Capítulo XIV - Fichas

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A minha ficha ainda não caiu, eu ainda não aceito que ele se foi, os discursos do enterro dele ainda estão vivos em minha mente, os momentos. Já fazem 4 meses, minhas notas só vão de mal a pior, agora estamos em uma cidade nova, novamente, e aqui eu não tenho amigos nem na igreja e nem na escola.

E dessa vez, quando falo que não tenho amigos, não é porque eu tenho mas estou brigada com eles. Eu realmente não tenho, as pessoas não querem se aproximar de mim. E eu não julgo elas, eu entendo. Quem ia querer estar perto de mim agora? Eu estou acabada, a única coisa que eu sei fazer é chorar, minha primeira menstruação desceu no velório do meu pai, e agora eu perdi a cidade que eu estava adaptada, a escola, os amigos, a igreja e a boa convivência que eu tinha.

Mas sabe, quem me ajudou muito foi meu outro pai. Sou muito grata á ele pois quando o papai morreu, era ele quem estava aqui me apoiando. Ele me ligou para me dar apoio, falar que estava comigo. E realmente estava, eu ainda tinha um pai. Mas infelizmente um não substitui o outro e era impossível não me lembrar do meu pai biológico. Lembra que a música era minha principal forma de expressão?

Antes as minhas músicas eram um estilo para cada sentimento. Felicidade era sertanejo e funk, já tristeza era planos impossíveis da Manu Gavassi. Mas após tudo isso, a única coisa que tinha na minha playlist era Rock. Cbjr e Pitty para quando eu estava tentando ficar feliz e System of a Down, Linkin Park e Metallica.

Eu me sentia tão solitária. E foi ai que comecei a escrever aqui no wattpad. fiz diversos livros com 6 páginas de 100 carácteres no máximo cada um, e expressava sempre minha desilusão amorosa, que na verdade não era a primeira mas sim a segunda. Se tiverem curiosidade posso colocar o link aqui, mas enfim, continuando.

Além de estar em uma cidade nova, de não ter amigos, nem conhecidos, eu tinha perdido o meu pai e ainda estava passando por todo aquele processo hormonal da primeira menstruação, tudo isso ao mesmo tempo como uma bomba. Era tudo muito pesado, eu simplesmente não queria viver. Tudo que eu queria era uma amiga pra conversar. Apenas por 5 minutos. Uma amiga que gostasse de mim, era a única coisa que eu pedia pra Deus todos os dias.

Estava sendo tudo muito desafiador pra mim, então minha mãe decidiu me levar em uma psicóloga no postinho. Me deixou pior do que eu já estava, ela relatou tudo que eu havia confidenciado a ela, explicando que eu precisava entrar em algum esporte ou algo que me possibilitasse fazer novas amizades. Nunca mais eu quis voltar lá.

Minha escola tinha pouquíssimos alunos e, os que tinham não gostavam de mim, sofri muito bullying por já ter muitas espinhas. Eu odiava a escola, muitas vezes chegava em casa chorando e pedindo pra nunca mais ter que voltar lá. Na igreja as coisas eram um pouco diferentes: ninguém me zoava, pelo menos não na minha frente, mas me excluíam. Me excluiam e me faziam me sentir um lixo, mas do que eu já me sentia, simplesmente por me excluírem. Não importa o que eu fizesse, sobre o que eu conversasse, eles nunca gostavam de mim.

Depois de algum tempo sofrendo com isso, meus pais perceberam que aquela situação precisava mudar e assim nos mudamos para um apartamento no centro. Apesar de eu não ter feito amigos no prédio, eu comecei a fazer alguns amigos na escola nova, que agora era uma escola pública que tinha muito mais gente, o que me possibilitava socializar melhor. Além disso continuamos indo na nossa igreja no bairro antigo e logo surgiu uma menina nova, que se tornou minha melhor amiga.

Eu não precisava fazer muito esforço pra ela gostar de mim. Isso era tudo que eu queria! conversávamos horas, eu nem sei de onde surgia tanto assunto. Passeávamos no shopping, ela até dormiu em casa uma vez. Nos apaixonamos pelo mesmo garoto, aquele que me iludiu e eu acabei não citando aqui mas, o nome dele era Leo. Depois de sofrer por tanto tempo (na verdade foi apenas 1 ano mas pra mim parecia uma eternidade) eu decidi desencanar e deixar de sofrer. Em um dos livros daqui do wattpad eu falei um pouco sobre a história e como me senti na época.

Com a distância, eu e a Bella fomos nos afastando, mas nunca deixamos de ser amigas, apenas não éramos mais tão próximas como antes. E daí surgiu uma nova melhor amiga: Ka.

A Ka estudava comigo. Ela também era como a Bella, no sentido de gostar de mim sem eu precisar fazer muito esforço, já que ela era nova na escola. Ninguém gostava muito dela e nem de mim, então foi a combinação perfeita. Ela também gostava de funk e sertanejo e aquilo me trouxe de volta as memórias felizes da minha "primeira" cidade de mudança, antes de vir para a Florida. Me retornou a minha felicidade, me fazia rir todos os dias. Me ensinou que nunca se deve chorar por um homem, mesmo eu chorando muito ainda naquela época por vários amores não correspondidos. Eu também não podia perder a amizade dela.

Com o tempo fui fazendo outras amizades também mas, a Ka era a minha pessoa favorita, é como se eu sempre tivesse um hiperfoco em uma pessoa sabe? ela era tudo pra mim, eu defendia ela de qualquer acusação, faria qualquer coisa por ela. Até mesmo reivindicar mais um amor.

E foi exatamente o que aconteceu.

Distorção BorderlineOnde histórias criam vida. Descubra agora