26. Nos braços da morte (part. 1)

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"Bom dia, querida."

Acordei com o sussurro de Luke no meu ouvido e logo depois virei-me para ele, conseguindo encara-lo e agarrando-me ao seu pescoço. Beijou-me a testa e eu, ainda no meu modo sonambulo, deitei uma perna por cima da sua.

"Amor, eu já volto." disse.

"Onde vais?" perguntei, tão sonolenta, capaz de agora adormecer como se nunca tivesse acordado.

"Lá fora. Querem falar comigo." Explicou. "Já volto."

Quando o vejo sair da cama, reparo que já se encontra vestido e de banho tomado. Despertei. A maneira como ele falou foi como se algo mais se passasse e tendo em conta as condições em que estamos tenho medo de tudo e de mais alguma coisa.

Repentinamente começo por ouvir uma voz masculina a gritar coisas como: "Eles estão atrás de ti." "Vais ler aquilo que mereces, Luke."

Levantei-me da cama, assustada, e fiquei a ouvir atrás da porta. Sempre me disseram que isso era feio e de má educação. Reconheço que assim seja, mas agora? Agora não quero saber da educação para nada quando é o homem que eu amo que esta a ser atacado por maluquices. Ou talvez verdades. E se forem verdades? Quem andara atrás dele?

"Tenho tempo suficiente para fugir." Respondeu Luke, impassivel.

Fugir? O quê? Para onde? Como?

"Não, não tens." Gargalhou a outra alma. Senti-o ser tão mau. O catarro na sua garganta, a voz rouca, o esforço que estava a fazer para ser ironico. Tudo me levava a querer que algo de mau estava para acontecer. "Hoje a tua vida vai acabar."

[...]

"Então, meu amor. Como passaste a noite?"

Era impressionante o facto de que Luke quis ser querido e trouxe-me a almoçar, ainda que fosse apenas à varanda no segundo andar da casa. Ele argumentou com o facto de que era demasiado confuso se fossemos almoçar os dois juntos e ele nem um beijo me pudesse dar na rua porque era chocante. Embora fosse bom e a nossa relação, aos nossos olhos, fosse boa, nem toda a gente pensa assim. Até porque ninguém sabe a minha historia. A nossa historia.

Por vezes ponho-me a pensar em como é que uma pessoa como eu, sem historia nenhum, certinha, que apenas queria vingar em alguma coisa boa o suficiente para dar um orgulho a alguém, se tornou em tudo o que podia existir. Eu sou uma puta. Eu já fui. Continuo a ser? As minhas atitudes fazem-me querer que sim, e o meu coração faz-me querer sair daqui.

Como posso conciliar tudo? Luke com uma vida normal? Ele ainda me quer aqui, e vai querer sempre. Mas se eu aqui ficar, como posso ser normal? Terei de um dia escolher algo. Luke ou uma vida. Ele até pode ser a minha vida, aquilo que eu quero, aquilo que eu desejo. Mas não é o suficiente e eu sei isso. Apenas quero conciliar tudo.

"Amor, não finjas como se não soubesses que eu ouvi a conversa." Murmurei.

"O bom de estarmos em privado é que eu posso fazer aquilo que eu quiser. Posso foder-te aqui em cima da mesa." Ignorou o que eu disse.

Levantei-me. Aproximei-me dele. Sentei-me no seu colo e mexi no cabelo loiro dele, fazendo rodas com os dedos, na nuca. Afaguei o pescoço dele com beijos e subi até ao lobulo da orelha, optando por lhe sussurrar algo como: "Por favor, Luke. Não me faças de parva."

"Desculpa." Pediu logo em seguida. "Era o meu pai. Ele voltou a ser preso. E solto." Explicou.

"Porquê?" Indaguei.

"Oh, eu quero muito foder-te em cima desta mesa." O olhar dele queimava no meu corpo, ainda para mais quando ele me segurou pela cintura, fez um movimento que me obrigou a abrir as pernas, e me encaixou nele. Perfeitamente.

"Luke!" Resmunguei.

"Desculpa." Pediu outra vez, coçando a cabeça. "A culpa foi minha. Novamente. Para não perder tudo, com medo do que o Ashton pudesse fazer, eu passei a casa para o nome do meu pai. Com calunias e coisas assim, eu consegui. E esse foi um dos motivos para o Irwin me ter prendido. Só que, anjo, tu não sabes de tudo e custa-me tanto contar-te."

"Tenta."

Reti algumas palavras de tudo aquilo que ele disse e durante tanto tempo que ele esteve a falar. Apenas conseguia fazer associações e mais associações. Maneiras de me proteger e de proteger quem eu quero.

