Capitulo VIII - Adaptações

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Após toda mudança, há uma adaptação. A minha adaptação com certeza não foi um ponto chave pro desfecho deste livro, eu sempre me adaptei fácil á mudanças visto que sempre nos mudamos muito. Em 8 anos de vida, eu já tinha me mudado pelo menos umas 8 vezes, sendo que dessas, 3 foram mudanças de uma cidade para outra, e o restante dentro de uma mesma cidade. Minha adaptação aqui também não foi diferente, logo eu entrei em uma escola perto de casa, fiz amigos rápido, eu gostava deles. Na igreja eu não tinha tantos amigos assim, mas aos poucos eu ia conquistando a galera, eu gostava muito de falar com todo mundo. Com o tempo fui conquistando a confiança das crianças da igreja também e logo nos tornamos amigos. Alguns às vezes me humilhavam um pouco mas, crianças não percebem isso, para mim estava tudo incrível.

Exceto pela Maria. Que garota insuportável, fala sério! O pouco que tínhamos ela queria tudo pra ela, meus brinquedos, as comidas que minha mãe comprava com todo o esforço pra mim, e até mesmo o meu óculos! ela quebrava as coisas em casa, fazia bagunça e a culpa sempre caía em cima de mim. Todos me viam como uma criança bagunceira, e eu nunca fui isso, quem me conhecia de perto sabia. Aquilo me indignava, me subia um ódio incontrolável. Mas a mamãe sempre me dizia:

-Sofie, você é uma menina boa. Além disso você é mais velha, você já consegue entender as coisas. Ela ainda não, ela só tem 5 anos.
-(Eu não acho isso justo, mas preciso entender e preciso ser boazinha pra mamãe. já não basta tudo que ela está passando.) Tá bom mamãe.
-Eu sei que você não é o que as pessoas pensam e falam, sei também que mesmo sendo menor, a Maria é manipuladora e faz as coisas, jogando a culpa em você. Mas eu prometo que logo vamos arrumar um cantinho e vamos juntas! Vai dar tudo certo, tenha paciência.

Eu não aguento mais ter paciência. Desde que cheguei aqui tudo tem dado errado. Que saco! Mas tudo bem, vai dar tudo certo. Aliás, nem tudo deu errado, ainda tenho meus amigos, apesar de estar morrendo de saudades do meu pai... Sabe, eu vejo as crianças cada uma com um pai e uma mãe, ambos juntos, meus amigos com pai, mãe e avó... sinto falta da minha família. Mas eu entendo que foi melhor assim. Tá tudo bem...

-Oi Sofie
-Oi Raya! vamos brincar?
-Tá bom.
-Toc Toc Toc Toc (a avó da Raya se aproxima, lentamente, ela tem um cheirinho tão gostoso de vovó...) Raya, vamos fia?
-(Eu preciso dar um abraço nela!) Oi vó, você está linda hoje! posso te dar um abraço?

Me aproximei devagar, um pouco com medo, mas a abracei o mais forte que eu podia. Eu tinha esse costume de abraçar a todo mundo que eu gostava, e até quem eu não gostava, pois a mamãe falava que isso "quebrava" as pessoas. E eu queria muito que essas pessoas gostassem de mim. Depois de alguns minutos abraçando a avó da Raya, a Raya nos encara com um olhar amedrontador e diz:

-Ela não é sua avó, Sofie. Você nem tem avó.
-VAMOS RAYA? - Diz os pais da Raya chegando logo em seguida. E eles vão embora, Raya, seu pai, sua mãe, avó e avô.

Aquilo doeu muito pra mim. Tudo que eu queria naquele momento era pelo menos um deles: ou meu pai, ou um avô, uma avó. Alguém que estivesse comigo e que me amasse, era tudo que eu buscava. Não estava sendo fácil. E tudo isso foi piorando, cada vez mais.

A Sofie não sabe mas, eu presenciei aquela cena. E me partiu o coração ver a Raya humilhando a minha filha daquele jeito. Eu não tinha o que fazer e me culpei pelas minhas escolhas, por não ter escolhido um pai bom pra Sofie e conseguido dar uma família pra ela, e ver ela passar pela mesma situação que eu passei quando era criança. Peguei raiva da Raya por um bom tempo, mas eu entendia que ela também era só uma criança e não sabia o que estava falando. A melhor forma de quebrar aquele gelo era indo embora, então chamei a Sofie e fomos pra casa.

Distorção BorderlineOnde histórias criam vida. Descubra agora