Briga de loucos

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Faz um dia que Ernest me disse para sair deste hospício, tenho pensado muito nisso, ele conversa bastante com os enfermeiros, então talvez ele me ajude a sair daqui.

Fui para a sala de socialização, comecei a reparar mais nela, havia uma mesa com alguns jogos de quebra-cabeça e um radio que tocava a mesma musica sem parar.

Reparei também em alguns loucos, havia um que se vestia apenas com uma frauda, ele gostava de brincar com os insetos, foi muito nojento quando ele pegou uma lesma e esfregou em seu rosto.
Havia também um que gostava de se esfregar no chão, como se fizesse anjos de neve imaginários. E um pintor que pintava com as partes do corpo, e após pintar ele prensava a folha de sulfite contra a parede, como um carimbo, depois ele olhava sua obra na parede e dava gargalhadas.

Resolvi pegar um quebra-cabeça pra me distrair, me esquecer um pouco do ambiente que via. Assim que joguei as peças na mesa, um louco veio e me pediu para jogar também eu disse que podia, então ele pegou uma peça, pegou outra, viu que não se encaixavam e jogou as duas peças no chão, depois ele olhou para mim e me disse de forma enrolada:
- Não presta.
Eu peguei as peças no chão e lhe disse:
- Só por que estas peças não se encaixam, não significa que ela não possa se encaixar em outra.
Ele puxou todas as peças para ele e começou a baterias peças e gritar:
- Não encaixa, não encaixa, nada encaixa.

Na mesma hora um enfermeiro foi tapar a boca dele e o louco mordeu sua mão, então veio o segundo enfermeiro e o primeiro lhe disse:
- Vamos mostrar a chapa para ele.
Na hora o louco gritou:
- Não, por favor, não.
Tentei impedir e o enfermeiro me jogou contra a parede.
E os três entraram na cozinha, de lá dava pra se ouvir os gritos do louco, e depois ouvi apenas os gemidos de dor, como se tivessem tapado a boca do louco.

Comecei a guardar as peças do quebra-cabeça, enquanto guardava, Ernest apareceu na minha frente e me entregou um bilhete:
- Siga-me.
E ele foi andando, me levantei e fui atras dele, ele passou pelo enfermeiro que cuidava da porta e o mesmo também me deixou passar, passamos pelo corredor, ele saiu para o jardim e entrou na quadra, quando entrei na quadra, ela estava cheia de funcionários do hospício, faxineiros, psicólogos, enfermeiros, psiquiatras, estavam todos colocando dinheiro em uma mesa.

Todos estavam sentados na pequena arquibancada, eu me sentei também, de repente entraram dois enfermeiros, cada um carregando um louco.

Eram o pintor e o de louco frauda que brincava com insetos, os que havia visto mais cedo

Eles posicionaram os loucos bem no centro da quadra e começaram a a falar coisas para eles, enquanto eles falavam os loucos começaram a se irritar um com o outro, estavam atiçando uma briga entre os dois.

Não pude acreditar naquilo, assim que soltaram os loucos eles começar a brigar sem que ninguém os impedissem, pelo contrário, assim que a luta começou a torcida se levantou e começou a gritar.

Aquilo era uma briga de galos, eles se batiam sem piedade, mordiam chutavam e arranhavam até que o pintor desmaiou. Quando me levantei para impedir, Ernest me segurou e me entregou outro bilhete:
- Controle-se se quiser sair daqui.
Olhei para ele com raiva e me sentei.

Então tudo voltou, tudo ficou cinza, e lá no fundo, no jardim, a arvore, não era como a arvore das cabeças de animais, era outra arvore enfeitada com tripas penduradas e ao pé da arvore pude ver meu avô e minha avó, por parte de mãe, e em seu colo havia um feto, ele estava chorando, um choro agudo. De repente meus avos olharam para mim e tudo voltou ao normal.

MaldiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora