XXXII - A verdade

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O quarto branco estava silencioso e o cheiro de antisséptico pinicava o nariz de Clarissa, deixando-a incomodada. Acabou que conseguiu sair praticamente ilesa do prédio, apenas com alguns arranhões e hematomas, mais causados pela queda com Jace do que realmente durante a retirada.

No entanto, Magnus ainda não havia acordado... Aparentemente seu namorado havia usado força demais no golpe, então todos acharam melhor que ele recebesse atendimento médico na enfermaria, para terem certeza de que nada mais grave aconteceria.

Sendo assim, a ruiva não havia saído do lado do amigo desde a hora que eles haviam chegado no local. Consequentemente, ainda não tinha contado ao pai a confusão completa que assolava sua mente e com quem andou saindo nos últimos meses.

Estava dizendo a si mesma que não tinha contado ainda porque não havia tido oportunidade, no entanto, sabia bem que, se fosse honesta consigo mesmo, não estava pronta para oficializar aquilo, colocar Jace como seu inimigo declarado, deixa-lo ir. Sabia que o loiro havia machucado seu melhor amigo e que não era boa pessoa, mas mesmo assim não conseguia evitar sentir aquele vazio em seu coração...

Ela estava de coração partido por causa daquilo tudo, por causa do homem que a havia feito sentir tantas coisas e, no final, não era nada verdade.

Os olhos verdes brilharam com algumas lágrimas, mas Clary recusou-se a deixar o sentimento tomar conta de si. Respirou fundo e voltou a encarar Magnus, que ainda não havia esboçado nenhuma reação desde que os médicos disseram que "daqui a pouco ele acordaria".

O amigo possivelmente poderia tentar entender sua dor, já que o namoradinho dele também estava envolvido naquela merda toda. No entanto, não seria a mesma coisa, já que Magnus não havia oficialmente declarado nada para Alec, enquanto que ela havia se entregado de corpo e alma.

Encarou seu celular, olhando para a última foto que Jace havia encaminhado, com um sorriso cansado no carro, logo após de dizer que estava ocupado o dia todo e exausto. Lembrou-se de como ele estava aparentando cansaço no apartamento, dizendo que havia tido uma semana complicada no trabalho... Agora ela sabia o motivo disso: Jordan.

Suspirou novamente, levando seu olhar para a porta. Estava, obviamente, preocupada com Magnus, mas não conseguia deixar de ser egoísta, pois também estava ali enfurnada naquele lugar porque queria ficar sozinha e sabia que todos estavam ocupados demais para vir até o local naquele momento.

A situação havia, novamente, saído do controle, porque Jordan tinha colocado, no mesmo lugar, duas famílias que se odiavam e realmente poderiam se destruir, sendo que, quando se confrontavam, não tinham o hábito de recuar. A ideia principal, ao que parecia, era fazer com que ambos se aniquilassem mesmo... E quase deu certo.

A lista de pessoas assassinadas naquela noite estava grande desde a última vez que tinha checado e do outro lado deveria estar do mesmo jeito. Muita gente ferida e morta, muitas que tinham simplesmente fugido e agora estavam desaparecidas... Nem todo mundo era tão leal assim quando o sangue começava a escorrer.

Clarissa virou-se novamente na cadeira, deixando o celular de lado um pouco, quando ouviu vozes conhecidas e passos ecoando pelo corredor. Respirou fundo algumas vezes, tentando se controlar para não desabar assim que Sebastian e Magnus passassem por aquela porta.

Ela precisava se lembrar de que poderia chorar, mas não naquela hora, não daquele jeito. O tempo para o coração partido viria, mas não naquele momento.

Estalou alguns ossos de seu pescoço, acomodando-se na cadeira e se preparando. A cabeleira castanha de Simon despontou primeiro, junto com os óculos, uma pequena sutura no supercílio deixava claro que não havia saído tão ileso assim, mas as roupas já estavam trocadas. Logo depois veio Sebastian, ainda sujo de sangue e com as mesmas roupas de combate, mas parecendo ileso, tirando a perda esquerda, que mancava um pouco.

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