Chego à conclusão de que de tudo isto, Luke é o unico que nunca vou conseguir salvar. Ele não iria deixar que eu assim o fizesse.

Discretamente e lentamente eu fui até ao pátio. Desci as escadas, fui lá para fora. Ele não disse nada. Creio que nem o deveria fazer. Mas veio atrás de mim.

"Lola, eu coloquei-te em perigo tantas vezes, meu amor. Tens todo o direito de estar chateada comigo. E eu nem me vou opor...-"

"Luke. Não estou chateada contigo. Estou chateada comigo, porque eu cresci. Não estava à espera que isso quisesse dizer que eu me vinha apaixonar por ti. E eu estou tão apaixonada por ti. Porra. Amo-te tanto." Abracei-o fortemente. "Só quero que saibas que te amo. E que eu tenho em consciência que nem tudo o que fizeste foi por mal. Eu sei que tu o fizeste por bem. Obrigada por me teres tentado salvar daquilo que era suposto ser. Mas, desculpa. Eu nunca te vou poder salvar."

Contudo, na minha mente ainda está a nossa conversa. Tudo aquilo que ele me disse. O pai dele voltou. O terror voltou. Como não podiamos melhorar isto, Luke quis passar a casa para nome do pai, para que se esta viesse a ser alvo de pesquisas por mandato de Ashton, o preso e acusado, não fosse ele.

Mas acontece que a verdade vem sempre a cima, e agora não foi excepção. A policia anda atrás do Luke, do meu Luke e eu nem sei o que fazer.

"Apenas fica comigo até ao fim." Afagou os meus cabelos. "É uma boa maneira de me salvares."

"Sabes, na minha cabeça está o Ashton. Que nem sequer é o Ashton. Como é suposto eu lidar com isto também? Ele anda à solta."

"Jimmy."

O meu cerebro jogava ping-pong contra as paredes do meu crânio e isso deixava-me tão confusa, porque haviam coisas que eu não conseguia entender.
Como pode haver pessoas tão cureis ao ponto disto. De ser como o Ashton... oh, Jimmy. Erro meu.

Para mim, o mais chocante... a revelação mais chocante, foi o facto de que enquanto Luke esteve preso o passado dele foi-lhe revelado. Tudo aquilo que ele nem sequer sabia, ficou a saber.

O nosso conhecido Ashton Irwin parecia não gostar do seu nome, das suas raizes - acho que tem alguns motivos, embora eu não os considere validos. Na verdade ele é um Hemmings, e foi tirar um pouco da vida de um desconhecido com caracteristicas parecidas com as dele, para se vingar da familia.

Pelo que parece ele foi posto de parte, por toda a gente. Ele era diferente. Foi internado numa clínica. Certo que Luke sabia que tinha um irmão, e pelo que ele me disse, a ultima vez que ele o viu foi quando eles eram muito pequenos, então agora nada dava para distinguir. Toda a sua familia tinha dito que ele estava morto. Que morreu num hospicio. E agora... ele voltou. Quer-se vingar, porque com o nascimento de Luke tudo mudou. As atenções eram só para o Luke, e isso fê-lo enlouquecer. Agora, Jimmy, quer roubar tudo de Luke e já deu provas suficientes de tudo o que era capaz.

"Eu nunca te vou deixar meu amor. Mesmo seu eu o fizer, lembra-te que eu não o fiz."

Dito isto, ouço um estrondo que me fez gritar. Luke riu de mim, mas logo o seu sorriso foi apagado quando viu que uma caixa caiu do céu e foi deixada ao nosso lado. Uma caixa pequena que foi largada por um aparelho que eu nem sei o nome. Uma coisa que voava e logo foi embora.

Ele dirigiu-se até ela. Tentei impedi-lo, mas foi-me impossivel. Continuou a aproximar-se. Mas sera que este homem não sabe? Que não se deve aproximar de objetos desconhecidos. Tenho medo. O que é aquilo e de onde veio?

"Oh meu deus." Disse ele, depois de abrir a caixa.

Depois de olhar para dentro desta, recuei, tapando a boca com as mãos. Dentro da caixa tinha um coração. Humano. E um papel por cima desta.

"Olá, vejo que já descobriram a minha verdadeira identidade. Aqui está um presente daquilo que eu sou capaz de fazer. Nunca duvidem de mim. Luke, podes querer passar-me a perna mas isso é impossivel. Lola, tu vais ser a proxima. E se não fores por mim, vais acabar por ser. Por morrer. Beijos, Jimmy Hemmings. "

DADDY'S FAVORITE •  L.H • 1ª VERSÃO (NÃO EDITADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora