10. Honra - Heitor

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O sangue em minhas veias se tornou gelo enquanto eu esperava que Briseis me respondesse.

E se ela me dissesse para deixá-la, o que eu faria?

Diria: "Ah, que ótimo! Não se preocupe, vou ficar feliz enquanto finjo que consigo seguir tendo levado um fora da única pessoa que me interessei de verdade na vida"?

A única pessoa que me interessei de verdade na vida.

Uau.

Fiquei surpreso em como admitir tal fato para mim mesmo foi tão assustador. Eu tentei resistir tanto quanto pude, mas aquele sentimento era mais forte. Briseis, que já era figurinha recorrente em meus pensamentos antes, agora detinha hegemonia de cada um deles. E todos os rostos, vozes e sabores que conheci no mundo humano pareciam ofuscados por tudo o que ela representava.

Eu até poderia temer que ela me rejeitasse e dissesse que nunca seríamos mais que amigos, se seu corpo não a denunciasse. A pele arrepiada sob meus dedos e o ritmo rápido do seu coração me faziam duvidar que ela possuísse intenções muito diferentes das minhas.

Não estava delirando, nós quase havíamos nos beijado mais cedo! E então, claro, houve o maldito incidente com a água. Algo irrelevante já que eu tinha descoberto o que fazer para distraí-la. Distrair a nós dois, na verdade.

Uma das minhas mãos ainda estava sobre a perna de Briseis. Movi os dedos com delicadeza, acompanhando a curva da sua coxa. Ela estremeceu uma vez mais. Sua pele era macia e quente, e eu ansiava por sentir ainda mais dela. Porém, interrompi o movimento.

Nunca fui contido quando estava disposto a investir em uma garota, mas... Dizer que estar próximo a ela demandava de mim uma quantidade absurda de autocontrole era um baita eufemismo.

— Se eu não tivesse te procurado no lago nenhuma decisão seria necessária agora — lamentou. — Eu arrastei nós dois até aqui.

A voz trêmula de Briseis me tirou do turbilhão de pensamentos. Ela permanecia de costas, recusando-se a me olhar. Retirei minha mão de sua perna, temendo que estivesse desconfortável.

— Não se sinta culpada — falei, dando um passo para trás —, se não viesse até mim, eu iria até você.

Ela não havia me mandado desistir. Nem se esquivou do meu toque. Por mais que eu lutasse para pensar em outra coisa, minha mente só se importava em comemorar aqueles fatos.

— Eu sei — constatou, virando-se. Observei paralisado como seus olhos negros pareciam faiscar quando disse:— E é por isso que vou embora sozinha, antes da chegada de Sonthi.

E ali estava a Briseis que eu começava a me acostumar desde que chegamos a Hanaros: alguém que nutria e destruía cada fagulha de esperança dentro de mim em milésimos de segundos.

— Desculpe, mas como vai fazer isso? — encarei ela, atordoado.

Não conseguia acreditar que estava tão perto de fazê-la ceder e de uma hora para outra havíamos voltado para o ponto inicial.

— Caso não tenha percebido, não estamos numa colônia de férias esperando pacientemente até a hora de ir embora. Somos prisioneiros — sussurrei essa última parte, porque até então nunca havia levantado a possibilidade em voz alta.

— A prova de honra tornará minha saída possível sem que vocês tenham problemas com os matruakys.

Estava surpreso em como eu ainda possuía a capacidade de me permitir ficar feliz com alguma coisa. Tudo o que já estava ruim parecia ter a natural tendência de piorar em minha vida!

Ventos do Outono - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora