Ouço murmúrios estranhos às onze da noite. Aproximo-me e as vozes não me soam a algo tão familiar quanto isso. Era uma mulher, com um tom de meia idade, e um homem jovem. Mas não havia sinais de Ashton. Desci as escadas, ainda que sempre tentando perceber o que se passava e quem seriam aquelas pessoas. Em um mês que aqui estou apenas soube da existência de Margo, a empregada da casa. É uma senhora de meia-idade, sim, mas não era ela que estava a falar. Não era a voz dela que eu ouvi-a.
Deixo-me à vista deles, visto que eles estavam na sala. Fico no cimo das escadas, esperando que eles olhassem para mim. O homem, que eu julgo ser algum tipo de colega do Ashton, usava fato preto e uma camisa branca. Ele era extravagante, nada que se comparasse ao Mr. Irwin.
Este jovem, com os seus vinte e cinco anos, por ai, tinha o cabelo vermelho, o que é invulgar nas pessoas que vemos hoje em dia, - nas pessoas que eu vejo, que são poucas - um piercing na sobrancelha, e a pele pálida, mas ainda assim uma postura apresentável e correta.
Por favor, que não seja outro que me quer comprar.
"Tu deves ser a Lola, certo?" Questionou, logo com um sorriso.
"Sim." Respondi, receosa.
"Sou o Michael Clifford, e vou servir de teu segurança/motorista." Apresentou-se, extremamente contente, como se isto fosse uma glória tremenda. Para ele talvez seja.
Inclinei a cabeça para o lado direito, e fixei-me na cara dele por segundos. Ele era realmente pálido, tão pálido quanto eu. Mas a sua cor de cabelo realçava-lhe a pele e a cor dos olhos. Tal como eu, Michael Clifford, tinha olhos verdes claros. Tinha um sorriso encantador e despreocupado. Provavelmente não sabe em que casa se encontra.
Deixando de olhar para ele, desviei o olhar para a outra senhora que se encontrava diante mim. Era baixa, loira, com sardas, e olhos castanhos-escuros. Uma combinação estranha, mas que não deixava de ser bonita, pelo menos para uma pessoa de meia-idade, que esta senhora aparenta ter. Até porque de loiras eu prefiro ficar longe. O meu pai traiu a minha mãe com uma, e eu tenho uma certa aversão a mulheres com essa cor de cabelo. Preconceituosa? Muito, talvez."Eu sou a nova empregada." Apresentou-se. "Precisa de alguma coisa?"
"Sim, claro. Sair daqui." Revirei os olhos.
Logo, interrompeu o senhor Clifford, dizendo: "Eu posso leva-la, se quiser." Tinha-me esquecido que ele podia mesmo tirar-me daqui. Nem que fosse por cinco minutos.
"Não tenho permissão para isso." E também não quero levar uma carga de porrada, outra vez. "Mas obrigada de qualquer das formas."
"Senhora." Disse ele aclarando a voz. "O senhor Irwin, disse-me que se você quiser ir ao shopping, ou dar uma volta num parque, você podia ir. Mas com a minha presença."
"Ele disse?" Voltei-me, surpreendida. "Oh." Arregalei os olhos. "Por favor, leva-me. Por favor. Por favor."
Visto a minha postura mais recente, e aposto que logo desde que me viu, este rapaz está quase como obrigado a chamar-me de senhora, pois o Ashton deve ter inventado alguma coisa dizendo-lhe um grau de parentesco inexistente. O Michael deve sentir-se desconfortável ao tratar-me por você, como se eu fosse uma senhora grande, importante, e adulta. Consigo ver na cara e nos olhos dele, o desconforto visivelmente grande.
"Chama-me Lola. Apenas tenho treze anos."
A senhora loira que ainda não se tinha apresentado devidamente, começou a abrir a sua boca em estado de choque. Já o rapaz de cabelo vermelho deixava visível o quão difícil foi engolir um pouco de saliva.
"Não estava à espera disso. Pareces nova. Mas não tanto." Realçou a senhora. "Então é mesmo verdade que já deixam casar os menores." Suspirou. "Outra vez." Murmurou.
"Casar?" Agora sou eu que estou em estado de choque.
"Lola Irwin? Não és casada com o Ashton?" Questionou Michael.
"Não!" Guinchei. Que nojo. "Não! Que horror!"
"Oh, o senhor Ashton disse-me que vocês eram casados, até porque ele tinha-me dito que te chamavas Lola Irwin."
"Não! Que me lembre ainda sou a Lola Martinez."
"És da américa do sul?" Perguntou o rapaz.
"Os meus pais nasceram e cresceram lá. Venezuela. Mas eu nasci cá e sou norte-americana." Expliquei. Quando era mais pequena isso fazia-me confusão, mas agora não.
"Então, Lola Martinez..." Michael fez uma expressão engraçada, bem como uma mudança de voz, fazendo-me soltar um sorriso. "Eu nunca fui ao shopping com mulheres, sem ser a minha mãezinha, mas se quiseres que eu te vá comprar umas cuecas, eu vou." Ele disse e eu entendi a brincadeira e o propósito.
Entendi que ele queria ser prestável para tudo e não se importava nem com o facto de ter de passar vergonhas, ao ponto de ir comprar roupa para mulher, ou assim.
Corri pelas escadas de maneira desajeitada, indo até ao meu quarto e pegando no mealheiro das poupanças. De longe a longe Ashton dá-me dinheiro e diz que é para urgências. Ok, isto não é necessariamente uma urgência. Eu não preciso de comprar nada. A urgência trata-se de querer sair de casa. Ainda que supervisionada eu vou sair.
Pensei mais de duas vezes se deveria ou não agir conforme aquilo que tenho na cabeça neste momento. Peguei no telemóvel e definitivamente mandei mensagem ao Luke, informando-o onde ia e dizendo-lhe também para ele ir lá ter. O bom de ter uma pessoa nova e fora disto que se passou anteriormente, é que eu vou poder estar com ele sem questões. Penso eu.
E penso que não vamos poder estar muito íntimos, tanto em público, como apenas perante Michael. Muitos acham um choque, e eu acharia se estivesse no lugar dessas pessoas. Uma jovem, criança, e um adulto formado.No pátio, já Michael estava há minha espera. Não sei se haveria de ir à frente, ao lado dele, ou atrás, como todos fazem quando tem motoristas. Decidi ir à frente. Reparei que o deixei atrapalhado e ele também não se ousou a dizer algo contra a minha ação.
"Então..." Quebrou o silêncio, ainda atrapalhado. "...tens fome?" Ele tirou do porta-luvas um kinder bueno, que por muito que eu não estivesse com fome, me deixou com ela.
"Não, obrigada." Soltei um sorriso. Oh, por favor oferece-me na mesma.
"Come." Insistiu.
"Oh, não. Isso é teu." Sorri mais uma vez. Se ele continua a insistir eu vou aceitar já, porque eu quero.
"Eu tenho mais ali." Apontou para o sitio onde tirou este, e logo em seguida abriu-o, tirando outro Kinder. "Toma."
"Obrigado."
"Chegamos." Ele disse, passado pouco tempo. Eu ainda estou a acabar o meu Kinder. "Eu tenho de ir contigo."
"Já estava à espera." Revirei os olhos. "Mas tu pareces ser um bom rapaz, então espero que não te importes de estar um pouco com um amigo meu."
"Desde que ele não seja um tal de Luke Hemmings." Atacou, num tom de voz arrogante.
Não sabia o que poderia responder, então a única solução foi virar costas e fingir que não ouvi nenhuma palavra que ele dissera. Abordou-me varias vezes, tocando-me no braço, mas eu não dissera nada. Correu para me alcançar e colocou-se à minha frente, dizendo:
"Tu ias ter com ele?"
"Não."
"Eu minto melhor." Revirou os olhos, gargalhando. Realmente ele tinha um à vontade muito grande com as pessoas para estar assim, já. E ele parecia ser simpático.
"Sim, eu ia." Rendi-me. "E eu vou."
"Mas tu não podes. O senhor Ashton –"
"O senhor Ashton nada." Interrompi-o, elevando o meu tom. "Ele não tem direito de opinar sobre isto da minha vida também! Por favor Michael, ajuda-me! Eu preciso de estar com ele. Por favor."
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DADDY'S FAVORITE • L.H • 1ª VERSÃO (NÃO EDITADA)
أدب الهواة- Estás a ser má. Onde está essa inocência, anjo? - Tiraste-ma ontem, papá.