Capítulo 14

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Na manhã seguinte, o despertador tocou às 6h no apartamento de Paulo e Alicia. A morena apenas bateu e desligou o alarme, enquanto o marido jogava as cobertas longe e se levantava, correndo para o banheiro para jogar água no rosto e assim acordar.

─ Quer que eu acorde o Lucas? ─ perguntou Alicia, se espreguiçando.

─ Deixa ele dormir mais um pouco enquanto nós preparamos o café. Ontem foi um dia agitado, ele deve estar cansado. ─ o professor saiu do banheiro secando o rosto com a toalha, ainda sonolento ─ Queria poder dormir mais também.

─ Só mais algumas semanas, amor. E então, eu garanto que acordar de manhã vai deixar de ser um martírio. ─ ela se apoiou nos joelhos, o abraçando pelos ombros ─ Pega pão de queijo na padaria?

─ Pão de queijo, Ali?

─ É, eu to com muita vontade de comer. ─ ela deu de ombros, animada ─ Ah, aliás... Bom dia.

─ Bom dia, gata. ─ lhe deu um beijo rápido, vendo-a fazer careta ─ Bafo está bravo?

─ Com gosto de pizza de ontem.

─ Hum, tem pizza fria, não é? Vou ir pra padaria comendo um pedaço. ─ Paulo riu, indo apanhar as suas roupas.

─ Ai, Guerra, que nojo. ─ se horrorizou Alicia, vendo o marido colocar uma bermuda e uma camiseta e calçar os chinelos.

─ Odeio você na TPM, gata. Fica tão nojentinha. ─ ele riu, saindo do quarto. Alicia esperou ter certeza de que ele estava longe para correr para o banheiro e vomitar.

─ Ô merda. ─ resmungou a morena, deitando a cabeça na parede e suspirando.

~*~

Daniel acordou parecendo um zumbi. Quase não tinha fechado o olho durante a noite, ocupado em consolar Carmen durante suas crises de choro e cuidar de Leonardo, que teve febre. Levantou apenas para avisar que não iria trabalhar naquele dia, já que em determinado ponto levou o filho para dormir com ele e a esposa, e os dois se acalmaram. Mesmo assim, preferiu ficar em casa e cuidar deles, além de precisar ir à Escola mais tarde.

Na cozinha, apanhou um copo de suco e uma fatia de pão, faminto após a maratona noturna. Ficou escorado no balcão, observando o dia bonito que fazia fora da janela, contrastando com a dor que reinava dentro de sua casa.

Se sentiu angustiado e, automaticamente, encarou o bar da casa. O dito móvel havia sido um presente de casamento dos seus primos, e Carmen já havia ameaçado colocar fogo nele várias vezes, jogado todas as garrafas fora... Mas sempre que a família os visitava, os primos iam direto ao dito presente, do qual tinham tanto orgulho.

Para Daniel, aquele era o seu teste diário, seu desafio para se manter sóbrio. E em um dia como aquele, em que havia tido uma recaída e um baque tão grande, era como um chamado da sereia em seus ouvidos: poderia lhe dar um prazer momentâneo, mas sabia que o arrastaria para o fundo do mar.

Caminhou até o amontoado de garrafas e pegou um copo de cristal, enchendo de uísque e levando até o sofá. Depositou na mesinha de centro e ficou o encarando em silêncio, até ouvir passos na escada.

─ Dan? ─ Carmen encarou o marido, que por sua vez encarava o copo. Ela se aproximou devagar, vendo que o líquido estava intacto, sem uma única marca de boca no copo ─ Você sabe que não deveria ficar fazendo isso.

─ E você deveria estar de cama. ─ ele avisou, enquanto ela se sentava ao seu lado ─ Se eu não tivesse bebido no sábado, tudo seria diferente.

─ Do que você está falando?

─ Se eu não tivesse bebido ontem de manhã, você não teria se irritado. Nós teríamos ido ao parque com o Leo, vocês teriam me contado da gravidez e nós estaríamos bem longe da escola na hora do incêndio. Mas eu bebi, você se irritou, se machucou, nós fomos encontrar o Jaime por ser o meu padrinho no AA, e estávamos perto da escola na hora do incêndio. E tudo aquilo aconteceu. ─ ele explicou o seu pensamento, os olhos ainda cravados no copo ─ Tudo porque eu não consigo controlar o meu vício.

20 Anos Depois - A salvação da Escola MundialOnde histórias criam vida. Descubra agora