Retorno a casa de meus tios

123 10 0
                                    

Amanheceu, a imagem daquele cão com a pele arrastando não sai de minha cabeça, a noite não foi nada fácil, estou com frio e morrendo de fome, mais uma vez estou pegando estradas de terra pra não passar pela multidão.

A frente tem umas carquejas, enquanto morei com meu tio ele ensinou muitas coisas para mim e meus primos, nós fazíamos elevadores de corda, escorregávamos o barranco dentro de sacos de ração para cachorro, construíamos clubinhos e aprendemos um pouco de sobrevivência na mata, carqueja é uma planta pequena, sem talos, só folhas, as suas folhas se dividem em três partes e as vezes florescem, pode-se comer uma carqueja, ela é boa pra limpeza dos rins.
Então resolvi parar um pouco, colhi umas folhas de carqueja e comi, havia me esquecido de como seu gosto era amargo, peguei uns gravetos, meu isqueiro e fiz uma fogueira (depois daquela noite fria eu precisava de um calorzinho), ignorei o sabor amargo e fiquei lá degustando as carquejas.

Enquanto olhava em volta, comecei a reparar na paisagem ao meu redor, a água evaporava das cercas, o orvalho escoava dos arbustos e o gado andava pelo pasto branco de geada, toda aquela imagem deixava a situação ainda mais fria. De repente surge um boiadeiro no horizonte e resolvo ir embora. Apago a fogueira, pego minhas coisas e vou-me embora a todo vapor até sumir de vista.

BssTsss (liga o gravador)

25 de novembro de 1997, a assombração esta voltando a se revelar, fui atacado por cães na noite passada, suas peles rasgavam conforme me debatia e os olhos de um saltou quando dei um soco, eles deveriam estar em estado de decomposição.
Neste momento estou com frio, eu encontrei umas carquejas mas continuo com fome, assaltarei o primeiro galinheiro que encontrar.

BssTsss (desliga o gravador).

E bato os calcanhares pra que o cavalo corra mais. Perto da hora do almoço encontro um galinheiro, amarro o cavalo na cerca de arame farpado e passo por entre os arames.
Assim que entrei no galinheiro eu vi umas 5 gaiolas que separavam um grupo de galinhas de outros grupos, no centro havia um circulo de madeira, uma arena do tipo que já havia presenciado, estava suja de sangue e cheia de penas de galos que brigaram lá. Em minha cabeça se passava a imagem daqueles dois loucos daquele dia, pude ver eles brigando naquela arena, porém tive uma visão de cima, assim como deus deve conseguir ver dos céus.

Abro uma das gaiolas e estico meus braços para pegar aquela galinha que fugia desesperadamente de minhas mãos, até que ficou sem saída, a pego pelo pescoço, então viro e seguro pelas assas com minha mão direita, com a mão esquerda eu torço seu pescoço. Saio correndo do galinheiro, monto no cavalo e vou para longe de lá.
Assim que cheguei em uma pedra eu encostei e comecei a despenar e limpar a galinha, depois acendi o fogo, assei e comi, cozinhei tudo, peguei o resto, pus na mochila e continuei viagem.

Por volta das 23:30 eu cheguei na rua de casa, tenho várias lembranças boas dessa rua, as guerras de inverno, os campeonatos de taco e das escorregadas dentro de sacos de ração para cachorro. Porém está sendo muito estranho retornar, a rua é a mesma, as casas são as mesmas, mas tudo esta diferente agora.

MaldiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora