Capítulo 15

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─ Com licença, Janaina? ─ Paulo parou na porta da sala da diretora do colégio, um pouco envergonhado ─ Posso entrar?

─ Claro que sim, Paulo, fique à vontade. ─ a mulher tirou os óculos e deixou o computador de lado, encarando o professor se sentando ─ No que posso ajudá-lo?

─ É bem difícil falar sobre isso. ─ ele riu, nervoso ─ Você sabe o quão grato eu sou por tudo o que você fez por mim. Me dando um cargo de substituto no meio do semestre, me colocando como professor mesmo sem experiência nenhuma.

─ Eu confiei na palavra do seu pai, Paulo, e nunca me arrependi. Sabe, existem poucas pessoas como você no mundo, que sabem ensinar. É como se você entendesse a alma dos seus alunos, e por mais bagunceiros que eles sejam, eles gostam das suas aulas, e principalmente da matemática. Por isso que, a cada ano, nós te damos mais salas. Os resultados dos alunos quando estão sob a sua tutela são excelentes, melhor do que de qualquer professor aqui. Você surpreendeu muito a todos. ─ ela elogiou, sorrindo. Paulo deu uma fungada, e Janaina riu ─ Você vai ser uma grande perda.

─ Como? ─ ele perguntou surpreso, e ela virou o computador. Ali, na tela, um artigo escrito por Valéria sobre o incêndio na Escola Mundial. E nas fotos tiradas pelas pessoas na rua, Paulo e Mário correndo direto para o incêndio.

─ Nenhum professor ou aluno dessa escola correria em direção à ela em um incêndio, para tentar salvá-la. E você e os seus amigos não hesitaram em momento algum antes de se jogar no meio das chamas para impedir que o incêndio se alastrasse.

─ Janaina, eu posso explicar...

─ Mas não precisa, Paulo, essa é a questão. Você não sabe, mas antes de fundar essa escola e me tornar diretora, eu fui professora na Mundial. Na época eu tinha meus vinte e poucos anos, havia acabado de me casar e me tornar mãe. Conheci a Olívia e depois a Helena. Me lembro de você, de relance, o grande encrenqueiro da escola. A famosa turma dos santos diabinhos, que havia mudado tanta coisa naquela escola. ─ ela indicou a foto no computador ─ E que mesmo uma década depois de se formar, ainda tentou salvar a Escola. E pelo texto que li da sua amiga Valéria, ainda querem salvar.

─ Eu não vou mentir para você, Janaina. Eu quero sim salvar a Escola Mundial. Eu e a Alicia. ─ concordou Paulo.

─ Sabe, eu não saí da Escola Mundial porque não gostava do lugar, Paulo. Eu tinha outra ideias, de coisas diferentes que poderiam ser feitas. Educação bilingue, aulas extracurriculares, uma educação que, por pior que seja dizer, é mais elitizada. A Escola Mundial tem um programa lindo de bolsas, e deu a chance para muitos alunos de baixa renda terem acesso a uma boa educação, como eu sei que foi o caso do seu cunhado. ─ o rapaz assentiu ─ Um lugar desse, Paulo, é um lugar que deve sim ser salvo, que merece sim continuar. Eu não sei o que você vai fazer daqui para a frente, se vai ser professor lá ou seguir por outro caminho... Eu só sei que, se eu te mantivesse aqui, nesse momento, enquanto você quer salvar o lugar que te fez quem é, o lugar em que você conheceu a Alicia... Eu estaria apagando a sua luz. E se tem algo que eu quero, mais do que tudo, é elevar a luz das pessoas. É criar nelas um sentimento como esse que você e os seus amigos tem, que faz com que vocês queiram salvar uma escola na qual estudaram há tanto tempo.

─ Obrigado. ─ foi só o que ele pôde dizer, apertando a mão dela ─ Eu vou terminar o semestre, e se precisar fico no começo do ano que vem, até você conseguir outro professor.

─ Nós vamos entrar na semana final de provas, Paulo, não há mais necessidade dos seus serviços. ─ ele arregalou os olhos ─ O Rogério, professor do Ensino Médio, vai aplicar e corrigir as provas das suas turmas.

─ Mas Janaina...

─ Mas nada, Paulo. ─ ela indicou o computador ─ Eu não sei o que vocês terão que fazer para salvar essa escola, mas eu sei que vai demandar esforço. Deus sabe, e eu também, o trabalho que erguer uma escola dá. Reerguer não deve ser mais fácil.

20 Anos Depois - A salvação da Escola MundialOnde histórias criam vida. Descubra agora