_ Levanta a cabeça, Elle! - Nanda ordenou e um pequeno sorriso surgiu em seus lábios ao me ver obedecendo - Perfeito!
Eu estava com uma horrível dor no pescoço e pés. O peso dos livros em cima da minha cabeça não tornava a tarde tão divertida como Nanda disse. Peter rindo também não.
_ Eu fazia isso quando era criança. Era legal, era, de fato, divertido! O que aconteceu? - bufei rolando os olhos, logo sendo repreendida por Nanda. Parece que princesas não bufam, nem rolam os olhos.
_ Porque quando você era criança, tudo não passava de uma brincadeira de contos de fadas. Mas agora você está começando a sentir o peso da responsabilidade de ter um reino inteiro para governar. - Peter respondeu - Presta atenção! Os livros vão cair, pateta!
Dito e feito. Os livros deslizaram de minha cabeça em direção ao solo. Olhei irritada para o Boca Grande e peguei um livro para jogar nele.
_ É melhor calar a boca antes que eu arranque sua cabeça! - inquiri nervosa. Peter se levantou da cadeira rindo e caminhou e minha direção com pose intimidadora, porém permaneci com minha postura inatingível.
_ Se me prender, ninguém te protegerá. - ele ficou na minha frente e seus dedos colocaram uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, depois deslizaram até minha bochecha e a acariciou - Você quer alguém pra te proteger, certo Elle?
_Você é um babaca! - o empurrei pra longe e seu toque quente se afastou. Ele riu, sabendo que tinha mexido comigo.
Quando saímos da estufa hoje de manhã, eu e Peter voltamos para nossa brincadeira de cão e gato. O que foi frustrante, já que gostei de conhecer aquele lado de Peter. O lado que ele trancou novamente em um baú de sete trancas.
_ Obrigada, Peter. Boa atuação! - Nanda festejou. Olhei para Peter, que piscou cúmplice para mim. Não acredito que isso era encenado! - Agora, me diga onde você errou.
_ Eu me descontrolei. O chamei de babaca... Aliás, foi bem merecido!
_ Mesmo assim, Elle. Você conhecerá vários Lordes ridículos, mas não poderá chamá-los de babacas! - Nanda repreendeu. Ela pegou os livros do chão e me entregou - Você ainda tem que melhorar sua postura...
E blá, blá, blá.
Encarei a porta da mansão. Meu coração nunca bateu tão rápido em toda minha vida. Peter me encarava. Nanda me encarava. Os dois desejando que eu voltasse atrás nas minhas escolhas. Como se eu não soubesse que quando eu entrasse por aquela porta, algo pior que pratos sujos me esperava.
Não fuja da luta, princesa.
Pus a mão na maçaneta e, com um suspiro pesado, abri. Catrina estava sentada em sua poltrona, com um copo de uísque na mão e uma feição de psicopata. Nada fora do comum...
_ Olha quem apareceu. - disse encarando o líquido alaranjado dentro do copo - A Vadia Kartiney. Era isso que falavam pelas costas de sua mãe "pura e bondosa". - ela fez aspas com o dedo, rindo em seguida. - Tal mãe, tal filha! - do nada seu rosto se transfigurou em uma expressão raivosa. Me abaixei quando o copo voou em minha direção e quebrou com o impacto da parede.
_ Catrina! - gritei surpresa.
_ Me diz, Elle. - ela se levantou da poltrona e começou a vir em minha direção - Como você seduziu o Kyle? Por quê?
_ Do que está falando? - questionei confusa.
_ Essa sua carinha de menina inocente não me engana. Você não é burra, só se faz de uma! - gritou.
_ Catrina, o Kyle quase me estuprou! - revelei, esperando que ela parasse a loucura.
_ Ele me contou a história inteira Elle. - disse, seus dedos apertaram minha bochecha e ela me encarou com nojo - Você o seduziu, mas o seu namoradinho não gostou, então ele quebrou a porta do meu quarto e ainda por cima quase matou o homem que amo! Você é baixa, Elleanor!
Ela segurou meu pulso e começou a me arrastar pelo corredor. Estávamos indo para a dispensa.
_ O que você vai fazer Catrina? - perguntei. Minha voz estava tão trêmula quanto minhas pernas. Ela entrou no quarto apertado e ligou a luz, que piscava, deixando tudo mais assustador. Catrina andou até a pequena portinhola escondida debaixo do tapete empoeirado e a abriu, revelando o breu.
Minha mente foi tomada por lembranças. Eu via a pequena Elle com seus recentes 12 anos, ainda superando o fato de ser órfã. Ela estava parada em frente de uma Catrina furiosa. "Não foi eu que quebrei, não foi eu!", a pequena gritava. Mas Catrina parecia não ouvir, ela estava surda e cega com o fato de ter perdido um vaso tão valioso, que na verdade, suas filhas derrubaram enquanto brincavam. Catrina mandou a pequena loira descer as escadas daquele lugar escuro e desconhecido e então o único feixe de luz sumiu. E a criança de apenas doze anos ficou presa, sem água ou comida durante dois dias. Depois daquele dia, toda a culpa caía sobre mim e tudo voltava a se repetir.
_ Antes de entrar, tire a roupa. - disse. A olhei espantada. - O que foi? Acho que você não sentiu vergonha em tirar a roupa pro Kyle... Por quê está sentindo agora?
Meus olhos se encheram de lágrimas. Catrina estava vencendo. De novo! Como alguém fraca como eu vai governar um reino? Eu não consigo nem me livrar de Catrina. Retirei o vestido que estava usando e Catrina o arrancou de minha mão, em seguida me lançou dentro daquele buraco. Minhas costas bateram com força no chão e algo pontudo rasgou a lateral da minha barriga, me fazendo gritar. Senti o líquido quente descendo sob minha pele e, embora não conseguisse enxergar nada, eu sabia que era sangue. Gritei por Catrina, mas o que recebi em troca foi o barulho da tranca. Tudo ficou silencioso. O cheiro de mofo entrava pelo meu nariz, meus dedos encostavam no chão de terra e meus sentidos estavam aguçados. Respirei fundo e comecei a pensar em coisas boas, seguindo a dica que Nanda me deu para que eu não saísse congelando toda a Califórnia. Todos os meus pensamentos foram voltados para as coisas que ainda eram normais na minha vida, mas quando percebi... Tudo o que vinha em minha mente eram incríveis olhos verdes e um sorriso encantador. Mas tudo bem, porque pensar em Peter estava me mantendo sã.
Elle pensando em Peter? Talvez ela não esteja tão sã quando pensa, né?
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O Coração Gelado de Cinderela
FantasyFinais felizes e contos de fadas nunca combinaram muito com Elle. Muito pelo contrário, sua vida parece ter sido estrita pelos próprios irmãos Grimm. Elle tem apenas um objetivo na vida: entrar em Yale e recomeçar a vida, deixando a madrasta malvad...