Cornélia

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Levanto-me da maca e me sento com as costas apoiadas na parede, olho para o louco que novamente me diz "obrigado" e faço um sinal de positivo com o rosto, mesmo sabendo que ele acabara de matar outro louco.

Afinal quem sou eu pra julgar um assassino?

A enfermeira loira chega junto a outra que acabara de chorar, as duas começam a examinar o louco como se eu nem estivesse lá, sentado na cama, tento ver o que as duas fazem, é curativo pra todo lado, até que a loira diz:

― Não vai ter jeito, vamos ter que levá-lo para o hospital.

A enfermeira mais velha sai para chamar uma ambulância e a loira começa a examinar minha perna.

― Você tentou se matar? ― perguntou ela.

Fico calado.

― Olha, sinceramente não seria prejuízo nenhum você se você se matasse, seria um assassino a menos no mundo, um louco a menos pra cuidar e haveria menos famílias destruídas por ti. ― disse enquanto preparava o gesso.

A enfermeira estica minha perna, ajeita e começa a passar algo ardente no tornozelo, o que me fez urrar de dor.

Logo veio a ambulância e dois paramédicos entraram carregando uma maca, o louco chorava de medo dos dois homens, a loira para de engessar minha perna e tenta acalmá-lo. Ele se contorcia, gritava, chorava, até que chega a morder a mão de um dos para médicos. Todos gritam, tentam soltar mas os dentes estavam grudados na mão do homem.

― Parabéns!!! ― grito bem forte ao louco. O mesmo se acalma, olha para mim, larga a mão do homem e novamente diz "obrigado", a enfermeira o prende na camisa de força, algo que não queria fazer por conta dos machucados que o louco tinha, mas diante do que havia acontecido era necessário. Os paramédicos saem carregando o louca na maca e logo depois a loira termina o gesso em minha perna, me entrega um par de muletas e então saímos em direção a sala de socialização.

Assim que entro na sala os loucos se surpreendem com as muletas que carrego e com a forma que ando. Vejo Ernest em uma mesa e me sento com ele.

― Olá. ― digo enquanto me ajeito na cadeira.

O velho pega uma caneta, escreve um bilhete e me entrega.

"Oi"

Observo o velho e percebo que ele não está à-vontade comigo.

― Eu meio que descobri o que tenho. ―digo a Ernest.

"O que?" escreveu ele.

― Eu não posso conversar com ninguém, se eu conversar com alguém este alguém morre. Tem também outras coisas que aconteceram, pessoas foram possuídas para me atacar e vi também outras coisas, como cachorros e gatos mortos.

O velho começa a chorar, da pra perceber os olhos castanhos ficando cada vez mais foscos por conta das lágrimas que os ocupam.

Seu choro é de pura tristeza, não há surpresa, mas sim um peso de arrependimento.

― Você tem algo à ver com isso, não tem?

O choro aumenta, o velho tenta dizer "não" mas o som não sai.

"Eu nunca quis isso" anotou o velho.

― Então quem quis? ― Pergunto bravo e num tom forte.

O velho engole o choro e enxuga as lágrimas, os enfermeiros percebem que estou irritado e começam a se aproximar, o velho começa a anotar num papel e antes que os enfermeiros nos separem o papel é entregue.

"Cornélia"



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