Capítulo 2

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Capítulo 2

Otávio

Um adulto responsável e funcional teria ido direto para casa depois do trabalho. Talvez parando na biblioteca... ou parado numa padaria para pegar coisas para o jantar.

Foi uma coisa muito boa que eu não fiz nenhuma dessas coisas.

Por outro lado, eu não tinha exatamente um lar para ir também. Eu tinha um lugar para morar na faculdade, com um colega de quarto que poderia muito bem ter sido um estranho e uma pilha crescente de contas que eu ficaria feliz em ignorar.

O problema é que as pessoas ficam todas poéticas e dizem que há uma diferença entre uma casa e um lar. Eles falam sobre como o lar são lugares místicos onde todos se amam e são todos arco-íris e peidos de unicórnio. E inferno, era um ótimo lugar para crescer. Num bairro classe média, onde todos dirigiam SUVs e atuavam como se estivéssemos protagonizando uma série fofinha da Netflix.

Para mim, principalmente quando cheguei na adolescência, parecia mais um seriado de sobrevivência de zumbis assassinos.

Já meu colega, Leonardo, parecia o tipo de cara certinho que jogava pelas regras o tempo todo. Fazia alguns anos que dividíamos um apartamento no CRUSP. Apesar dos apartamentos terem três quartos a porta de um deles estava quebrada e por isso a administração só colocou nós dois. Léo, o cara mais nerd que conheci. Eu? Apenas agi com calma com o garoto da porta ao lado.

Sim. Eu fiz um monte de "coisas", com uns quinze eu descobri o quanto eu gostava de pau. Foi um fato para mim; claro que gosto do meu. Mas outros...

Talvez fosse por isso que eu não estava sendo um bom adulto responsável e indo direto para casa. Eu só podia imaginar o olhar de decepção e desaprovação no rosto de Leonardo se eu entrasse em casa com o cara quente desconhecido que me deu o número do celular hoje de manhã.

Eu liguei para ele de qualquer maneira. Ele me convidou e pronto. Múltiplos problemas resolvidos de uma só vez. Eu não tinha que ir para o lugar que chamava de casa, não tinha que fingir fazer coisas adultas, e não tinha que ver o rosto abatido do meu colega que ia de pena à aborrecimento num piscar de olhos.

Falando sério, a rapidez com que ele mudava de humor era como a merda de um superpoder.

Eu sabia que ele estava superando. A morte dos pais o atingiu muito, por isso que eu não estava indo para casa. Eu não queria tentar confortá-lo ou ouvir falas indignadas de porque eu não me dava com meus pais, como eu era sortudo de eles estarem vivos. Então?

Duas palavras: cara gostoso.

Seu apartamento era tão limpo que eu tinha medo de pisar no tapete, e ele me olhou quando tentei dar um passo para dentro. Mensagem recebida. Tirei meus sapatos e os coloquei ao lado da porta.

Cadu visivelmente relaxou.

Oh, pelo amor de Deus.

— Que bom que você pode vir, — disse ele.

— Eu também. — Fechei a distância entre nós, meio que esperando cair de bunda com os pés cobertos de meias em seu chão escorregadio.

Ele agiu primeiro, suas mãos já indo para o botão da minha calça.

Eu não ia reclamar. Tinha de escolher entre foder o Cadu ou pensar nos meus pais que viviam pedindo uma visita e no meu colega de quarto, perfeito demais. Eu não precisava ser um físico nuclear para descobrir qual seria a melhor escolha.

— Estava querendo beijar você desde a primeira vez que você abriu a boca, — ele respirou.

Eu estava querendo enfiar meu pau em sua boca desde a primeira vez que ele abriu a dele, mas eu aprendi desde cedo que não era o tipo de coisa que você diz se quiser transar. — Então cale a boca e me beija.

Aprendendo a ser um cachorrinho (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora