01. Digam olá ao papá

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de cakeslittlegirl

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Olho para todos os lados e a única coisa que vejo é escuridão. Ouço apenas o barulho do carro a passar por cima dos paralelos da rua, e sinto-o quando tremo de segundo a segundo, embatendo com as costas e com os ombros por todos os pontos da caixa de madeira onde estou fechada.
Agora consigo ver algo. Pelos pequenos cortes da caixa consigo ver luz, mas não é o suficiente para me manter estável. Eu estou assustada.
Em dias anteriores eu ouvi a minha mãe falar com um homem sobre dinheiro e vendas. Não entendi muito bem o que se estava a passar, e apenas sei que ela não está igual a antes. Os olhos dela estão sempre negros e o nariz vermelho. Ela já não diz coisa com coisa. Ela já não me ama.

Senti o carro parar e uma porta abrir. De repente ouvi um som que era idêntico a caixas a serem arrastadas e atiradas fora do carro. Ouvi gritos também. Há mais raparigas como eu ali? Será que há alguém mais velho que eu? Para onde estou a ir?

"Rápido! Estou farto de esperar por vocês." Gritou uma voz grossa, sem piedade ou paciência.

Comecei a ser transportada, arrastada. Ainda dentro da caixa. As lagrimas quentes a escorrer pela minha cara, e os guinchos de sofrimento que eu dava, ditavam o terrível medo que me possuía.
Isto não é um acampamento de férias, como me tinha dito. Isto não é para brincar e eu quero brincar. Onde estão as minhas malas? Eu quero o meu peluche de volta. Sinto medo sem ele.

"Cala-te, chavala." Bateram na caixa, fazendo-me gritar.

O meu corpo estava dorido de ter andado aos encontrões pela caixa. Ele está frio também.
É inverno e eu vim de saia. A minha mãe vestiu-me assim. Eu sinto-me esquisita. É uma saia muito curta e eu tenho adereços assustadores. Acho que se chamam ligas. Tenho uma no pescoço, e duas que conectam as minhas meias às cuecas. A minha mãe disse que era uma nova moda e ela queria que eu estivesse na moda. Mas eu não gosto muito disso.
Pelo caminho já tirei os totós que tinha no cabelo. Não gosto de os usar.

"As encomendas chegara, senhor Luke." Uma voz rouca e forte disse, parando de me arrastar.

Ouvi baterem na caixa novamente, sobre um riso e uma deixa dito de forma assustadora: "Digam olá ao papa."