16. Alarmes - Briseis.

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Enquanto disparava até a clareira, torci para que a terceira trombeta fosse apenas o eco da segunda, uma impressão.

"Uma para mensagens, duas para aliados. Três para inimigos."

Sinceramente? Eu não aguentava lutar mais! Queria paz e calmaria, poder dormir sem me preocupar com as provações que teria de enfrentar no próximo dia, nas próximas horas e até mesmo segundos. Contudo, aquela nunca era uma opção. Viver era uma batalha eterna, que, ao que tudo indicava, eu estava fadada a perder.

Amplifiquei meus sentidos, tentando detectar auras estranhas. Identifiquei dezena de pugnazes amontoados num extremo do povoado, mas nenhum desconhecido entre eles. Ao por fim alcançar as tendas, notei que um grande rebuliço se alastrava através das fogueiras, contrastando com a calma habitual e o tilintar do aço nos campos de treinamento da vila. Vários matruakys se aglomeravam na tenda central, trazendo cristais de todas as cores nas mãos.

Eu não conseguia enxergar coisa alguma através da multidão.

Fechei os olhos e me esforcei para reconhecer a aura dos escolhidos.

— Estamos aqui. — A voz de Heitor me respondeu como se tivesse lido meus pensamentos.

De repente senti uma de suas mãos em torno do meu pulso e abri os olhos, encontrando seu rosto. Tremores percorreram minha pele. Gostaria de afirmar que eles se deviam ao medo que estava sentido, mas seria mentira.

— O que...

Comecei a perguntar, então focalizei Karen segurada pela outra mão de Heitor, demorando mais tempo que o necessário para deduzir o que estava acontecendo. O imperador encobria nossas auras, como fizera no Recife Antigo.

— Onde está Daniel? — perguntei, resistindo ao impulso de puxar minha mão.

— Encrencado — a imperatriz respondeu, impaciente. — Muito encrencado.

— A terceira trombeta. — Lembrei do motivo pelo qual estava desesperada.

— Parece que a determinação entre inimigo ou aliado vem da pessoa que soa o alarme — Heitor deu de ombros. — Boa parte do povoado está alinhado à Sjin. A trombeta anunciou a chegada de...

— Crino — deduzi, identificando a aura. — Um inimigo dos aliados de Sjin.

Ele balançou a cabeça.

Encontrei espaço para liberar o ar que prendia em meus pulmões. Por alguns minutos eu supusera que Merrick havia nos descoberto, mas algo nos olhos dos imperadores me dizia que a chegada de Crino não representava nada melhor.

— Por que estamos escondidos? Onde está Daniel? — insisti.

Ninguém me respondeu.

Um burburinho se espalhou pela clareira e precisei levantar na ponta dos pés para tentar enxergar além da aglomeração de cabelos-azuis.

— Largue-a, Crino!

Era voz de Sjin em algum lugar ali perto. Ela parecia irritada.

A primeira coisa que percebi foram os comichões em minha mente, indicando que magia elemental era convocada. Karen e Heitor estavam bem ao meu lado, o que significava que ela só poderia vir de Daniel.

Ouvi o imperador praguejar. Ele deveria estar conseguindo ver algo que eu simplesmente não podia por ser quinze infernais centímetros mais baixa.

— Temos problemas, precisaremos intervir  — disse, tentando abrir caminho por entre os matruakys que encaravam apreensivos a cena mais adiante, enquanto nos arrastava atrás de si.

Ventos do Outono - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora