3. Pugnazes - Heitor

63 10 32
                                    

Movimentei-me, sendo guiado pelas tranças azuis no topo da cabeça de Sjin enquanto íamos mais e mais fundo dentro da montanha. À medida que avançávamos, o caminho à nossa frente revelava-se cada vez mais envolto nas entranhas da montanha, suas paredes encravadas de cristais transmitindo os ecos distantes de nossos movimentos.

Finalmente, alguns minutos depois, quando todo nosso grupo alcançou o núcleo da montanha, como o bater de um coração gigante, as paredes de pedra atrás de nós se fundiram. Não havia como voltar atrás.

Continuamos caminhando, pé ante pé, os sinos das estações (como eu decidi chamá-los) tilintando acima das nossas cabeças. O caminho parecia ser usado com frequência, a julgar pela rarefação da relva no ponto onde pisávamos. Percebi também que pedras polidas e uma bruma rasteira cintilante multicolorida acompanhavam nossa trilha, como uma espécie diferente de vegetação mágica.

Tudo estava magicamente bem, até que ruídos de batalha tomaram o ambiente. Ouvi espadas batalhando uma contra a outra, o aço sendo chocado segundo após segundo e meu coração acelerou-se dentro do peito. Eu não possuía mais a espada de Sarabi para me proteger, mas tinha minha magia de ataque e os outros escolhidos também.

Tudo seguiu bem até o instante em que sons de combate irromperam ao nosso redor, enchendo o espaço com o clamor de espadas que se encontravam, o aço tinindo a cada colisão. Meu coração pulsava freneticamente, temendo que uma nova batalha estivesse prestes a começar. Me senti exposto e vulnerável ao notar que não tinha qualquer arma ao meu alcance. Então movi as mãos, ativando os poderes e iluminando o rosto sereno de Sjin ao meu lado.

— Que eu vá ao exílio, o que estão fazendo? — Ela perguntou direcionando olhares assustados para todos nós.

Os outros escolhidos também haviam invocado seus poderes, exceto Briseis. Não sabia se deveria ficar grato ou temeroso por aquilo. 

— Aparentemente seu vilarejo está sob ataque, mas podemos ajudar — Daniel falou, fazendo menção a ir até o local onde os sons de luta eram emitidos.

Sjin continuou nos olhando por meio segundo e, logo depois, emitiu uma sonora gargalhada.

— Não sabem mesmo nada sobre nós, não é? — inquiriu, querendo parecer divertida, mas havia medo em alguma parte do seu olhar. — Estão entrando em uma vila matruaky. Famosa pela formação dos melhores pugnazes de toda Hanaros. O que esperavam? Doces?

— Uma vila de quê? — Daniel fez sua magia se esvair.

— Pugnazes — Briseis repetiu. — O som no idioma mágico lembra a mesma sensação da palavra em português. Significa pessoas que são chegadas a embates, brigas, essas coisas.

— Então é assim que nos chamam no mundo contaminador?

Sjin balançou a cabeça em reprovação e depois fez um gesto com as mãos para que a seguíssemos.

Embora estivesse preocupado, decidi confiar no que dizia. Ela estava ali há muito mais tempo que nós. Era do seu próprio povo que falava.

— Aqui somos quase todos guerreiros. Não encontrarão hanarianos tão fortes quanto nós. Não há nos castelos reais guardas de outra tribo que não pugnazes matruakys.

Girei sobre os pés, tentando captar maiores detalhes do ambiente ao redor.

Relva e bruma mágica se estendiam numa planície cercada por outra cadeia de montanhas ao norte. Nos encontrávamos, na realidade escondíamos, entre duas cordilheiras e eu nunca vira nada parecido com aquilo. Mais distante, além do que parecia uma gigante clareira, havia espécies de tendas feitas aparentemente de madeira e pele, uma maior no extremo leste e outras menores, entremeadas por arbustos e ocasionais árvores.

Ventos do Outono - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora