Um novo começo

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E aquela jovem de capuz corre desesperadamente e sem rumo pela trilha fechada e lamacenta, enquanto pressiona com a mão esquerda o seu abdômen ensangüentado.

De repente seus joelhos se dobram, fazendo com que a jovem despenque no chão, ela se contorce na lama e em sua face está marcada a dor e o pânico.

A maldição havia sido feita.

― Sr. Gatie, precisa acordar. - disse a jovem enfermeira.

Vi aquela lâmpada laranja no teto, botei os pés para fora da cama e me sentei enquanto pensava no que tinha acabado de sonhar.

― Bom dia dorminhoco, agora vamos, você está precisando tomar um banho. - falou enquanto abria a porta.

Fomos até uma espécie de banheiro onde tem três chuveiros, porém não há vaso sanitário, nem pia e nem espelho. Os chuveiros são separados uns dos outros por uma fina parede, mas não tem porta e qualquer um que estiver na frente pode te ver tomando banho. As paredes são cercadas de azulejos azuis e brancos até um metro e meio de altura, o restante é pintado de branco.

― Aqui está sua toalha, seu sabonete e sua troca de roupa, você não precisara usar uma camisa de força. - disse ela.

Ela percebe o quanto estou aliviado em não ter que usar estas amarras de pano, se as múmias estivessem vivas elas se sentiriam como eu.

― Deixe que eu te ajude a tirá-la. - diz ela enquanto desamarra a camisa.

Depois de tirar a camisa, olho ela parada em frente ao chuveiro, esperando que eu me banha-se. Aponto para a porta.

― Hum?? - falou como se não entendesse.

Abro a porta, aponto para fora e junto a palma de minhas mãos como se pedisse por favor.

― Aaahhh, está bem seu tímido, eu saio para que você tome seu banho revigorante.

Assim que ligo o chuveiro e aquela água quente cai, sinto um prazer imenso, há tempos que não tomava um banho, abro a boca e até bebo daquela água, esfrego meu corpo com o sabão e a água que cai transparente no meu corpo, desce negra pelo ralo.

Após me trocar, saio pela porta e me deparo com a enfermeira que diz :

― Bem melhor, não é?

― Muito!

Falei sem pensar, foi automático, a palavra simplesmente saiu enquanto fechava a porta. Tapo minha cara com as mãos e esfrego meu rosto de raiva.

― Você está bem? - disse ela preocupada.

Não acredito que fiz isso, ela vai morrer e eu não posso fazer nada pra consertar isso, ... Só se eu ...

― Onde está Ernest? - pergunto desesperado.

― O paciente mudo? Está na socialização - respondeu ela, não entendendo porque eu estava falando com ela e ainda mais daquela forma desesperada.

― Você precisa vir comigo! - digo enquanto a puxo pelo punho e corro para a sala de socialização.

Abro a porta com um forte chute, entro e grito:

― Ernest!!!

O velho corre em minha direção, todos os loucos se agitam e desesperam-se, e os enfermeiros correm para acabar com o tumultuo.

― Ernest, você precisa me ajudar, eu falei com ela, ela vai morrer, ela não pode morrer, foi sem querer, simplesmente eu falei. - gritei desesperado.

Sinto uma agulhada na nuca que me amolece na hora, antes de cair no chão, alguém me segura pelas costas, minha visão fica cada vez mais fosca e fico dizendo para que Ernest a salve, até que finalmente desmaio.

MaldiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora