Capítulo 6

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Capítulo 6

Léo

Eu estava olhando para o teto por mais tempo do que eu queria admitir. Mas considerando que eu estive acordado para ver o nascer do sol. Mas estar acordado e estar pronto para enfrentar o dia eram duas coisas diferentes. Eu não tinha certeza de como o sábado tinha chegado tão rápido.

Normalmente, a semana parecia durar para sempre. As aulas se arrastavam então a corrida louca da faculdade para o consultório onde o dia parecia ainda mais longo. Fiquei dizendo a mim mesmo que valeria a pena quando eu conseguisse passar em um concurso para professor em alguma faculdade federal. O futuro parecia muito sombrio e muito fodido para ver um futuro promissor. Eu pensei que as coisas não poderiam ficar mais difíceis, mas de alguma forma, eu não acertei, porque tinham. Eu não sabia como consertar isso. Ou me consertar. Eu não percebi que estava tão quebrado. Agora eu estava desesperado para impedir que Otávio descobrisse, mas eu não tinha certeza se isso era possível também.

Como eu deveria esconder isso?

Como eu deveria consertar isso?

Como eu deveria lidar com ser atraído por ele?

Eu nem sabia como isso aconteceu. Um dia ele estava me ignorando, como de costume, e no dia seguinte ele estava falando comigo sobre as coisas que tinha feito e estava passando os dedos pelo meu cabelo como se eu fosse importante para ele. O projeto de pesquisa foi parcialmente culpado. Algo mudou para mim quando ele entrou e me viu no chão naquele dia, mas isso não poderia ser a única coisa. Eu fiz o meu melhor para pedir desculpas pelas coisas dolorosas que eu disse, mas isso não o teria tornado mais empático com a minha situação. Conhecendo suas reações como eu conhecia, isso o teria deixado mais irritado.

Ele tinha percebido o quão quebrado eu estava por dentro? Foi por isso que ele foi tão legal comigo? Será que ele sentiu pena do cara machucado que se sentiu atraído por coisas erradas? Ele disse que experimentou o BDSM, então ele não teria pensado que a pesquisa era estranha. Tinha que ser a outra coisa, a coisa que era deformada e torcida.

Mas o cara que eu conhecia, o Otávio com quem eu moro há oito anos, não teria sentido pena de mim daquele jeito. Teria sido a melhor munição, boa demais para ignorar. Então o que mudou?

Algo em mim, claramente. A coisa mais fácil de fazer seria culpar a pesquisa, mas me fazer ver os fetiches online não era motivo. Não era como algum tipo de vírus ou peste que passava de uma pessoa para outra.

Ele foi tão legal.

Ninguém nunca me fez sentir assim. E não foi apenas a parte sexual. Foi tão bom simplesmente relaxar e me soltar. Por aqueles poucos segundos enquanto ele estava fazendo carinho na minha cabeça e me alimentando com os biscoitos, não havia mais nada para pensar e nada para se preocupar. Ele estava no comando e queria alimentar seu bom menino... o filhote de cachorro ajoelhado a seus pés. E então eu fugi.

A percepção de como isso era e como estava errado tinha acabado de chegar ao meu cérebro, e entrei em pânico. Eu pensei que depois de alguns dias ignorando um ao outro, as coisas voltariam ao normal, mas não. Ele não tirou sarro de mim sobre eu ajoelhar. Ele não fez comentários desdenhosos sobre como a "pesquisa" estava indo. Ele não comentou sobre a necessidade de fechaduras nas portas ou até mesmo fez uma piada sobre eu precisar amarrar um lenço ao redor da porta para deixá-lo saber quando eu estava pesquisando. Estava ficando mais difícil ouvir sua voz forte e irritada na minha cabeça. Era mais suave desde aquela noite no jantar, mais quente e mais calma, e não parecia com ele. Eu não sabia como lidar com isso. Os presentes só tornaram mais difícil também.

Tinham sido pequenas coisas, mas eu não conseguia nem lembrar da última vez que ele até me desejou um feliz aniversário, e então tinha meu sorvete preferido no congelador e a coleira tinha sido... Surpreendente. A parte malvada do meu cérebro que nem tinha percebido que existia era a que continuava insistindo que isso tinha que significar alguma coisa. Mas isso não aconteceu. Ele nunca olhou para mim — Não, você nem vai pensar sobre isso. — Esse era um caminho que eu não iria seguir de novo. Eu tinha mais força de vontade do que isso. Eu não pensaria nele desse jeito. De novo não. Só de pensar no que eu fiz na outra noite, meu estômago revirou.

Aprendendo a ser um cachorrinho (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora