29°|Eu nunca te deixarei

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   Depois da primeira mordida, não consegui me conter. Era apenas uma
torta de morango, mas nunca havia experimentado nada parecido. O doce chegava a derreter dentro da boca. Eu não conseguia evitar de suspirar a cada mordida. Do outro lado da mesa, Diana riu.

   _ Melhor que a comida de Catrina, certo? - zombou. Larguei o garfo, causando um tintilar agudo quando ele bateu na porcelana.

   _ O que você faz aqui, Diana? - me inclinei pra trás, cruzando os braços - É uma seguidora desgraçada de Brand, como Kyle? Vai se transformar em monstro e me atacar também?

   _ Não, infelizmente, nada de superpoderes - deu de ombros - Você que nos trouxe aqui, então me responda você.

   _ "Nos" trouxe aqui? - repeti confusa - Do que está falando?

   Brand limpou a garganta e mandou um olhar severo pra Diana, que se encolheu. Brand virou-se para mim.

   _ Tudo tem seu tempo, criança - disse calmamente.

   _ Pode se impressionar com a criança aqui, Brand - fiquei surpresa comigo mesma ao ver quão ameaçadora minha voz saiu - Não me teste!

   _ Ah, sei mais do seu potencial do que você, acredite. - comentou ávida - Mas não garanto que não será testada. Na verdade, seu treinamento começa amanhã cedo.

   Minha cabeça começou a girar. Eu ficava cada vez mais confusa. Entender as intenções por trás de Brand era a mesma coisa que estar em um labirinto obscuro e perigoso. Segredos e mais segredos que me envolviam. Mas, de certa forma, estava começando a me acostumar em nunca saber nada e talvez fosse isso o que me tornava um peão perfeito nesse jogo doentio de poder.

   _ Do que está falando? - perguntei despretensiosa, pegando a taça com água e bebericando.

   _ Ainda não posso te contar tudo, é claro, mas posso te esclarecer algumas coisas.

   Pisquei aturdida.

   _ E por que exatamente faria isso?

   _ Porque merece saber a verdade, não acha? - os olhos vermelhos ficaram mais intensos, mas diferente das outras vezes, o brilho não era de ganância, mas também não sabia dizer do que se tratava. De qualquer forma, continuavam assustadores - Sabe Elle, fizeram um ótimo trabalho com sua mente. Mas, não sou esse monstro que eles pintaram pra você. Embora eu tenha os meus defeitos. E o maior deles é a ânsia para realizar minha vingança.

   _ Não é um monstro? - repeti incrédula - Não foram eles que me perseguiram e aterrorizaram, foi você. Eu era a porcaria de um feto! Você me tirou dos braços da minha mãe e me fez passar a minha vida inteira na miséria, sendo maltratada, humilhada e tudo por causa da sua estúpida vingança! - me levantei da cadeira e a mesma caiu pra trás, emitindo um estrondo alto. Brand apertou os dedos ao redor do garfo que segurava. Pelo sorriso vultuoso em seus lábios, me perguntei se ela estava se imaginando o enfiando em meu pescoço. Mas não deixei me abalar, aquilo serviu de combustível para a energia que crescia dentro de mim - Eu passei minha vida inteira procurando alguém pra chamar de lar e você me negou isso. Me jogou aos cães e transformou meus sonhos em pesadelos. Então não ouse falar que você não é um monstro, porque você é a pior e mais cruel criatura que eu já vi e deveria morrer por isso!

   Com um grito furioso, todo o salão explodiu em branco. Neve se acumulou no chão rápida como um piscar de olhos, as paredes congelaram e estalactites se formavam no teto, bem acima de onde uma nuvem tempestuosa começava a se formar. O rosto de Brand se fechou em uma expressão severa e calculista enquanto nossos olhos travavam uma batalha intensa e silenciosa. Pela visão periférica, vi Diana nos encarar assustada. Chamas vermelhas começaram a dançar em cima do gelo, lutando contra o frio e a superfície áspera. Eu podia sentir o calor dentro de mim, como se minhas entranhas queimassem, mas mantive o poder. Gelo reinou sobre o fogo.

O Coração Gelado de CinderelaOnde histórias criam vida. Descubra agora