Após esse ultimato ele tentou de toda forma evitar ela, mas ainda assim ela não parava de estar em cima dele. E essa foi exatamente a forma que eu conquistei ele, eu não ia aceitar perder ele de novo. Então, aproveitei uma dessas vezes onde ela estava querendo puxar assunto com ele, e ele estava andando, querendo fugir dela, cheguei no ouvido dele e sussurrei:
-Acabou.Ele chorou por algum tempo, fiquei mal por isso. Mas eu não podia arriscar perder ele depois, era melhor perder agora do que ser humilhada depois. E agora o caminho pra Luciana estava livre, eles podiam ser felizes juntos. Mas isso não aconteceu.
Após isso, alguns dias depois chegou finalmente a viagem até a casa do meu pai. Que saudades que eu estava! Vi pela primeira vez acordada o ano novo, os fogos. Vi pela primeira vez o meu pai bebendo cerveja. Foi uma viagem mágica e maravilhosa. Exceto por uma coisa: Eu agora não era mais a caçula.
Na mesma época em que meu irmão nasceu, meu pai teve uma nova filha, agora com minha nova madrasta, que se chamava Brenda. A Brenda era até gente boa, mas mudava de humor muito rápido e quando o papai não estava perto ela não era tão simpática assim. Eu não acreditava que o papai estava me traindo daquela maneira, estava triste por ele ter arrumado outra para colocar em meu lugar. Mas ao mesmo tempo, aqui nessa casa tinha um ponto de divergência: eu continuava sendo a garotinha.
Meu pai continuava me tratando como a garotinha dele, a preferida que eu sempre fui, nada tinha mudado. Sempre que ele saía ele me convidava para ir junto, ele falava que eu na idade dela era mais desenvolvida, mais inteligente, aprendia as coisas mais rápido, era mais bonita. E sempre que eu queria me sentir triste, ele me fazia sentir a menininha dele de novo, contando histórias pra eu dormir enquanto ele balançava a rede.
E eu voltei pra visitar ele mais uma vez. Dessa vez, minha mãe estava junto. Passamos um mês inteiro e sensacional juntos. Fiquei tão triste na hora de ir embora por imaginar o sentimento dele, e o meu também, de termos que nos separar de novo. Acordamos de manhã, ele levantou, correu pelo quintal uns 50 minutos, capinou o quintal e veio tomar café. Eu estava arrumando minhas malas, então já tinha tomado mais cedo e estava colocando minhas malas no carro. Sentei no sofá e fiquei esperando ele terminar de se arrumar para irmos.
Quando ele sentou no banco do motorista eu percebi que ele não estava muito bem. Perguntei se tinha acontecido algo, e ele só me respondeu:
-Pera ai Sofie, fica ai 5 minutinhos, já volto.Com certeza ele deve ter esquecido algo, por isso está assim. Quando ele está com um problema ele sempre fica assim, pensativo. Ou será que ele estava triste por eu ir embora? Será que é esse o problem...
-SOFIEEEEEEEEEE
Meu Deus, que barulho é esse? Por que a Bruna está gritando? acho que quebrou algo, vou lá ver. Vou me aproximando pelos fundos e consigo avistar de longe meu pai caindo no chão. Começo a correr o mais rápido possível e ao olhar pra ele, ele está com os olhos fechados, mas ainda respirando. A Bruna tenta ligar para a ambulância, e me pede para apertar o peito dele enquanto isso, mas eu não sei o que fazer, não sei como fazer isso. Eu simplesmente aperto e peço chorando pra que por favor ele não me deixe. Por favor pai, eu imploro, não me abandona, não me deixa aqui sozinha. Pego o celular o mais rápido que posso e ligo para ambulância, mas dá sem sinal. Tanto eu quanto a Brenda gritamos sem parar por socorro. Meu pai vai ficando cada vez mais roxo e começa a vomitar sem parar. Até que eu finalmente consigo mandar uma mensagem pelo whatsapp para minha mãe e ela consegue ligar para a ambulância. Ao chegar a ambulância, eles levaram o corpo do meu pai e, minha avó e mãe me levam para tomar um ar. Peço para a Brenda me avisar qualquer novidade. Eu estou com muito medo de perder meu pai, mas tenho confiança de que vai dar tudo certo.
Vamos até algumas lojas, escolhemos algumas roupas, tomamos um sorvete para nos distrair um pouco e tomar um ar. Estávamos indo em direção á casa do meu pai, para ter notícias quando meu celular começa a tocar.
-Alô
-Oi Sofie...
-E aí, alguma novidade? ele acordou? está em qual hospital?
-Olha eu não queria dar essa notícia por telefone, mas... Ele nã- (fungadas altas, eu já sabia o que estava acontecendo.) Ele não aguentou Sofie.Eu não vou aguentar agora. Tudo começou a desmoronar novamente, tudo voltou a dar errado. Eu não acredito que a única coisa que eu tinha na minha vida se foi. Eu não posso perder meu pai, eu não aceito! Como ele não aguentou? não dá, não pode ser. Ele estava em meus braços e eu não fiz nada, a culpa disso foi toda minha. Eu não pude salvar ele, eu não fui boa o suficiente. Eu perdi tudo. Minhas lágrimas começam a escorrer sem parar e eu entrego o celular para a minha mãe para não ouvir mais nada. Minha avó já pegou no ar o que tinha acontecido então continuou o caminho até a casa dele de volta.
Chegando lá, meu irmão mais velho e a Brenda me receberam com um abraço. Agora precisávamos ser fortes. Fomos avisando nossos outros irmãos para discutir o restante sobre o velório e enterro. Mas enquanto eles discutiam, só se passava uma coisa na minha cabeça: Eu não quero enterrar, eu não ligo pra em qual cidade ele vai ser enterrado porque a única coisa que eu quero é ele aqui novamente. Quero abraçar ele, quero rir com ele. Na minha mente só vem as cenas com ele, é como um filme onde eu estou do lado de fora da minha vida o tempo todo. Eu daria qualquer coisa para ter mais 5 minutos com ele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Distorção Borderline
NonfiksiConflitante, você consegue fazer uma distinção entre o real e o imaginário? Essa leitura vai te fazer duvidar de suas próprias capacidades cognitivas e assim entender com perfeição como funciona a mente de uma pessoa com o distúrbio, desde o início...