvencilhou daquela "atmosfera" tensa que ia surgir de novo e se deitou no chão, com os braços abertos e os olhos fechados, apenas olhando para o céu. Iris ficou encarando ele, sem acreditar que eles tinham finalmente se beijado, até que ele entreabriu o seu olho esquerdo e convidou ela para se deitar ao seu lado.

Os três lados [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora