21. Ele morreu

9 0 0
                                    

Estou cada vez mais histérica a cada minuto que passa. Agora que tenho a livre vontade para fugir e ser finalmente feliz, é-me impossível porque o facto de Luke estar assim, por minha causa prende-me aqui. E o facto de o continuar a amar também.
Tentei ir atrás de Ashton e ele tinha razão, já não há nenhum rasto dele.
De imediato fui pedir ajuda ao Michael. Bati à porta e ele não respondia. Repeti. Ele não disse nada.

"Michael." Chamei. "MICHAEL."

Nada mais pude fazer a não ser abrir a porta sem o consentimento dele. Que se fodam as boas maneiras nesta altura da vida.
De primeira vista não consegui perceber onde ele estava. Vi em volta e não o encontrava. A primeira coisa que pude pensar é que estou fodida. Mesmo.
Percorri o quarto todo que não era nem um pouco pequeno.
Bendita a hora em que me lembrei de ir à casa de banho. Não sei. Deu-me um clique mental e fui lá.

Ele estava amarrado, dentro da banheira e o reflexo que eu tive foi exatamente ir ajuda-lo e não entrar em pânico.
Primeiro de tido tirei-lhe o PA o grosso que ele tinha dentro da boca, a cercar-lhe a periferia desta e a amarrar na nuca. Seguidamente Soltei-lhe as mãos e os pés, ajudando-o a por-se de pé. A cara dele estava ensanguentada. Os labios roxos.
A respiração ofegante.

"Michael." Murmurei. "O que aconteceu? Foi o Ashton, não foi?"

"Sim." respondeu quase sem fôlego. "Por tua causa."

"Ele é louco." levei as mãos aos cabelos, entrelaçando os dedos nestes.

"Ele é obsessivo. Obsecado por ti."

Michael saiu da banheira, pondo-se em frente ao espelho e limpando o sangue que lhe escorria pelo lábio, com um papel.

"Merda." ele murmurava de dor.

"Espera. Eu ajudo-te." disse, pegando automaticamente num pouco de algodão que estava dentro de uma caixinha em cima do lavatório. Deitei-lhe umas gotas de álcool e prossegui, dizendo-lhe, num suspiro: "isto vai arder um pouco."

A reacção dele quando aquilo entrou em contacto com a sua ferida foi de doer no peito. Ele esperneou-se e contorceu-se. As mãos dele foram até à minha cintura, acho que inconscientemente, e apertou-a.
Depois de lhe ter limpo e estancado o sangue, Pousei o algodão e retirei as mãos dele do meu corpo.

"Desculpa." Michael disse.

"Temos de fazer alguma coisa." avancei, tentando ignorar o facto de que ele se estava a aproximar demasiado de mim e isso não era nada bom, em todos os aspectos. "O Ashton está a fazer isto por minha causa. Tens de te afastar de mim."

"Não!" Numa reacção inesperada, Michael levantou-se e Gritou como se estivesse a afastar um batalhão de demónios da cabeça dele. "Eu não te vou deixar sozinha! Não vou fazer como o Luke."

"O Luke..." engoli em seco. "Anda cá."

Estiquei a mão, para que ele me desse a dele e o guiasse através daí, mas ambos ficamos a encarar-nos de maneira hesitante, até que eu decidi baixar o meu braço e seguir caminho. Ele viria atrás de mim de qualquer maneira.

"Deveria ter impedido o Ashton de ir embora quando ele me deu isto." mostrei-lhe a caixa e seguidamente as fotos. "Mas eu nem sabia!"

Michael sentou-se na cama a ver, com uma expressão intrigada, tudo aquilo que eu lhe tinha passado para as mãos.
Ele parecia estar a juntar peças mentalmente.
Cruzou os braços e mastigou umas palavras quaisquer que eu não tinha entendido.
Pegou numa fotografia, que aproximou dos olhos. Era a fotografia onde apareceu o outro homem também. O homem desconhecido.

"Ouve a gravação." avancei, antes que ele se precipitasse.

Pegou no gravador e colocou-o em play. As expressões dele iam mudando à medida que ouvia cada palavra. Michael ficou mais chocado também quando entendeu que quem estava a falar era Ashton. Sei que não o ficou por ser ele, pois já era de esperar, mas ficou-o por alguém tão semelhante a ele estar na foto. Embora de perfil e não desse para entender quem era, o homem desconhecido era terrivelmente parecido com Ashton.
Michael teve a mesma reacção que eu.

"Quem é este?" Disse de si para consigo.

"Quem me dera saber." respondi, virando costas para ele, indo para a janela. Olhar para o horizonte, encara-lo, dava-me ideias. Inspirações, incentivo.

"Shiu... Lola." Ele engoliu em seco. Senti a voz dele aproximar-se. Ficou bem atrás de mim. Do meu ouvido. Eu senti. "Nós vamos encontra-lo."

Michael moveu-me, num ato rápido que me fez ficar encostada a si. Merda. Cercou-me a cintura com os braços. A minha pele ficou arrepiada. A respiração dele a bater na minha testa deixava-me hesitante.

"Michael. Não tornes isto mais esquisito do que o que já é." pronunciei em voz baixa.

"O gajo pode ter sido um palhaço contigo. Pode nem te ter amado. Mas se tu o fazes, vamos continuar com isto." Ele prosseguiu, não me largando. "Tu és tão fácil de amar. Parece impossível como é que ele não o fez. Tens a tua própria pureza e inocência, mesmo depois daquilo que passaste. Mas também tens malícia. És cativante. A tua ideologia, forma de pensar. És tão nova tens um mundo dentro da cabeça. Acho isso tão bonito." Michael continuava. Não abdicava de se aproximar. "É tão fácil amar-te, Lola."

"Mike." aclarei a voz. "Eu quero procurar pelo Luke agora." disse atrapalhada. "

Não sei se isto vejo ajudar ou dificultar, mas do nada comecei a ouvir uns bips vindos de um lugar qualquer. Não tenho ideia de onde venha.
Michael soltou-me e acho que aquilo veio a calhar por isso, só que era esquisito. Pareciam barulhos de bombas. Eu lembro-me de ver isto no CSI.
Entrei num mini-ataque de pânico que ia aumentando a cada segundo e a cada barulho que ia ouvindo.

"Lola, sai daqui." Michael disse por entre gritos. "Sai agora!"

Mal consegui entender aquilo que ele estava a dizer, apenas ouvi aquele barulho idêntico a uma bomba. Está aqui uma bomba? Merda.
Pousei a mão sobre o peito, empurrando-o com força. Respirei fundo e percebi que Michael voltava a dizer: "vai embora, Lola." por entre gritos.

"Não." respondi-lhe de igual forma.

"Vai embora agora." puxou-me e empurrou-me pelo braço, do quarto fora. Magoou-me mas sei que não é por intenção. "Eu vou ter contigo."

Corri para o lado exterior da casa, sem estar sempre a olhar para trás. Sem tentar ver quando é que ele vinha para aqui.
Merda, Michael. Anda. Volta.

O telemóvel começou a tocar. Era um número desconhecido. Outra vez. Decidi atender agora.

"Pensei que não me fosses atender novamente." Era ele. Porra. "Qual é o sentimento de estares a perder a única pessoa que estava contigo?" ouvi Ashton dizer do outro lado da linha.

"Tu estas a destruir a vida dos outros porque a tua já está destruída! Para, Ashton! Para!" Gritei tremendo por todos os lados. O telemóvel ia cair-me das mãos.

"3, 2,..." gargalhou apreciando o momento.

"PARA ASHTON IRWIN." Gritei de novo.

"1." Desligou a chamada.

Ao mesmo tempo que isso a bomba estoirou. A casa ardeu. Michael... Não... Michael, morreu.

Atirei-me para o chão, de joelhos, com a cabeça entre as palmas das mãos. Perdi a única pessoa que estava comigo. Que me ajudava.
Por minutos deixei-me ficar ali. A chorar sobre o leite derramado. Se eu soubesse eu tinha-me deixado ficar naquela casa. Tinha-me deixado morrer ali, naquela casa, junto com Michael, visto que ele era o único que eu tinha e ele morreu.

E agora? O que vai ser de mim? O que vou fazer? Para onde vou e como vou encontrar o Luke? Eu tenho de o encontrar.

"Ei, anjinho." ouvi-o dizer. Saltei. Levantei-me. Ele conseguiu. Ele não morreu. Ele está comigo aqui. "Não te vais ver livre de mim tão cedo." Michael sorriu e abraçou-se a mim. 

DADDY'S FAVORITE •  L.H • 1ª VERSÃO (NÃO EDITADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora