24°

26 7 21
                                    

Pequeno girassol



Acordei, sentindo o frio me rondar, só assim percebi estar deitada de bruços, no que parecia ser o chão, tentei me levantar logo recebendo uma pressão muito forte na nuca, me fazendo recuar, e outra vez sentindo meus pulsos arranharem nas algemas, após alguns minutos de esforço consegui me levantar, minha visão ainda se encontrava turva, o que me deixou em alerta, por não conseguir reconhecer o ambiente ao meu redor, tentei respirar fundo, abri e fechei os mesmo, assim me acostumando com sucesso, olhei em volta, me deparando com um quarto de madeira, pequeno e vazio, única coisa que me fazia sentir uma pequena pontada de segurança, era saber que não estava enterrada, pois, o cômodo havia uma porta e uma forte corrente de ar, circulava no local.

- T-em alg-uém me ouv-indo? - Tentei usar o comunicador em minha orelha, mesmo com um pouco de dificuldade em falar, porém não havia tido sucesso.

Eu poderia estar muito distante ou eles tivessem o retirado de mim, ou simplesmente caiu, a questão era, que não conseguia verificar se ainda estava com ele, meus braços doíam de ficar para trás o tempo todo, tentei pensar se havia posto um grampo em qualquer outro lugar que não fosse no cabelo, mas infelizmente esse erro eu cometi, não conseguia alcançar minha nuca mesmo rolando, no momento crucial como esse, e eu estava despreparada, a única coisa que me restou fazer foi sentar e esperar, encostei na parede e foi isso que fiz, até perder a noção do tempo.

Após longos minutos ou horas comecei a ouvir passos se aproximando, ajeitei minha postura e permaneci de cabeça baixa, não poderia me dar ao luxo de demonstrar arrogância qualquer coisa que eu fizesse poderia resultar em algo pior, respirei fundo, ouvi vozes abafadas e um barulho vindo da maçaneta, fechei os olhos por alguns segundos, tentando conter a ansiedade e a raiva que sentia, e ao mesmo tempo colocar meus pensamentos em ordem. A porta foi destrancada e num ranger foi aberta, com os sapatos ecoando pelo piso de madeira julgando pelo som oco era social, o ambiente foi preenchido por ecos como num filme de terror, estava diante do assassino de meus pais, como eu sabia? Fato, ele usava o mesmo perfume, sentia em nossas conversas na sede, um gourmand, cheiro esse que se remete a um homem ousado e sedutor, porém esse a minha frente apenas refletia o caos e a maldade.

- Finalmente te encontrei, pequeno girassol! - Usou de um dos muitos apelidos que me dera quando mais nova, não o respondi, o nojo em ouvir tal apelido saindo de sua boca, entalou minha garganta.

- Estava com saudades! - O senti se aproximar, e abaixar, não o olhei, me atrevia a não fazer isso, apenas para demonstrar, que não me importava com o mesmo.

- Por que você não fala? Olha pra mim, vou ficar triste assim! - Sua voz manhosa, me causava náuseas, me forçando a olhá-lo o mesmo segurou meu rosto, senti suas mãos imundas em minha pele, ódio me consumiu, meu corpo ferveu, num ato impensado juntei toda saliva que tinha, cuspi em seu rosto.

No reflexo fechou os olhos rapidamente e bufou, com a mão direita livre mexeu em seu bolso, sua tentativa de tranquilidade me irritava, enquanto o mesmo permanecia com sua mão em meu rosto a forçando agora contra a parede, seu olhar agora para mim era de raiva podia senti-lo tentar me furar com o mesmo, se fosse uma tentativa para me intimidar não havia tido êxito, apenas me deixava ainda, mas irritada.

- SEU-U DES-GRAÇA-DO ESP-ERO Q-UE MO-RRAR! - Tomei a iniciativa, era difícil falar com sua mão em meu maxilar, porém me forcei, mesmo que fosse entre dentes e fervendo em ódio.

- Nossa! Esse ódio todo, porquê? Você, ainda é minha pequena! - Debochou.

- S-SONHA SE-U LOU-CO, E-U VO-U TE MAT-AR! - Me descontrolei, comecei a me debater, fazendo o mesmo me soltar, se afastando, mesmo parecendo que se divertia com tal visão.

Levantei num impulso, ele deu um passo para trás, sorriu como se estivesse apreciando uma comédia alucinada, eu não me importava, eu só queria me vingar, precisava, agora estava sozinha, terminaria isso, de uma vez por todas, corri em sua direção, fui com chute lateral, ele desviou, tentei de novo com duas sequências, até o mesmo segurar minha perna, me dar uma rasteira com a outra, cai com tudo no chão batendo minha cabeça no piso de madeira, tudo girou e uma dor aguda me atingiu, as algemas machucaram minhas mãos e as mesmas forçaram minha coluna a deixando dolorida, enquanto aquele desgraçado segurava minha perna, ria como se estivesse alucinado, aproveitando uma cena cômica, e estava, minha desgraça, o divertia.

- Isso foi engraçado! Há! Há! Você sabe mesmo como me divertir! À meu pequeno girassol! Há! Há! Há! - Girando minha perna para a esquerda a imobilizou, me contrai, tentei puxar de volta, mas ele continuava a segura e a girar com se fosse nada, me olhando divertido.

De repente o mesmo parou de sorrir, e isso me deixou tensa, não sei por que, aquilo me assustou, mas do que se ele estivesse me batendo, se aproximou, abaixou, ainda segurava minha perna, meu corpo entrou em total alerta, arrepios percorriam meu corpo, imaginar que algo poderia acontecer, ele não seria capaz, eu não posso aceitar, que me acontecesse tal coisa, o mesmo se aproximava, enquanto minha cabeça doía e eu me debatia tentando me levantar, ajoelhou entre minhas pernas, girei meu corpo em desespero, segurando minha perna com a mão esquerda, foi aproximando a direita lentamente, até o meio da minha barriga, pressionando meu intestino grosso me causando paralisia, falta de ar e dor no lugar, o mesmo soltou minha perna, na segurança de que estava paralisada, e sim sua técnica funcionava, segurou meu pescoço, logo seu aperto se tornou forte, me causando pânico, o senti se aproximar, a falta de ar me deixava desesperada, tentava fazer meu corpo reagir e a me livrar, mas minhas mãos presas dificultava, quando o mesmo se aproximou o máximo que podia, com sua respiração em meu pescoço, seu hálito quente me despertava pavor, ele podia ver e sentir, minha visão estava ficando embaçada, ele sussurrou.

- Você cresceu muito Meli, sabe que deveria ter mas cuidado, como homem eu poderia fazer qualquer coisa agora! - Sua voz baixa e sedutora me deixava enjoada, seu aperto em minha barriga se tornou forte, e o mesmo fazia questão de me olhar sentir dor, sua mão em minha barriga ficou mas frouxa, mas continuava parada acariciando o local, enquanto era sufocada pela falta de ar em meu pescoço o mesmo continuou.

- Seja boazinha, se não vou precisar rever meus planos sobre você! - Nesse momento já estava perdendo os sentidos enquanto meu corpo foi amolecendo, me entregando aquela morte lenta, meu corpo estava indo, escuridão já me consumia, quando pensava estar morrendo, senti seu aperto afrouxar, o ar voltou para meus pulmões, como um tornado furioso, tossindo e arfando, senti Natanael sair de cima de mim.

- Não tente, me irritar pequena, você ainda não viu nada do que sou capaz! - Sua voz era distante, mas ainda consegui ouvir enquanto tentava puxar todo o ar que conseguia, desesperadamente de uma vez só.

- Mas agora! Eu quero saber, onde está o documento? - Voltou a sorrir como se tudo não fizesse parte de um teatro

- Nã-o s-ei! - Sussurrei ainda arfando, eu me arrastei para longe dele.

- A querida Amélia! Sabe sim e você vai me dizer, não pense que sou estupido! - Levantou tomando uma postura mais séria.

- Você sabe que não vou dizer, pra que tentar. - Respondi baixo, após conseguir me levantar, cambaleando e fraca, ouvi suspirar antes de voltar a falar.

- Pelo visto, você não tem amor pela própria vida! - Após essa frase ouvi a porta sendo aberta e passos vindo em nossa direção. Natanael estava em minha frente impossibilitando minha visão.

- Senhor não conseguimos achar o documento. - A voz feminina enjoada me despertou um certo ódio tão mortal, mesmo fraca apertei os punhos tão forte na palma da mão que chegou a doer, se estivesse solta já teria pulado em cima.

Como é possível, estávamos cercados de pessoas falsas e traíras, espiões, ratos em cima de nossas próprias cabeças, pessoas que criam um perfil e age tão dentro de um comportamento falso que as pessoas a sua volta conseguem acreditar. Natanael olhou para mim debochado ajeitando o paletó rente ao seu corpo.

- Acredito que já conheça...









* (conheça) quem? Termina de fala meu fio! Caramba! Quem está escrevendo isso? Sabe terminar a frase não? Aff.

*Não deixem de comentar e votar.


Beijos girassois!

Perdida Na Guerra: Livro 1 - (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora