_ O que vai acontecer no meu aniversário? - perguntei para Nanda, que bebericou seu coquetel. Olhei o sol quente pairando sobre nós, eu estava me sentindo mais cansada que o normal.
_ Não sabemos. - respondeu simplesmente. Olhei-a estranho.
_ Como assim?
_ Só sabemos que seus poderes vão ser liberados, mas não sabemos os danos que isso causará quando acontecer... Mas vai ser perigoso pras pessoas que estiverem perto! - explicou. Assenti sentindo um leve desconforto. O sol estava muito quente.
_ Vou entrar na água. - anunciei antes de me lançar na piscina. Senti a água fria me abraçando e o desconforto já não era tão forte. Ergui a cabeça para tomar fôlego e minha visão alcançou Peter vindo em nossa direção. Sem camisa. Agora o calor realmente ficou insuportável!
_ Está muito quente... - chegou comentando. Me engasguei com minha própria saliva. Você é ridícula, Elle.
_ Por quê demorou tanto? - Nanda perguntou enquanto via sua bebida sendo tirada de sua mão e indo até os lábios de Peter.
_ Estava treinando. Acabei perdendo a hora. - respondeu. Seus olhos finalmente pousaram em mim, mas ele me ignorou e voltou seu olhar para Nanda. Pro decote do biquíni, especificamente.
_ Quando vamos ter aulas de novo? - questionei para ele - Já se passaram três dias.
_ Hoje à noite. - respondeu simples e voltou a atenção para Nanda. De novo.
Saí da piscina alegando que ia pegar alguma coisa para comer. Andei até a cozinha, me encontrando com a "mãe" de Nanda, que assim como eu não sabia de nada.
_ Elle, querida! - saudou-me com um sorriso amigável. Ela estava cortando cenouras, provavelmente pro almoço. - Se cansou da piscina? Ou não quis ficar de sobra?
_ De sobra? - perguntei confusa. Ela arregalou os olhos e fechou a boca, como se tivesse dito algo que não era pra ser revelado.
_ Pensei que Nanda tivesse te contado... - murmurou baixo para si, mas eu escutei.
_ É claro que ela contou! - menti descaradamente.
_ Ah, que bom! - festejou, me fazendo gravar uma nota mental de nunca lhe contar um segredo. - O nome dele é Peter, né?
_ Sim, sim. É Peterson, na verdade, mas ele prefere Peter. - respondi sentindo algo estranho na boca do estômago. Uma sensação ruim do que eu poderia descobrir tendo essa conversa
_ Ele é muito bonito! - exclamou e eu concordei, sorrindo feito boba. Me repreendi e mordi o lábio, tentando disfarçar. - E muito educado, também.
_ Ele já veio aqui?
_ Sim, muitas vezes. Quase todos os dias! - eles estão nessa sua confusão, Elle. Deviam estar decidindo qual bomba irão jogar desta vez. - Principalmente quando não estou em casa...
Não pude ignorar o tom malicioso da sua voz.
_ A Nanda não é mais... - não consegui terminar a frase. A palavra ficou presa na minha garganta quando minha mente projetou a imagem dos dois em cima da cama. Porém a Sra. Vorkowish fez questão em terminar por mim.
_ Virgem? - assenti receosa. Sentindo um leve pesar no peito. - Não, definitivamente não.
Sorri amarelo e peguei um pacote de biscoito no armário. Tentando me convencer de que tudo era apenas uma má interpretação das coisas. Comecei a caminhar pro lugar de onde eu vim. Eu estava me sentindo estranha, meio anestesiada.
_ Eu acabei de ter uma conversa muito esquisita com... - fiquei muda. Completamente sem saber o que fazer. A cena me enjoou, me causou raiva e a sensação de ter sido apunhalada pelas costas. Embora uma pequena parte de mim insistisse na teoria de má interpretação das coisas. Mas para mim, estava muito claro. Talvez até demais, já que consiguia ver a língua de Nanda enfiada na boca de Peter, enquanto as mãos dele passeavam pelo seu corpo que estava encaixado em sua cintura. Os dois estavam sentados na espreguiçadeira, prestes a brincarem de papai e mamãe em plena luz do dia, com a Sra. Vorkowish à poucos metros dali e com eu na casa. Eles me davam repulsa. Peter inesperadamente interrompeu o beijo, seu rosto assumiu uma forma confusa e então ele olha para trás e seus olhos liláses me encararam. Larguei o pacote de biscoito no chão e corri. Envergonhada, frustrada e totalmente tonta com esse calor de 30°. Meus pés não foram muito longe e eu caí, deslizando por cima do piso areiado.
_ Elle! - ouvi ele gritar e em poucos segundo sua sombra cobriu meu corpo. Eu me sentei, sentindo o mundo girar e uma ardência na perna, algo escorria nela. Algo quente com cheiro metálico. Abri meus olhos e encarei o machucado, não parecia muito feio. - Me deixa ver isso. - Peter pediu encostando seus dedos perto do machucado para analisar, mas retirei suas mãos abruptamente.
_ Eu estou bem. - respondi com a voz levemente alterada. Tentei me levantar, mas a tontura me forçou a sentar de novo.
_ O calor está deixando ela fraca. - Nanda comentou se aproximando. Ela se agachou ao lado de Peter e ia fazer o mesmo que ele, mas também a impedi.
_ Eu já disse que estou bem! - gritei. Levantei, tentando ignorar a tontura. De início cambaleei um pouco, mas consegui chegar até a casa. Eu só precisava chegar até o quarto de Nanda e pegar minha bolsa para ir embora.
_ Elle, precisamos conversar. - a voz de Nanda soou atrás de mim, mas eu ignorei. - Por quê está assim? Fiz alguma coisa errada?
_ É Nanda, você fez. - respondi, chegando até a escada em aspiral. Respirei fundo, repensando na minha resposta. - Na verdade, eu não sei. Só me deixa sozinha!
_ Mas Elle... - tentou refutar, mas comecei subir as escadas, deixando claro que eu precisava ficar sozinha.
Entrei no quarto de Nanda parecendo um furacão. Eu estava com raiva, mas não sabia exatamente porque aquilo mexeu tanto comigo. Peguei minhas roupas em cima da cama e as joguei dentro da mochila. Percebi um movimento ao lado da porta e o cheiro de inverno me invadiu.
_ Não vamos treinar hoje. - disse sem olhar para ele - Lembrei que tenho uma coisa pra fazer! - inventei colocando a mochila no ombro. Abaixei a cabeça e tentei passar pela porta, mas Peter colocou o braço na frente, me impedindo.
_ Olha o que aconteceu lá em baixo...
_ Eu não quero saber o que aconteceu! - gritei.
_ Por quê você está tão nervosa? - gritou de volta. Confuso.
_ Eu tenho que ir. - disse e tentei passar pela porta de novo, mas ele ficou na frente.
_ Elle...
_ Eu não consigo parar de pensar em você! - revelei. Coloquei a mão na boca, percebendo a bobagem que falei. Peter estava com uma expressão indecifrável no rosto. - Esquece o que eu te disse.
_ Desde quando? - perguntou.
_ Eu não sei. Já tem um tempo. - murmurei baixo. Ele passou a mão no rosto, realmente confuso e talvez até irritado.
_ Elle, eu acho que você entendeu tudo errado...
_ Eu percebi, Peter! Eu percebi! - dizendo isso eu o empurrei para o lado e corri escada abaixo, ignorando a dor na perna. Meus olhos encararam Nanda conversando com a mãe, ela parecia preocupada e gesticulava nervosa. Corri para fora antes que ela me visse.
Voltei para casa a pé. Eu precisava pensar. Precisava que toda essa raiva fosse embora. Talvez não só pela cena que vi, mas pela minha vida ter virado de cabeça pra baixo. Esse era um dia para que eu esquecesse um pouco do rumo maluco que minha vida tomou, mas parece que fui fadada ao sofrimento. A cada minuto que se passava debaixo do sol, mais eu sentia que minhas forças estavam sumindo. Minha visão ficou turva e o mundo começou a girar novamente. Comecei a cabalear e a tropeçar nos meus próprios pés, até que tudo escureceu.
Eita, Peter e Nanda?
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O Coração Gelado de Cinderela
FantasíaFinais felizes e contos de fadas nunca combinaram muito com Elle. Muito pelo contrário, sua vida parece ter sido estrita pelos próprios irmãos Grimm. Elle tem apenas um objetivo na vida: entrar em Yale e recomeçar a vida, deixando a madrasta malvad...