Lover of Mine // lrh

•24•

— E foi daí que tudo tudo desandou — suspiro, ao terminar minha fala.

— E o que você conclui de tudo isso, Megan? — a mulher sentada em minha frente questiona, me encarando numa análise que me incomodou por algum tempo, mas agora não mais.

— Honestamente, não sei. — dei de ombros — Ainda não consigo entender e muito menos perdoar o fato de minha mãe biológica ter vindo me procurar por um único interesse de que eu ia ajudá-la, mas é algo que não me incomoda mais. Machucou e me deixou perdida por um tempo, mas eu posso dizer que estou bem hoje. Consigo entender também por que meus pais adotivos fizeram tudo aquilo, eu sei que eles só queriam me proteger e eu sou muito grata por tudo o que eles fizeram por mim. Sem eles, sabe lá se eu sequer estaria viva. — falo, sorrindo.

Eloise, minha psicóloga, abaixa a prancheta me olhando com um sorriso nos lábios que a vi dar poucas vezes durante as sessões.

— Você sabe, Megan? Quando chegou aqui, você era só uma moça com muitos pensamentos fora de ordem na cabeça. Eu sempre tenho muitos desafios e dificuldades até finalmente conseguir fazer meus pacientes falarem comigo, mas você não. Você chegou aqui e cuspiu tanta informação que eu quase não consegui te acompanhar. — solta uma leve risada — Mas olha só pra você agora. Evoluiu tanto em tão pouco tempo, eu quase não tive nenhum trabalho. Você sempre soube seu caminho, Megan. Só precisava de alguém que te guiasse. — apontou para si mesma e nós rimos — E agora, eu posso te soltar por que sei que não vai mais cair.

O sorriso que estava em meu rosto, ouvindo ela falar sobre minha trajetória morre no mesmo instante.

— Como assim?

— Você está livre, Megan. — encolhe os ombros — Eu não vejo mais nenhum motivo para você continuar comigo. Estou te dando alta. — Eloise me olha como se não fosse nada, como se estivesse pronta para aquilo.

— M-mas... Alta? Você não pode me dar alta agora. Eu não pedi por isso — estou de olhos arregalados e com o queixo caído como se ela tivesse acabado de me dar a pior notícia do mundo inteiro.

— Não só posso, como já dei. Você não tem por que continuar vindo, Megan. Resolveu todas suas questões, encarou e derrotou todos seus demônios. Você não precisa mais do meu apoio. — responde simples e tranquila.

— Mas e se você estiver errada?

— Querida, acho que nós duas nos conhecemos o suficiente para saber que eu nunca estou errada — me olha com um tom brincalhão. — Se estou te dizendo que está pronta, é por que tenho plena convicção disso. Você sabe que eu jamais te soltaria se não tivesse certeza. — põe as mãos sobre o colo e espera que eu processe a informação.

— E se eu tiver dúvidas? E se eu não souber para onde ir? Sem você para me apoiar, eu não vou conseguir.

— Meg, você sempre soube para onde ir. Eu nunca fui sua muleta ou seu apoio. Você sempre foi tudo isso. Eu no máximo fui uma seta te mostrando por onde seguir. E agora você já sabe o caminho por que eu te ensinei. Várias vezes.

Me recosto no sofá, perplexa e chocada, sem ter mais argumentos para discutir.

— Então, eu estou de alta?

— Livre como um passarinho que acabou de aprender a voar. — ela me lança um sorriso reconfortante, que acabo retribuindo.

— E se eu quiser voltar?

— Você sempre vai ser muito bem vinda e sabe muito bem que minhas portas estarão sempre abertas para você. Mas por hora, sei muito bem que não precisa de mim. E nem vai precisar tão cedo.