CAPÍTULO VINTE E CINCO

615 76 42
                                    

Ela estava fazendo justamente o que ele queria, quase não a via mais durante o dia. No desjejum ela mantinha-se calada e respondia suas perguntas de forma objetiva. Não voltou mais ao seu escritório e centrava sua atenção em Joalin. A casa estava sempre organizada e funcionava em ordem como há muito tempo não via.

Então porque sentia-se como um desgraçado?

Depois da maldita discussão que tiveram quase uma semana atrás Noah não conseguia tirar a imagem dela da cabeça, primeiro no jardim com o avental sujo de terra enquanto tentava demostrar que a conversa que havia escutado não a tinha afetado. E depois dela no meio do quarto limpando uma insistente lágrima que escorria pela sua bochecha.

Collin o havia chamado de asno, e céus sentia-se como um. Estava casado a menos de um mês e já havia conseguido magoar sua esposa. Um medo o envolveu ao pensar que ela poderia o deixar como Savannah havia feito. Será que era incapaz de fazer uma mulher feliz? Com Savannah pecou por se entregar demais e com Sabina não se entregar parecia ser o seu pecado.

Na mesma noite da discussão ela não desceu para o jantar e pediu para o mordomo lhe avisar que estava indisposta. Quando a procurou aquela noite ela lhe disse estar com indisposição feminina. Noah sabia que era uma mentira, mas mesmo assim estava esperando os cinco dias até que a "indisposição" passasse. Estava a quatro dias sem ir ao quarto dela, há quatro dias sonhava com sua tentadora esposa e com sua resposta apaixonada na cama.

A quatro dias tentava levantar a bandeira branca no seu casamento, mas ela não lhe dava oportunidade.

"E se eu quiser mais?"

As palavras dela voltaram a sua mente pela milésima vez. Estaria Noah disposto a dar? Não queria nunca mais depender de uma mulher como dependeu de Savannah, havia entregado tudo de si a ela. Sabina não era como ela, mas aterrorizava a Noah estar tão vulnerável mais uma vez, deixar que uma mulher comandasse seus pensamentos tirava de si seu controle e não queria isso. Queria manter seus pés no chão.

Olhou frustrado os papéis que haviam sobre a sua mesa, já nem conseguia se concentrar em suas obrigações. Caminhou até a janela e observou o jardim que sua esposa esteve trabalhando desde o dia em que seu casamento começou a desandar, ela havia plantado vários jasmins que já se acostumavam ao seu novo lar, o som de uma risada o fez olhar mais adiante.

Sabina e Joalin estavam sentadas embaixo de um sombroso carvalho, o vento balançava o cabelo de ambas, quase se misturando, enquanto sua esposa lia algo em um pequeno livro que divertia muito a Joalin.

Bem, era isso que queria não era? Ela estava cuidando de sua filha, já havia conseguido uma nova preceptora e acima de tudo, Joalin parecia feliz. Nunca escutou tanto a risada da filha como depois que casou com Sabina.

Mas e ela, estaria feliz? Nunca foi sua intenção fazê-la infeliz, e céus! Pensou que havia deixado bem claro suas condições quando a pediu em casamento justamente para evitar esse tipo de situação.

Saiu da janela enquanto levava as mãos aos cabelos e pensava o que faria da sua vida.

***

- Por hoje só, carinho. A senhora Sylla já deve estar a sua espera para a lição da tarde. – Sabina falou enquanto se levantava da toalha em que esteve sentada enquanto lia para sua enteada.

Curiosamente a menina levantou-se sem reclamar.

- O que está achando de sua nova professora, Joalin? – Perguntou aquilo pela décima vez a pequena, mas não custava nada reforçar. Não queria, em hipótese alguma que Joalin  voltasse a sofrer o que sofreu nas mãos da sua antiga professora.

- Eu gosto dela, mamãe. A Senhora Diarra prometeu-me que hoje me ensinaria a falar algumas palavras em francês. – Joalin falou triunfante.

Um suspiro de alívio tomou conta de Sabina, pelo menos uma das suas funções estava fazendo de maneira correta, quanto a outra, bem... Seu marido não havia ido visita-la em quatro noites, Sabina havia dito que estava indisposta e sabia que ele já descobrira a verdade, que na verdade não queria vê-lo.

Mas por quanto tempo conseguiria mantê-lo longe do seu quarto? Ele estava fazendo de tudo para se reaproximar, mas não se contentaria mais com o pouco. Esperar mais do seu casamento foi um erro que ainda não estava disposta a admitir e seu tolo coração ainda nutria esperanças de ultrapassar a fria armadura de seu marido.

Observou como Joalin voltava saltitante para a mansão enquanto sua mente fervilhava, teria que encontrar um jeito de fazer com que seu frio marido mudasse de ideia, não havia esperado tanto tempo para conhecer um homem ao qual pudesse entregar seu coração para que ele não fizesse caso dele. Mas antes, pretendia ensinar algumas coisinhas ao seu frio conde.

Sabina desceu para o jantar depois de se atrasar mais uma vez, as primeiras vezes foram intencionais, mas hoje foi por mero acaso. Esteve tão envolvida com os problemas da casa que subiu para se trocar mais tarde que o habitual.

Noah como sempre já estava no salão a esperando. As últimas noites estavam sendo um verdadeiro teste de vontades.

Ele por muitas vezes tentava começar uma conversa além dos temas habituais, mas Sabina mantinha-se calada de propósito. Sabia que o seu comportamento estava contrariando a seu marido, mas bem, era isso que ele queria, não?

- Querida. – Ele a saudou enquanto se aproximava da enorme cadeira e a ajudava a se sentar.

- Boa noite. – Sabina o saudou fria.

Os criados começaram a servi-los e assim que  concluíram suas tarefas se retiraram deixando os dois a sós.

- Amanhã irei ao povoado. Gostaria de me acompanhar? – Sabina levantou a vista da refeição a sua frente diante do inesperado convite do seu marido.

O observou por um momento buscando algum traço de emoção no conhecido rosto. Censurou a si mesma pela alegria que cresceu dentro de si diante dessa proposta. Claramente seu marido estava querendo erguer a bandeira branca. Mas isso não era suficiente, Sabina já havia decido que queria mais.

- Estarei ocupada. – Falou desviando a vista e voltando a atenção ao prato.

O silencio durou por longos momentos antes de ele voltar a falar.

- Todo o dia? – Ele quis saber.

- Todo o dia. – Completou ainda sem olhá-lo nos olhos.

Sabina sabia que estava arriscando muito, mas não deixaria que seu frio marido a dobrasse a suas vontades.

O jantar continuou silencioso, e depois de despedir-se se retirou aos seus aposentos.

APAIXONADA POR UM CONDE - urridalgo versionOnde histórias criam vida. Descubra agora