_ Você sobrevive à isso, Elle. - eu repetia para mim mesma enquanto encarava meu reflexo no espelho. Minhas mãos faziam um movimento repetitivo sob meu cabelo, enquanto meus dedos agarrava o pente com tanta força que meus dedos estavam ficando tão brancos quanto meus cabelos. - É apenas uma noite... E a última! Ai. Meu. Deus! É sua última noite de "vida normal"... - parei de falar ao perceber que eu não estava me ajudando. Dei um pequeno pulo assustado quando ouvi batidas vindas da janela. No canto do espelho eu pude ver a silhueta de Peter. Corri até a porta do meu quarto e verifiquei se a mesma se encontrava trancada antes de abrir a janela para Peter poder entrar.
_ Oi. - ele me cumprimentou. Senti meu coração aquecer com o sorriso travesso que ele tinha nos lábios, mas logo fiz questão de jogar esse sentimento para o lugar mais frio e congelado da minha alma. Ele tirou a mochila de suas costas e começou a andar pelo quarto, olhando cada foto, mobília, detalhe.
_ Onde está Nanda? - perguntei me sentando na cama - Pensei que viriam juntos.
_ A mãe dela a barrou - ele respondeu enquanto pegava um dos meus porta retratos. Ele riu enquanto analisava o meu rosto gordo e rosado de bebê que estava coberto de comida. - Talvez ela nem venha... Você era um bebê muito gordo!
_ Peter, larga isso! - pedi sentindo as bochechas quentes de vergonha, mas ele continuou rindo. Me levantei da cama e estiquei a mão para pegar o porta retrato, porém ele ergueu o braço e resolveu brincar de gato e rato comigo. Pulei e tentei agarrar, mas Peter se moveu para trás de mim. - Larga de ser ridículo! Você vai estragar! - gritei. Ele colocou a mão livre na minha boca.
_ Não grita. - sussurrou. Pulei novamente, sentindo a irritação subindo pelas minhas entranhas, mas meu peso foi para cima dele e ambos caímos na cama. Encarei o rosto assustado de Peter e não pude conter minha risada. Segundos depois, éramos duas crianças rindo das próprias gargalhadas.
_ Você é caótica, Kartiney. - ele disse, seu hálito de menta me fez notar que estávamos perto demais. E me fez perceber que eu queria muito beijá-lo e mergulhar nas suas íris esverdeadas que tinha um belo brilho lilás. Verde e lindamente lilás. E pareciam me devorar como ondas de um mar revolto e turbulento. Suspirei pesadamente e me joguei para o lado, saindo de cima dele e me deitando na cama.
_ Você é o meu efeito borboleta. - eu retruquei - Você é a minha própria borboleta.
_ Do que você está falando? - Peter tinha um tom de gozação na voz. Ele não estava entendendo nada.
_ Um simples acontecimento no início de um evento, pode causar o caos. Algo simples, como o bater da asa de uma borboleta. E o meu caos aconteceu naquele dia, quando nós nos esbarramos no corredor. - virei-me de lado e encarei seu rosto de perfil. Peter estava sério e encarava o teto com a expressão neutra. E é em momentos assim que eu desejo trocar tudo o que tenho apenas por um simples pensamento. O que se passa em sua cabeça, Peter?
_ Eu nunca quis te ferir, Elle. - Peter se virou pra mim. Eu senti minha garganta fechar e meus olhos começaram a arder. Embora suas palavras fossem verdadeiras, suas atitudes não eram. Porque ele me machucava mais do que tudo. Mais do que o fato de Nanda guardar segredos. Mais do que o fato de eu ter que abandonar as minhas conquistas. Mais do que o fato de que meus pais não são meus pais... E eu não entendo como alguém como ele pôde fazer tanto estrago em mim, sem ter feito nada além do que me proteger.
Os braços de Peter me rodearam e só então eu percebi que eu estava chorando compulsivamente. Rodeei meus braços ao redor dele e afundei meu rosto na curva do seu pescoço, me permitindo sentir o cheiro de seu perfume. Seus dedos afagavam meus cabelos e aos poucos eu comecei a sentir sonolência. Fechei meus olhos e minhas lágrimas e soluços começaram a cessar, até eu ficar imóvel, apenas sentindo o tecido do suéter de Peter e ouvindo nossas respirações entrando sintonia, como nossos corações. Eu estava em uma espécie de transição entre o acordado e o dormindo quando Peter me pegou no colo e me posicionou do jeito certo na cama. Ele se sentou ao meu lado durante tanto tempo que cheguei a duvidar se ele ainda estava ali, mas não abri os olhos para me certificar.
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O Coração Gelado de Cinderela
FantasyFinais felizes e contos de fadas nunca combinaram muito com Elle. Muito pelo contrário, sua vida parece ter sido estrita pelos próprios irmãos Grimm. Elle tem apenas um objetivo na vida: entrar em Yale e recomeçar a vida, deixando a madrasta malvad...