Rumo à meus avós

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Nada quantifica minha tristeza, minha vontade é de me trancar em algum lugar e não sair nunca mais, estou chorando mudo para não fazer barulho enquanto pressiono vigorosamente o vidro da janela com a palma de minha mão e arrasto para a direita. Subitamente vejo minha tia correndo para fora, indo conversar com Margô, nossa vizinha que havia chamado socorro e esperava-o na rua, na calçada o motorista do caminhão, sentado, chorando, gritando que a culpa era toda sua, que ele era seu melhor amigo e que não sabia o que tinha acontecido, mas essa culpa não é dele, essa culpa é minha.

Quando me acalmo, enxugo minhas lágrimas, pego a mochila com os papeis, desço as escadas e saio correndo sem fazer barulho, aproveitando o portão que tera sido deixado arreganhado por minha tia. Não olhei para trás, apesar de minha vontade de desistir de tudo, eu tinha que prosseguir, quero descobrir o que aconteceu com minha família e para ser sincero, por mais imbecil que seja, eu ainda tenho esperança em salva-los, tenho esperança que ainda poderemos viver juntos e em paz, é nisso que vou dedicar minha vida e por mais que eu fique triste ... não importa quantos morram para isso.

Não corro tanto assim faz muito tempo, quando era mais criança costumava apostar corridas com meus primos, 2 corriam a pé e um de bicicleta, mesmo assim era uma disputa acirrada, enquanto um fazia um trajeto, nós 2 cruzávamos pela mata e cortávamos caminho.

Chega a hora em que não aguento mais, estou ofegante e suado, tiro minha blusa, sento na beira rua e busco ar, olho para direita e vejo uma libélula, sempre achei um animal muito bonito, suas assas me lembram um livro aberto e quando acasalam formam um coração, nunca entendi mas mesmo assim minha tia chama este bicho de cavalinha do diabo. A esquerda vejo duas arvores do outro lado da rua, entre suas folhas forma-se uma fresta por onde passam os raios de luz, da pra se ver perfeitamente as linhas paralelas, amarelas e luminosas ofuscando e o muro cheio de vinhas, até que chegam ao chão de grama amassada pelos paços e a raiz que sobressai o chão.

Enquanto observo a libélula pairando, enrolo minha blusa em minhas mãos e guardo na mochila, saco os papeis e pego a certidão de casamento dos meus pais, lá está o nome de meus avós paternos, Lana e Charlie Gatie, e maternos, Cornélia e Ernest Alin, tem também o numero de seus registros. Provavelmente terei que ir a um cartório pois acredito que meus avós tenham alguma relação com a assombração, pouco antes da fuga do hospício a imagem deles jovens me apareceu, segurando aquele feto no pé da arvore de tripas.

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