Metade de Mim

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Olha, o amor não é algo que possamos terminar, definir ou controlar. O amor é como a arte: uma força que entra em nossas vidas sem quaisquer regras, expectativas ou limitações. O amor, como a arte, deve ser sempre livre. (Hernando)

Sense8
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         Sarah Andrade.

Meus olhos se fixa na mão de Juliette enquanto ela faz uma trança de lado no próprio cabelo.

A parede fria é um incomodo para as minhas costas, são como pequenas agulhas dando beliscões na pele nua. Mas eu me recuso a me mexer dessa posição.

É como prender a respirações por vários minutos, esperando o predador finalmente dar o bote. Você não tem coragem nem de piscar, o medo sendo um paralisante natural.

O Predador nesse caso nem olhou para mim nos últimos 10 minutos, olhando para algum ponto invisível na sua visão periférica.

Isso é muito pior do que se ela ficasse olhando fixamente para mim e julgando cada movimento meu.

É como se ela não se importasse mais, como se eu não fosse algo digno da sua atenção. Minhas mãos tremem um pouco e eu aperto os dedos entre a palma.

Ela solta um suspiro e eu pulo um pouco sem querer.

Juliette me lança um olhar zombateiro e eu consigo soltar um pouco a respiração.

_ Precisamos conversar._ Ela diz novamente, o rosto muito sério, aquele tipo de rosto que você espera de uma advogada no meio de um tribunal. Meu coração bate um pouco mais rápido.

_ Você já disse isso e ainda não disse nada._ Minha voz sai alta demais, rouca demais. E eu só quero sair correndo pela aquela porta e encher a cara de tequila com alguma outra coisa misturada.

Juliette dar aquele sorriso mínino, aquele que diz "ótima piada, eu vou sorrir pra não ficar feio mas não foi engraçado."

_ Eu...pensei por um tempo, procurando as palavras certas._ Ela solta baixinho, empurrando o óculos para cima. Só então eu percebo que as mãos dela também tremem um pouco.

Juliette se vira totalmente na minha direção. Ela está encostada na cabeceira da cama enquanto eu estou escorada no meio.

Eu fico observando a trança dela se desfazer lentamente enquanto ela termina de procurar as palavras certas.

_ Quando eu entrei aqui, nesse programa, nunca nem cogitei a Hipótese de me apaixonar por alguém._ Ela diz por fim, segurando o meu olhar. A luz do quarto faz o castanho ficar dourado e o branco reluzente.

Ou talvez essa só seja a minha percepção de uma pessoa meio bêbada que acabou de ter um orgasmo e agora vai levar um fora.

_ E muito menos que esse alguém seria uma mulher. Não que eu tenha qualquer preconceito, meu irmão é gay como você já sabe._ Sim, eu e todo o Brasil._ Mas essa nunca foi uma possibilidade pra mim. Quer dizer, você cresce e as vezes vem aquela curiosidade de será? Ou então você acha uma pessoa verdadeiramente bonita e pensa se o beijo dessa pessoa é realmente bom. Mas nunca passa do e se. Seja por medo ou por vergonha eu nunca passei do e se até conhecer você Sarah. _ Juliette termina a frase em um sopro.

Eu sei que devo responder alguma coisa, eu quero dizer alguma coisa. Mas é como se a minha garganta tivesse sido fechada completamente e eu estou sufocando por um pouco de ar pela aquela entrada minúscula.

Eu não tiro o olhar do rosto dela e percebo que ela ficou borrada como uma janela em dia de chuva e então os pingos começam a cair no meu braço, é gelado e incômodo.

Então eu fico encolhida no canto, sufocando por um pouco de ar e enfrentando essa chuva gelada que nunca foi chuva em primeiro lugar.

Juliette me olha de forma preocupada, todo o seu corpo se esticando e puxando para vim me confortar, mas ela se recusa a obedecer. Ela permanece no lugar, inalterada. E isso é como outra facada no meu coração.

_ Eu nunca me sentir assim. É tão forte e eu percebi depois dessa noite que eu não posso dizer se é uma coisa boa._ Ela se mantém tão forte que as sua palavras não condizem com sua postura. Ela parece recitar algo a um juízo e não decidindo no fim do nosso relacionamento._ Eu amo, Sarah, amo com força e com verdade. Mas essa nosso relacionamento me fez fazer coisas que eu nunca fiz pra ninguém antes. Eu aceitei seu ciúmes como eu nunca admitir de alguém e isso, hoje, realmente me assustou o quanto eu não me importo.

Pisco um pouco surpresa com suas palavras e ela solta uma risada áspera e seca.

_ Você disse coisas horríveis que antes me fariam dar um tapa na cara de qualquer um que eu já namorei e quer saber o que eu sentir? "Ela é tão fofa quando está com ciúmes!" Quem diabos pensa algo assim? Isso não está certo, Sarah. O meu amor por você está me cegando, me transformando em alguém que eu não quero ser.

_ Alguém que me ama?_ Pronuncio as minhas primeiras palavras. É um enorme esforço considerando meu estado emocional mais revolto que o furacão Catrina.

Eu sentir tantas coisas no último minuto que é difícil definir qualquer coisa a não ser essa dor surda que arde a cada batida do meu coração.

Juliette recua um pouco para trás. Sua trança foi quase completamente desfeita agora.

_ Alguém que vive por esse amor, que é feita dele e por ele, aceitaria qualquer coisa._ A voz da Juliette falhou na última declaração. Sua resistência finalmente quebrando aos poucos. E a dor está vazando pelas brechas corroídas.

_ Eu sinto muito._ Sussurro baixinho, uma culpa negra e nauseante atacando cada nervo do meu corpo. Um gosto de ácido começa a subir pela minha garganta anunciando vômito.

Cada cena de ciúmes e as coisas horríveis que eu disse estão correndo pela minha mente em uma espiral decadente de culpa e desgosto.

É isso que eu sou então? Tóxica, um veneno para quem está comigo?

Minha boca começa a encher de saliva e a minha cabeça começa a rodar um pouco.

Nem percebi quando Juliette sentou bem na minha frente.

_ Vai terminar comigo então?_ Pergunto por fim, querendo mais do que tudo correr para o banheiro e vomitar minha tripas.

Juliette abaixa os olhos e depois olha para o nada novamente, antes de voltar sua atenção para mim.

_ Precisamos de um tempo._ Esclarece._ Um tempo para decidimos se somos certas uma para a outra, se somos capazes de superar todo esse ciúme e essa coisa feia que foi colocada contra nós.

Minha respiração começa a desacelerar um pouco, minha cabeça se acalmando a cada piscar de olhos...

Um tempo, sim, um tempo. Eu posso lidar com um tempo não é mesmo? Não foi um ponto final ou um Não definitivo.

Minha mãe sempre disse que o tempo cura tudo, talvez ela estivesse certa.

_ Quanto tempo?

Uma semana deve ser o suficiente, talvez 15 dias.

Juliette abre a boca para responder quando a porta do quarto é aberta com força e um Gil muito escandalizado entra com tudo.

_ Vocês não vão acreditar quem voltou!_ Gil começou a dar pulinhos e sambar pela porta.

_ Quem? _ Juliette e Eu ecoamos ao mesmo tempo.

_ Ar-cre-bi-a-no._ Gil soletrou devagar, um sorriso nunca deixando o rosto.

Ao mesmo tempo que a Juliette pulou da cama e correu para abraçar o Gil em comemoração com a volta do amigo. Eu afundei de volta na cama quando meu estômago dispencou até os pés.

A bile voltou com tudo e eu corri para o banheiro em disparada.

Ótimo, obrigado mesmo universo.

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Please não me odeiem, amo vocês kkkkkkk até mais ver galera do meu CORAÇÃO.

Sariette. - Um conto do BBB.Onde histórias criam vida. Descubra agora