Capítulo XX - Válvulas de Escape

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Eu queria seguir firme na igreja. Afinal, foi Deus quem me salvou da morte várias vezes e me ajudou a suportar toda aquela dor. Mas era difícil sozinha, mesmo que eu fizesse tudo certo, as pessoas da minha idade não gostavam de mim. Algumas até inventavam mentiras, o que não é culpa de Deus mas, querendo ou não nos desanima e muito!

Então parei de me importar. Comecei a usar roupas que eu gostava no meu dia a dia, até respeitando o que era pedido, e as coisas foram ficando cada vez piores. Eram cada vez mais boatos que inventavam sobre mim. Até que eu voltei a ter contato com a Bella, que me apresentou alguns novos amigos. Todos nós éramos excluídos, então decidimos criar nosso próprio grupinho. E assim fomos. Fabian era primo do Leo, o meu segundo amor da vida, e o primeiro da Flórida. Fabian era totalmente o oposto do Leo. Tinha também a Hellen, que eu não era muito fã mas sentia dó também por ser excluída. Giorgia, que acabou se tornando a minha pessoa favorita e João, que vai render boa parte deste capítulo.

O João tinha um irmão, o Victor. Antes de eu ter amizade com o João eu era mais próxima do Victor, porém ele começou a criar um certo sentimento por mim. Sempre que haviam as festinhas da igreja ele andava comigo, me ajudava a cuidar do meu irmão. Eu gostava muito da amizade dele. Porém o João era diferente. O João não falava tanto comigo mas, quando ele falava meu coração acelerava. Até uma vez em que sentamos na quadra, enquanto todos estavam jogando vôlei, e ficamos na arquibancada conversando. Ele colocou a mão em cima da minha e ficou segurando por algum tempo. Aquele momento foi incrível, eu senti que ele estava sentindo algo por mim também, me senti eufórica, eu queria correr, sei lá, gastar aquela energia toda que estava subindo. Logo outras pessoas da nossa idade começaram a chegar e acabaram atrapalhando aquele momento. Mas parece que Deus estava do nosso lado. Acabou e energia da quadra e, naquele momento, eu encostei no ombro dele. Ele começou a fazer cafuné no meu cabelo por um bom tempo, sem ninguém ver, ninguém nos julgar ou encher o saco. Simplesmente aquele momento era nosso. Eu me senti acolhida, me senti amada e faria qualquer coisa para ficar mais tempo ali. Queria que o tempo parasse para nós. Mas em alguns minutos a energia voltou e acabamos nos separando de novo. Algumas crianças eram mais novas, nossa tínhamos 14 e eles tinham entre 11 e 12. Então nos chamaram pra brincar de esconde-esconde. Era o momento perfeito pro nosso primeiro beijo, íamos até o banheiro para nos esconder e assim dar o nosso primeiro beijo juntos. Mas o Victor era esperto, ele sacou o que estava rolando entre mim e o irmão dele, e decidiu entrar no banheiro para se esconder junto com a gente, bem no momento em que ia acontecer. Mas estava tudo bem, só não era o momento certo.

Depois fomos todos até a pista de skate e ficamos conversando por um tempo até a hora de ir embora. Quando cheguei em casa, já tinha mensagem dele. Apesar de não ter acontecido nada, é como se já tivéssemos uma conexão de outro mundo, era um amor avassalador que parecia que eu nunca tinha sentido antes. Porém eu tinha sentido sim, e justamente os que eu senti esse amor, foram os que deram mais errado.

E foi exatamente o que aconteceu. Conversávamos todos os dias, ele me pediu em namoro. Nós ligávamos um para o outro todos os dias. A mãe dele gostava de mim e a minha simpatizava um pouco com ele, pelo menos ele era da igreja. Infelizmente depois de algum tempo fomos nos afastando, mas eu ainda gostava dele. Porém decidimos seguir nossos caminhos, na hora certa nossos caminhos se cruzariam e a gente não tinha nem mesmo dado nenhum beijo. Pouco depois teve outra festinha e, nessa, o irmão dele estava mais afim de mim do que antes. Ainda era recente que eu tinha terminado com o João, eu ainda gostava demais dele. Afinal, uma paixão forte dessas não se esquece do dia para a noite. Mas o Vitor insistia em ficar comigo. Até que ele me chamou em um canto, disse que precisava falar comigo. Eu já imaginava que ele ia tentar algo comigo, então falei para uma colega vir comigo. Eu só não sabia, que essa colega gostava dele. Então ao chegar lá onde ele queria me levar, ela imaginou que ia conseguir ficar com ele, enquanto eu fui ao banheiro. Quando eu voltei, as luzes do prédio estavam desligadas, eu acho que era o sensor de presença. Ele se aproximou de mim e me puxou pra perto dele, enquanto a Duda procurava por nós. Eu simplesmente não consegui dizer não, novamente. Então ele se aproximou do meu rosto e eu simplesmente correspondi, e ali nos beijamos. A Duda percebeu e logo parou de nos chamar. Quando eu vi que ela estava indo embora, eu fui atrás dela e deixei ele lá sozinho. Depois disso nunca mais falei com ele e nem ele comigo.

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