11. Cinzas - Heitor

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Eu ainda estava completamente perdido nos lábios de Briseis na hora em que a escuridão tomou a clareira.

Gritos se espalharam pelo ambiente e nem mesmo as gigantescas árvores que nos cercavam conseguiram bloquear o pandemônio de chegar até nós.

— Ai! — Briseis ganiu ao sentir meus dentes se fecharem em seu lábio inferior quando me sobressaltei.

— Merda — praguejei. — Desculpa...

Soltei sua cintura e segurei o rosto entre as mãos para checar se ela havia se machucado, ignorando o fato de que uma mordida não causaria qualquer dano grave em um nixge.

— Tudo bem. — Ela me tranquilizou, afastando as mãos do seu rosto e saindo de perto.

O seu cheiro doce, que parecia uma mistura de canela e madressilva, permaneceu em mim. Como se ela ainda estivesse em meus braços.

— Viu isso?  — perguntou. — Por que está tão escuro?

Um arrepio tomou minha espinha.

— E por que não consigo rastrear nenhuma aura mágica? — acrescentou, ofegante.

Não consegui evitar olhar para as curvas das suas pernas expostas nos pontos onde minhas mãos tinham afastado o tecido do vestido. Ela também tinha alguns fios dos cabelos desalinhados e as bochechas tingidas naquele maravilhoso tom de vermelho-terra. Agradeci por ninguém estar próximo, seria impossível negar que estávamos nos pegando loucamente alguns segundos antes.

Aquele pensamento me trouxe de volta à situação: o motivo pelo qual havíamos parado de nos beijar.

Me concentrei em buscar os nossos aliados pelo detector de auras e fui tomado por alívio ao identificar a aura de Daniel, Karen e os outros matruakys, sem evidência de nenhum melta.

— Consigo senti-los.  Também não identifiquei nenhum krenger  — respondi, sabendo que aquele era seu maior medo.

Tomei o cuidado de omitir a informação de que a única pessoa indetectável por mim no momento era... ela.

Diferente das outras auras que pulsavam fortes e constantes, a aura de Briseis estava silenciosa. Eu só era capaz de me certificar de que ela estava em minha frente porque conseguia vê-la.

— A luz... — A garota prendeu o ar dentro dos pulmões ao observar como a área, antes iluminada pelos cristais, estava totalmente sombria agora.

— Parece que os cristais... pifaram? — constatei confuso.

Um enorme falatório tomava o lugar da música, aparentemente os matruakys também se questionavam sobre o que estava acontecendo.

— Eles foram desligados  — Briseis corrigiu.

— Por que merda essas coisas bizarras só acontecem quando estou me dando bem?

Era impossível tentar esconder minha frustração em ter nossa sessão de beijos interrompidas. Seria capaz de ficar a noite inteira com Briseis em meus braços, sendo tragado por seu cheiro e ouvindo as batidas de seu coração.

— Será que não vê? — esbravejou como se eu fosse um lerdo. — Sou eu!

— Você? — repeti. Talvez eu fosse um lerdo.

— Eu também desestabilizei os cristais mais cedo, quando... vi você e Karen dançar — Ela fez uma breve careta ao lembrar da cena. — Naquele momento foi apenas uma oscilação de energia, mas agora parece que... que eu os desliguei.

Ventos do Outono - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora