Estava tudo quieto. A escuridão ainda me rondava, então não arrisquei andar. De repente comecei a escutar ruídos, e então o som de um bip repetitivo, enlouquecedor e familiar. O cômodo foi ficando cada vez mais claro e as sombras começaram a ganhar forma e cor, logo reconheci o quarto do hospital. E a mulher deitada na maca.
_ Elleanor, minha pequena! - ela me olhou com seus olhos castanhos, analisando cada traço do meu rosto. Ela estava igual da última vez, com a pele acinzentada, os olhos fundos quase perdendo a vida e a voz rouca e fraca.
_ Você mentiu para mim, mamãe! - foi o que consegui dizer. A indignação impregnada na minha voz.
_ Eu sei, pequena. Eu sei! - disse melancólica - Eu não podia te contar. Não até você ter seus dezoito anos.
_ Vocês me deixaram! - meus olhos se encheram de lágrimas. Me aproximei da maca e segurei em suas mãos. Sentia o seu toque, como se ela fosse real.
_ Não foi escolha nossa, pequena Lor Anihí. - uma enxurrada de lembranças invadiram minha mente ao escutar aquele nome. Lor Anihí. - Não se esqueça de ser corajosa, Elle. Corajosa e gentil, para ser recompensada.
_ Não se ganha recompensa quem está morta! - um frio subiu pela minha espinha ao escutar o som daquela voz. Me virei para trás, o medo consumindo meu coração. Quando me virei por completo, me deparei com olhos vermelhos, como o sangue que escorria de sua boca. Alguém começa a gritar e eu olhei pros lados alarmada, procurando pela pessoa responsável por gritos tão apavorantes. Até perceber que quem estava gritando... Era eu.
Abri os olhos, sentindo braços me agarrando enquanto eu ainda gritava. Escutei a voz de Peter no meu ouvido, quase inaudível, tentando me acalmar. Mas eu estava apavorada demais para conseguir parar de gritar, era incontrolável. Minutos foram se passando e os gritos foram ficando baixos, até se tornarem sussurros: seja corajosa.
_ Isso Elle, seja corajosa. - diz Peter. Virei minha cabeça para o lado, podendo ver o brilho lilás deixando seus olhos e finalmente me dando conta do estado em que estávamos. Ele desafroxou seus braços e me virou pra ele. Seu polegar foi até minha bochecha e limpou uma das muitas lágrimas que estavam descendo sem parar. - Você está bem?
_ Eu... Eu... - respirei fundo, querendo retomar o controle das minhas ações. Mas estava quase impossível.
_ Vem cá, Ma Belle. - ele voltou a me envolver em seus braços. Embora toda a raiva que ainda sentia dele, me permiti apoiar a cabeça em seu peitoral e escutar as batidas do seu coração. Elas estavam enlouquecidas. - Foi só um pesadelo.
_ Parecia tão real, Peter! - murmurei. Ainda podia sentir o toque de mamãe em minha mão.
_ Não se deixe levar, Elle. - ele pega minha mão que estava encostada em seu braço e a segura com força, fazendo uma careta de dor. Olho para o local onde minha mão repousava e encontro uma fina camada de gelo. Me alarmei e abri minha boca para implorar perdão, mas Peter maneou a cabeça e sorriu, me fazendo perceber que a geada estava derretendo. - Eu meio que sou imune à você. - explicou. Eu não sabia se ficava triste ou feliz.
_ Achei que eu precisaria completar dezoito anos para "liberar meus poderes"! - comentei voltando a me deitar no peitoral de Peter, com medo do que eu poderia fazer se saísse da segurança que ele estava me proporcionando. Era como se ele fosse uma espécie trava de segurança. A minha trava de segurança, que me impedia de fazer algo que antes eu julgava impossível.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Coração Gelado de Cinderela
FantasyFinais felizes e contos de fadas nunca combinaram muito com Elle. Muito pelo contrário, sua vida parece ter sido estrita pelos próprios irmãos Grimm. Elle tem apenas um objetivo na vida: entrar em Yale e recomeçar a vida, deixando a madrasta malvad...