17. Leis - Briseis

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Agradeça aos seus aliados — Crino quase sorria. — Eles trouxeram aquela besta a nossa dimensão!

— Sjin? — Karen emitiu um ruído esganiçado, ainda atônita pelo saco drenando sangue no chão. — O que aconteceu?

Eu sabia que a imperatriz tentava negar o que se passava em sua mente. Mas reconhecia também que não era o corpo de uma caça hanariana que estava esquartejado dentro daquele saco. Meu estômago pareceu se retorcer dentro de mim quando notei que apenas uma coisa conseguiria fatiar um hanariano daquela forma e que, para nossa total infelicidade, Crino estava correto.

Éramos a causa daquilo. Na verdade, eu era.

Quando Heitor virou para me encarar tive certeza de que ele sabia o que se passava em minha mente. Pude ver meu temor refletido nele.

— O krenger — sussurrei, me xingando por ser tão burra e considerar que algo pudesse estar bem.

Deveria ter ido atrás daquelas coisas e não esperado pacificamente enquanto lutava contra meu tolo medo de água!

— Sim, um krenger — Crino sibilou, chutando com a ponta do pé o saco. — Ele matou nosso senhor, me mataria se eu não fosse ágil! — vociferou.

Laya soltou um arquejo e começou a soluçar, captando a informação dada pelo homem e desistindo de se soltar.

— Não... — Sjin caiu de joelhos, seus dedos tentando desesperadamente desamarrar a boca do saco. Lágrimas começavam a rolar por seu rosto.

Enquanto movia os dedos o volume que havia dentro do pacote macabro instantaneamente sumiu. Quando a pugnaz abriu o saco, nada mais havia além de um tecido sujo de sangue. A carne e magia do pai de Sjin tinha retornado de onde viera. Ele partira para sempre, e não havia mais nada que ela pudesse fazer.

Karen correu ao seu encontro, arrastando-a pelos ombros para longe daquilo. Embora os matruakys fossem pouco dados a receber ajuda, Sjin se permitiu ser levada, desfazendo-se em lágrimas. Eu nunca vira a imperatriz parecer tão humana, sentindo a dor do outro e dando suporte a alguém.

— Como conseguiu se livrar do krenger? — Heitor perguntou.

Seus olhos percorriam o perímetro da tenda e analisavam a quantidade de pugnazes em torno de nós.

— Correndo, óbvio.

Crino não parecia um ser dado às corridas. Embora fosse um nixge, e nixges eram naturalmente fortes e ágeis. Mas a pergunta de Heitor deixava explícito o fato de que, mesmo se o pugnaz se mostrasse como o maior maratonista hanariano, seria impossível escapar de um krenger. A menos que...

Gritos de horror irromperam no ar com o clangor de espadas do lado de fora.

— O que fez, seu imundo? — Daniel questionou.

O barulho do aço tomou a tenda quando os pugnazes empunharam suas armas e bateram contra o chão. Aquilo deixava bem claro para mim que o período de curta paz, experimentado nos últimos dias, havia findado.

— Só existem dois lados: o vencedor e o perdedor — Crino respondeu casualmente. — Quero estar do lado correto quando a Grande Guerra vier.

— Me diga que estou enganada. Faça-me acreditar que você está brincando comigo... — Sjin murmurou.

— Acredita que nosso pai planejava passar a liderança matruaky para você? Mesmo que eu fosse o mais velho e competente e que o lugar fosse meu por direito.

Eu sentira, desde o primeiro momento em que colocara os olhos naquele ser, que ele não deveria ser digno de confiança. Mas estava cansada e confusa demais para ouvir minha intuição, para conversar com os outros e expor os meus temores. Agora, além de nós, outras pessoas pagavam o preço por aquela imprudência.

Ventos do Outono - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora