25. Vingança - Heitor

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HORAS ANTES

Estava resgatando o Livro de Vornek no rifind quando senti uma assustadora concentração de magia sombria alguns pavimentos acima, onde eu havia deixado Briseis mais cedo. Minhas mãos tremeram enquanto eu depositava a lombada pesada sobre a mesa, com Karen e Sjin me encarando.

— O que foi, Heitor? — A imperatriz questionou, notando meu nervosismo.

Avaliei as duas garotas, buscando qualquer indício de que também sentiram o poder. Aquele que eu sabia vir de Briseis. Elas estavam tranquilas, como se a aura da magia melta não houvesse atravessado as paredes de obsidiana e chegado até nós.

Precisei me segurar para não disparar até onde Briseis estava, temendo que algo acontecesse. Porém, segundos se passaram e tudo permaneceu na mesma calma. Talvez ela só estivesse tentando domar seus poderes. Seria muito bom que parasse de tentar. Já tínhamos problemas o suficiente.

— Deve ser fome — desconversei, repetindo para mim mesmo que tudo estava bem. — Esse cheiro está me matando.

Aquilo não era mentira. Após a saída de Daniel, nos dirigimos até um cômodo (que aparentava muito ser uma cozinha) tentando criar algo próprio ao consumo.

Sjin ansiava por cozinhar o tyrak recém-caçado e todos concordávamos que estávamos há tempo demais sem comer. Ainda que no início a culinária hanariana pudesse parecer exótica, agora o cheiro do caldo de carne com especiarias, lentamente cozido na lenha, era tão familiar que soava como uma lembrança olfativa da infância.

— O tyrak precisará de ao menos uma hora para ficar minimamente comestível — Sjin disse, indo até o cadeirão fumegante.

Meu estômago roncou em protesto.

— Ótimo — Karen bufou. — Assim temos mais um estímulo para encontrar depressa as informações nesse livro idiota.

Lembrar de como o livro de Vornek se recusava a mostrar qualquer mínima informação a Karen, me fez questionar como aquilo podia parecer inato para Briseis. Ela o fazia com uma facilidade extrema — até mesmo melhor que eu. Quase tive vontade de rir. A magia de Briseis era tão poderosa que ludibriava e dobrava mesmo objetos mágicos. Isso ou o livro era realmente genioso, se recusando a colaborar com a filha de quem o selou para sempre e entregando tudo de bandeja para uma melta.

Quando já estávamos cansados de esperar pela comida e respostas vindas do livro, Briseis apareceu. Identifiquei sua aproximação pela aura, assim não precisei encará-la para ter certeza de que estava ali. De qualquer forma, não pude evitar olhar de soslaio em sua direção.

Ainda era estranho para mim vê-la com os cabelos tão curtos, embora eu tivesse a leve impressão de que agora eles parecessem alguns centímetros mais longos. Tentei resistir com todas minhas forças à tentação de olhá-la um pouco mais, porém, aquilo era praticamente impossível quando a calça que ela usava delimitava tão bem as lindas curvas dos seus quadris e a camisa amarela sob o espartilho... Precisei conter minha imaginação fértil, voltando a atenção ao livro de Vornek.

Perceber o ciúme inundando seus olhos ao me ver com Karen até que me trouxe alguma satisfação, mas, achei melhor me manter focado.

Como eu esperava, o Livro de Vornek finalmente deu algum sinal quando Briseis se aproximou.

Porém, ao invés de nos presentear com a localização exata da primeira entrada para a dimensão estacional, o livro nos trouxe pistas sobre Merrick. Me vi desejando que aquela merda continuasse em silêncio, principalmente quando detectei o brilho doentio na face da garota. Conhecendo-a como eu bem conhecia, o desejo por saber a verdade estaria com ela por onde quer que fosse.

Ventos do Outono - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora