Virei o rosto pro lado e joguei fora toda o resquício da barrinha de cereal no meu estômago. Toda o meu corpo foi tomado por um súbito mal estar. Peter estava agachado próximo de Nanda, vendo o ferimento na cabeça. Ele não parecia estar muito incomodado pelos corpos estraçalhados a pouco mais de um metro dele.
_ Vamos ter que carregá-la. - anunciou colocando os braços por debaixo do corpo dela e a erguendo do chão.
_ Por favor, só vamos embora daqui. - implorei. Peter anuiu, indicando com um aceno para eu pegar a bolsa de Nanda jogada no chão.
Continuamos nossa caminhada no mesmo silêncio de antes. A cada mínimo barulho que eu escutava, pulava de susto. "Provavelmente é apenas um rato", Peter ficava repetindo e eu realmente queria acreditar nele. Andamos pelo o que pareceu ser uns 4km, o ar ficava cada vez mais frio e difícil de respirar. No início, tínhamos que parar de uma em uma hora para Peter poder descansar os braços, mas suas forças já estavam se esgotando e o tempo de descanso foi aumentando cada vez mais. Remexi na minha bolsa e tirei dela o terno que era de Peter, em seguida, cobri Nanda com ele.
_ Desculpa, era o único casaco que tínhamos. - murmurei pra Peter.
_ Não tem problema - disse ajeitando Nanda em seus braços pela milésima vez - Eu meio que sou imune ao frio, como você. Aliás... - Peter indicou com a cabeça algo mais pra frente. Estreitei os olhos e corri na direção do pequeno foco de luz que vinha de cima. Uma saída! Assim como na casa de Glime, a escada estava colada na parede e em cima a luz preenchia as brechas de uma portilhola.
_ Finalmente! - arquejei com uma gargalhada.
_ Certo, - Peter disse se aproximando - Não sabemos onde isso dá, então eu vou subir e checar o perímetro, enquanto isso você espera com Nanda aqui. Não saia sem que eu te dê um sinal, ouviu? - Peter arqueou as sobrancelhas do seu jeito irritante, agindo como se fosse um adulto dando ordens para uma criança teimosa. Não que fosse muito diferente, eu reconheço.
Ele colocou Nanda apoiada na parede e começou a subir as escadas, alcançando a portilhola e a empurrando para cima. A luz forte queimou meus olhos como se estivessem pegando fogo, e provavelmente Peter sentiu o mesmo, pois fechou tão rápido quanto abriu. Ele empurrou novamente, dessa vez deixando apenas uma brecha maior para que pudesse se acostumar com a luminosidade, então a abriu por completo e desapareceu no meio do clarão. Fui mergulhada na semi-escuridão de novo, sendo iluminada apenas pela luz ainda mais fraca do Nukuri. Eu sentia pena dele.
Enquanto Peter não voltava, eu fiquei sentada ao lado de Nanda, devorando o resto da barrinha que eu havia guardado antes do ataque do Ogro. Nanda respirava pesado e seu rosto estava ainda mais pálido, com os lábios roxos e rachados. Eu não entendia muito bem do assunto, mas sabia que seu corpo não duraria muito tempo naquele frio. Tínhamos que encontrar uma fonte de calor urgente. O sangue que desceu do seu ferimento, já havia secado e começava a cristalizar.
_ Aguenta mais um pouco, irmã. - implorei em seus ouvidos. Então a portilhola abriu novamente e o rosto de Peter surgiu de cabeça pra baixo. Ele carregava um sorriso bonito e bem humorado.
_ Vem Princesa, tem alguém que quer te conhecer!
Henriksen Drake. Henri, pros mais próximos. Irmão, para Peter.
Peter nunca falou muito sobre a família, mas nunca cheguei a pensar que ele tinha um irmão. No entanto, ali estava ele, parado na minha frente sendo a cópia perfeita e mais velha de Peter. Henriksen é alguns centímetros mais alto que o irmão e o cabelo igualmente loiro está mais curto, como um corte militar. Fora isso, possuem o mesmo tom de verde nos olhos, os mesmo traços faciais e a mesma mania de brincar com as sobrancelhas.
_UAU! - foi a primeira coisa que disse quando me viu. Peter estava logo na entrada da escotilha, onde havia deitado Nanda - Se soubesse que a Princesa Gelada fosse tão linda, eu nunca teria me metido naquela briga! - indagou para ele mesmo. Ou Peter. Meu cérebro estava ligeiramente confuso e minhas bochechas pegavam fogo.
Ao nosso redor, havia nada mais do que árvores magricelas e neve que cobria metade da nossa canela. O sol parecia querer se pôr, pois o céu ganhara tons alaranjados e as três luas surgiram apagadas em um canto, parecendo anéis presos uns aos outros.
_ É muita ousadia falar com a sua Princesa dessa forma, não acha? - apesar do constrangimento e pelo frio na barriga, consegui proferir as palavras com eloquência, escondendo o tom brincalhão que fazia minha língua coçar. No entanto, talvez eu não tivesse sido convincente o suficiente, pois para minha surpresa, ele gargalhou alto.
_ Você não é "minha Princesa" - ele fez aspas com os dedos e enfatizou as palavras - O sistema é um lixo. Mas gostei de você, Lor Anihí.
_ É Elle. - o corrigi.
_ Melhor ainda. - ele deu uma piscadinha e novamente minhas bochechas queimaram. Apesar disso, me sentia mais humorada.
_ Chega de paquera. - Peter avisou, sua voz ecoando pelas árvores nuas. Então se virou pra Nanda com carinho e sem desviar os olhos dela disse:- Henri, preciso que a carregue, meus braços parecem que vão desmanchar. Precisamos chegar em casa rápido, ou ela vai morrer de hipotermia.
Me aproximei deles ao lado de Henriksen e me agachei para pegar o Nukuri que repousava em cima da barriga de Nanda. O guardei na bolsa e aguardei os irmãos se ajeitarem para voltarmos a andar. Todas as partes do meu corpo doíam e gritavam S.O.S, mas a esperança de que estávamos perto me fez continuar. Peter se pôs ao meu lado e pelo canto do olho eu percebi que me encarava toda hora.
_ O que foi? - murmurei, cansada demais para sequer virar a cabeça em sua direção. Ele pigarreou e deu de ombros.
_ Nada. - deu de ombros novamente. Franzi o cenho, mas preferi ignorar. Um silêncio constrangedor reinou entre nós, ainda mais porque ele continuava a me encarar e isso começou a me irritar.
_ Desembucha, Peter.
Por um momento eu pensei que me ignoraria, mas por fim revelou:
_ Não gostei de como você e meu irmão estavam conversando, foi estranho. Não chegaram a completar dez segundos de conversa e já começaram a flertar.
Abri minha boca para me defender, mas não tinha certeza se eu estava certa, então voltei a fechá-la. Eu não conseguia decifrar se a fala de Peter era ruim ou não. Podia significar algo, mas também podia significar bolhufas nenhuma. Observei Henriksen mais à frente, ele mancava e eu não sabia dizer se era pelo peso do corpo de Nanda ou se estava machucado. O silêncio voltou a reinar entre mim e Peter, até eu dizer:
_ Tudo bem.
São 03h36min da matina e eu escrevendo. A prova que amo muito vocês, pois estou caindo de sono aqui. Enfim, tenham uma boa semana e não se esqueçam de ficar em casa lendo muitos livros e ajudando no combate ao Corona Vírus!Também não se esqueçam de votar e comentar, pois amo me relacionar com vocês.
Você é INCRÍVEL!
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O Coração Gelado de Cinderela
FantasíaFinais felizes e contos de fadas nunca combinaram muito com Elle. Muito pelo contrário, sua vida parece ter sido estrita pelos próprios irmãos Grimm. Elle tem apenas um objetivo na vida: entrar em Yale e recomeçar a vida, deixando a madrasta malvad...