Capítulo 3

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Capítulo 3

Léo

— Droga. — Eu sabia que era ruim no momento em que eu deixei sair da minha boca, mas não fui capaz de me conter. Era como se eu fosse uma criança sem noção. Otávio estava parado no batente da porta parecendo tão confiante e orgulhoso, e falei sem pensar.

Eu olhei para os brinquedos e suspirei. Ele não estaria pesquisando e planejando. Ele teria pulado direto, enfiando a cauda na bunda e descobrindo o que era ser um cachorrinho. — E você tem olhado para acessórios sexuais por muito tempo hoje. — Era hora de deixar tudo de lado.

Eu comecei a pegar os brinquedos e me levantar do chão. — Além disso, Otávio seria claramente o mestre nessa situação, não o filhote. — Arrumei o lubrificante e os brinquedos cuidadosamente na minha gaveta de cabeceira, olhei para o meu pau.

E o que houve com você? Exibicionismo não era o fetiche que decidimos explorar. Eu não tinha conseguido descobrir uma maneira de pesquisar isso sem envolver muitas outras pessoas, mas, evidentemente, meu pau não recebeu o memorando. Otávio ia pensar... — Inferno, se eu sei. — Xingar estava começando a parecer mais natural a cada minuto. Eu acho que tinha que encontrar o catalisador certo. Otávio fazer parte no meu projeto de pesquisa era definitivamente qualificado.

Pegando meu laptop do chão, levei-o para a cama e fui pegar minhas roupas da cadeira onde eu as tinha dobrado antes. Manter as coisas arrumadas me fez sentir mais calmo, mais seguro. Também era outra coisa que Otávio dominava sobre mim. Ele não precisava de coisas para se sentir relaxado. Ele poderia ignorar a desordem e ainda ficar relaxado. Uma vez que eu estava vestido, me senti um pouco mais seguro... Menos vulnerável. Eu nunca tinha sido visto assim, como se ele pudesse ver através de mim e soubesse o que estava acontecendo na minha cabeça. Ele provavelmente ficou chocado e horrorizado com o que eu estava fazendo, mas eu nunca fui capaz de ler Otávio muito bem. Eu não tinha certeza do que ele estava pensando, mas não poderia ser bom. Eu sabia que ele era ainda mais sarcástico e zombeteiro quando estava zangado ou chateado, então, a julgar pelos comentários que ele fez, eu devo ter ido longe demais. Eu deveria me desculpar?

Eu sabia que lhe devia pelo comentário sobre sua vida amorosa. Não deveria ter sido da minha conta, e eu não tinha certeza do porquê disse isso. Havia apenas algo sobre o olhar em seu rosto e a maneira zombeteira que ele pediu para ajudar.

Não havia desculpa. Eu teria que explicar o quanto lamentava isso.

Se ele estava com tanta raiva de entrar no meu quarto e me pegar assim —o que mais poderia ter sido— então eu lhe devo outro pedido de desculpas sobre isso? Lamento que você tenha entrado no meu projeto de pesquisa, provavelmente não o chamaria. Lamento que você tenha visto me preparando para empurrar um rabo na minha bunda, provavelmente também não era apropriado, mas por diferentes razões. Eu ouvi uma porta bater e um carro ligar. O barulho do carro velho do pai de Otávio me avisou que ele estava saindo e não um dos vizinhos. Ele tinha esse costume de sair quando ficava estressado. Mesmo que não fosse eu a fonte do estresse, mesmo quando era sobre seu trabalho ou seu doutorado, se a pressão ficava demais Otávio levantava e saía. E eu ficava pasmado pensando se disse a coisa errada.

Eu sempre fico confuso com a reação das pessoas.

Só que desta vez eu não sabia como fazer isso. Essa bagunça parecia estar ficando maior com o passar do tempo. Depois que meus pais morreram eu perdi ao mesmo tempo minha família e minha rede de apoio. Eu sei que meu cérebro não funciona da mesma forma do que o da maioria das pessoas.

Como eu deveria seguir em frente quando eu estava morando com uma pessoa que mal me tolerava nos melhores dias? Se eu não tinha mais um lar para onde voltar nas férias? Eu era filho único de dois filhos únicos. Meus avós morreram anos atrás. Eu não tinha tios, primos, nada. Eu pensei que ficando aqui na faculdade em algum momento seria capaz de fazer amizades. Criar conexões. Não pensava em encontrar alguém que quisesse morar comigo ou coisa parecida, mas pelo menos um grupo de amigos. E no final das contas eu só era o Nerd, o Esquisito.

Aprendendo a ser um cachorrinho (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora